Não resisti. Fui ver o tamanho do estrago de Fim dos Tempos, de M.Night Shyamalan. E que estrago! A princípio, depois de ler muitas críticas desfavoráveis, pensei que fosse assistir quando passasse em algum canal de televisão, naqueles dias em que tem pouca coisa melhor para fazer, pouca disposição para querer levantar do sofá.
É impressionante como a cada filme o Sr. Manoj Nelliattu Shyamalan nos decepciona. Analisando friamente, todos os seus filmes têm um argumento interessante, mas vários pecam por falta de eficiência, perdendo a mão antes do meio para o final. Apenas o primeiro, O Sexto Sentido, foi estrondosamente excepcional, do início ao fim (e que fim!). Havia o elemento surpresa. Neste último, não há surpresa, apenas incerteza. E decepção.
Logo que estreou seu segundo filme, Corpo Fechado, eu corri ao cinema. Não foi decepcionante (não deve ter sido para a maioria dos fãs de HQ), mas deixou um pouco a desejar. Nos outros filmes, muito a desejar. No entanto, não engrosso a fila da turma que abomina seus filmes. Como mencionei no início, são argumentos interessantes, mas os filmes, pela decepção, no contexto geral, não fazem falta, ninguém perde nada não assistindo. Neste último, o diretor não soube segurar o seu próprio roteiro. Infelizmente. Talvez este seja seu maior pecado.
Concordo com a crítica de cinema da revista Veja Isabela Boscov, quando afirma que o diretor deveria contar com colaboradores. Acredito que ele deveria ter deixado a direção deste filme aos cuidados de alguém mais tarimbado, que soubesse fugir dos furos do roteiro, sem as cenas desnecessárias, que sobram aos montes na película. Tinha tudo para ser um filme ambicioso – mas na mão certa.
Outra coisa que me impressionou foi o desperdício de dinheiro e de tempo na campanha de divulgação do filme. Desperdício por se tratar de um filme que nem deveria ter saído do papel. Bem... até que funcionou (alguma coisa tinha que funcionar, para o baque não ser maior – e olha que foi desastroso), pois, confesso, fiquei iludido ao ver o teaser e o trailer. Achei que seria um filme tenso, do início ao fim. Houve muita tensão nas cenas iniciais. Num parque várias pessoas perdem o senso de direção, outras andam para trás, outras dizem frases sem sentido, e do nada todas elas cometem suicídio das formas mais estranhas. Todos perdem o senso de auