domingo, 29 de junho de 2008

Interpol




A foto explora o que é bom de ver. Mas nem de perto mostra a que ele veio. Na estrada há dez anos esse moço é dono de uma voz marcante que leva o som do Interpol aos ouvidos mais exigentes. Quem o ouve pela primeira vez é levado a crer que se trata de mais uma boa banda inglesa pela forte influência do The Cure, Smiths e Joy Division. Mas é de Nova Iorque que veio Paul Banks, como mostra a bela canção NYC.

Conheci o Interpol com a música No I in threesome (veja o clipe abaixo). A letra é impagável. Trata-se de um convite muito bem amparado em argumentos para se fazer amor a três. Mas primeiramente, fui capturada pela melodia. O tom sombrio das letras é concretizado nas imagens do clipe. Casas em ruínas, espelhos que refletem fantasmas, ar de abandono, ternos escuros e gestos contidos. O sombrio, o pessimismo é a tônica.

Não recomendo aos obsessivos compulsivos por rock de boa qualidade. Pode fazer mal à saúde. O meu vício atual pode passar a ser o seu.




Paula Dórica



A letra com tradução você curte aqui.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Decepção anunciada


Não resisti. Fui ver o tamanho do estrago de Fim dos Tempos, de M.Night Shyamalan. E que estrago! A princípio, depois de ler muitas críticas desfavoráveis, pensei que fosse assistir quando passasse em algum canal de televisão, naqueles dias em que tem pouca coisa melhor para fazer, pouca disposição para querer levantar do sofá.

É impressionante como a cada filme o Sr. Manoj Nelliattu Shyamalan nos decepciona. Analisando friamente, todos os seus filmes têm um argumento interessante, mas vários pecam por falta de eficiência, perdendo a mão antes do meio para o final. Apenas o primeiro, O Sexto Sentido, foi estrondosamente excepcional, do início ao fim (e que fim!). Havia o elemento surpresa. Neste último, não há surpresa, apenas incerteza. E decepção.

Logo que estreou seu segundo filme, Corpo Fechado, eu corri ao cinema. Não foi decepcionante (não deve ter sido para a maioria dos fãs de HQ), mas deixou um pouco a desejar. Nos outros filmes, muito a desejar. No entanto, não engrosso a fila da turma que abomina seus filmes. Como mencionei no início, são argumentos interessantes, mas os filmes, pela decepção, no contexto geral, não fazem falta, ninguém perde nada não assistindo. Neste último, o diretor não soube segurar o seu próprio roteiro. Infelizmente. Talvez este seja seu maior pecado.

Concordo com a crítica de cinema da revista Veja Isabela Boscov, quando afirma que o diretor deveria contar com colaboradores. Acredito que ele deveria ter deixado a direção deste filme aos cuidados de alguém mais tarimbado, que soubesse fugir dos furos do roteiro, sem as cenas desnecessárias, que sobram aos montes na película. Tinha tudo para ser um filme ambicioso – mas na mão certa.

Outra coisa que me impressionou foi o desperdício de dinheiro e de tempo na campanha de divulgação do filme. Desperdício por se tratar de um filme que nem deveria ter saído do papel. Bem... até que funcionou (alguma coisa tinha que funcionar, para o baque não ser maior – e olha que foi desastroso), pois, confesso, fiquei iludido ao ver o teaser e o trailer. Achei que seria um filme tenso, do início ao fim. Houve muita tensão nas cenas iniciais. Num parque várias pessoas perdem o senso de direção, outras andam para trás, outras dizem frases sem sentido, e do nada todas elas cometem suicídio das formas mais estranhas. Todos perdem o senso de auto-preservação. Nas imediações do parque, diversos operários de uma construção se jogam do edifício, um após o outro. Perturbador.

Em Fim dos Tempos tem muita coisa ruim. Os diálogos são péssimos, os personagens são superficiais, uma seqüência mais fraca que a outra, nem os atores colaboram. De bacana mesmo, além do argumento bem bolado (porém mal desenvolvido) é o rostinho lindo da Zooey Deschanel, que faz o papel da esposa do personagem de Mark Walhberg. Ele está pouco convincente na pele de Elliot, um professor de Ciências que passa por uma crise conjugal, enquanto a natureza decide realizar um ataque contra a humanidade. Até mesmo o bom John Leguizamo teve uma atuação fraca, exceto em algumas cenas em que seu personagem dá a entender para todo mundo que a mulher do melhor amigo dele (Walhberg) devia estar dando suas puladas de cerca por aí. Para se ter uma idéia dos diálogos ruins, numa cena dois garotos que estão fugindo com Elliott, que mal o conheciam, questionam o relacionamento dele com a esposa, assim, do nada!! É de doer. Ashlyn Sanchez, atriz que interpreta uma menina que perde seus pais, não convence nem por um segundo, nem por um frame. Deve ser a pior atriz mirim que existe no mercado. Aposto que muito espectador deve ter torcido para que sua personagem cometesse suicídio.

E a explicação para a sucessão de suicídios? A culpa seria das plantas, das árvores, que soltam uma substância tóxica no ambiente, e do vento (ou brisa), encarregado de atingir os humanos com a tal substância fatídica. O motivo? Especulou-se que a culpa é do descaso do ser humano com o meio ambiente. A todo momento os canais detelevisão apresentam noticiários sobre a tragédia. Muito cansativo - de uma falta de criatividade enorme! Shyamalan tinha tudo para narrar de outra forma, que não banalizasse tanto!

Já quase no fim do filme, para piorar ainda mais o roteiro, aparece uma velha louca. Totalmente gratuito. Só serviu pra desviar a atenção, ficou parecendo que eu estava vendo outro filme, de terror (ou de"terrir"). Teve gente que pensou que a velha, com cara de bruxa malvada, era a culpada de tudo. Se a idéia era deixar o filme mais macabro, conseguiu. Macabro e repugnante. Repugnante de raiva.

Apesar de tudo, não coloco em dúvida o talento de Shyamalan. Mesmo assim, nunca concordei que ele fosse comparado ao mestre do suspense Alfred Hitchcock. Isso é totalmente injusto com o velhinho. Ainda mais quando a gente lembra que ele narrava, envolvia, dialogava com o espectador, abusando das imagens, utilizando esse recurso para resolver todas as situações, desfazendo o emaranhado que teceu ao longo do filme. Em todos os seus grandes filmes. Coisa que Shyamalan só fez em seu primeiro. Não que isso seja condição para que seja devidamente reconhecido, mas está na hora de ele ao menos tentar voltar ao posto de um dos melhores diretores da atualidade. Ganha ele, ganha quem mais merece, o espectador. Principalmente quem apostou suas fichas nele, como o doido aqui.

Minha salvação vai ser passar na locadora. E já sei o que vou pegar. Depois eu conto.

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Recomeço

Ai que saudades!
Da pureza de outrora
Da face rubra
Do tremor nas mãos
Do suor incontido.

Ai que delícia!
Amar
Sentir saudades
Sonhar com ele
Sofrer por ele
Escrever pra ele.

A vida passa
A paixão cessa
A indiferença se instala
E agora?
Agora?
Recomeçar
Simplesmente recomeçar.

Kátia Martins


segunda-feira, 16 de junho de 2008

Síndrome do pânico


Idéias desembestadas, tropa sem controle,

ovelha sem pastor;
Criatório de moscas, amontoado de lixo,
excremento sem valor;
Fuga da coragem, leão de gelatina,
chuchu incolor;
Olhos arregalados, suor gelado,
medo, pavor;
Drama de minuto, sensação de eternidade,
forte calor;
Nem um minuto a mais, já é tarde.
O que se passou?


Paula Dórica

[Mais uma fantástica colaboração da Paula. Já tem cadeira cativa por aqui! rs]

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Teu

Tua língua, meu desalinho
Teus olhos, minha prece
Tuas mãos, meu chamado
Teus cabelos, minha saudade
Teu andar, meu descompasso
Teu sussurro, minha dor
Tua pele, meu suor
Teu cheiro, minha entrega
Teu calor, meu arrepio
Teu tato, minha certeza

Tuas palavras, meu domínio
Teu olhar, minha espera
Teu gemido, meu prazer
Tua espera, minha pressa

Teu sexo, meu nexo
Teu líquido, meu desejo

Tua boca, minha boca

Teu amor, meu amor



Márcio Luiz Soares

terça-feira, 10 de junho de 2008

Amor, tempo e paciência


De manhã, é tudo silêncio. Mas soa o tilintar dos bujões de gás passantes, o pregão do vendedor de água e as frases bem humoradas do papagaio que amanhece contemplando a rua. Uma brisa leve, calmante, varre os papéis e levanta as cortinas. A rua ainda preguiçosa treme na passagem do caminhão e do ônibus que balança o lustre e embala nossa sonolência.

A hora acorda e se espreguiça. Vem com ela a mensagem de uma urgência pálida e sem certezas. Duas camisas jazem sobre o acento da poltrona. A poeira, deitada, não tem pressa. Livros sobrepostos, aglomerados, esperam.

Soa o grasnar de uma águia que passa altiva sobre os quintais e reflete o sol na penugem branca que lhe cobre o peito. Mais abaixo, o sabiá não diz uma palavra. As toalhas vão na cadência do varal e servem de acento às rolinhas. Nos vasos de flores, as onze horas ainda sonham. Fechadas em si mesmas ainda imaginam a cor do céu. Estão embaladas ingenuamente num mundo amarelo acolhedor.

Vem da cozinha, num instante, o zunido da geladeira. Um carro passa, uma criança grita e outras a seguem numa risadaria que vai sumindo aos poucos. A geladeira se silencia novamente. Desligada, a televisão jaz sobre a estante e se transforma num espelho. Ela faz companhia aos mudos CD´s empilhados. O chiado da vassoura de uma gari rompe o silêncio da rua acompanhado pelos passos do senhor idoso, lento e distraído.

A manhã de olhos ainda vermelhos acorda e me surpreende. Ela está viva em sua maresia bocejante e me faz olhar para o resto do dia como se ele fosse um corredor. Um corredor longo e vazio.


Paula Dórica

segunda-feira, 9 de junho de 2008

História das Relações Públicas

Uma dica muito interessante para quem quer conhecer sobre Relações Públicas. A informação (que reproduzo na íntegra) veio diretamente do boletim informativo do portal Mundo RP, do meu colega Rodrigo Cogo.
Além de acessar o link da matéria abaixo, visite o portal (www.mundorp.com.br), certamente tem algo que interessa aos profissionais de diversas áreas, principalmente aos alunos e graduados em comunicação social. Não deixe de conferir.

"A Editora da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul publicou digitalmente a obra "História das Relações Públicas - fragmentos da memória de uma área", com mais de 40 textos caracterizados como Comunicações Científicas, Memórias de Experiências e Depoimentos de Especialistas, sendo resultante dos cinco encontros do GT Relações Públicas ocorridos de 2004 a 2008 dentro das edições do Encontro Nacional de História da Mídia, promovido pela Rede de Pesquisadores de Memória da Imprensa e a Construção da História da Mídia no Brasil (Rede Alfredo de Carvalho).

A coletânea está dividida em três partes: Parte I: Reflexões e Ações de Relações Públicas; Parte II: Ensino e Formação em Relações Públicas; Parte III: Fórum de Professores de Relações Públicas, com prefácio foi escrito por José Marques de Melo, presidente-fundador da REDE ALCAR. A publicação é de acesso livre e encontra-se no endereço:
www.pucrs.br/edipucrs/historiarp.pdf.

O e-book está disponibilizado desde o VI Encontro Nacional de História da Mídia, que ocorreu na Universidade Federal Fluminense (UFF), localizada em Niterói/RJ, no período de 13 a 16 de maio de 2008, comemorativo aos 200 anos de imprensa no Brasil. O GT História das Relações Públicas participou das comemorações e apresentou a produção acadêmica originária de seus encontros, contribuindo para o campo científico e profissional. A relevância da obra está em registrar a história e a memória de Relações Públicas, podendo ser uma fonte de pesquisa para a formação na área."

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Volta a teus deuses profundos


Volta a teus deuses profundos;
estão intactos,
estão ao fundo com suas chamas esperando;
nenhum sopro do tempo as apaga.
Os silenciosos deuses práticos
ocultos na porosidade das coisas.
Hás rodado no mundo mais que nenhum calhau;
perdeste teu nome, tua cidade,
assíduo a visões fragmentarias;
de tantas horas que reténs?
A música de ser é destoante
porém a vida continua
e certos acordes prevalecem.
A terra é redonda por desejo
de tanto gravitar;
a terra arredondará todas as coisas
cada uma a seu término.
De tantas viagens pelo mar
de tantas noites ao pé de tua lâmpada,
só estas vozes te circundam;
decifra nelas o eco de teus deuses;
estão intactos,
estão cruzando mudos com seus olhos de peixes
ao fundo de teu sangue.

Eugenio Montejo
(1938-2008)

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Amizade


É amigo da Net
Outro astral,
Amigo presente.
Confidente,
Muito inteligente.
E gente!

Sue Nery

[Valeu Paula, valeu Sue. Gostei muito]

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Sonho


Sonho. Não sei quem sou neste momento.
Durmo sentindo-me. Na hora calma
Meu pensamento esquece o pensamento,
Minha alma não tem alma.
Se existo é um erro eu o saber. Se acordo

Parece que erro. Sinto que não sei.
Nada quero nem tenho nem recordo.
Não tenho ser nem lei.
Lapso da consciência entre ilusões,

Fantasmas me limitam e me contêm.
Dorme insciente de alheios corações,
Coração de ninguém.

Fernando Pessoa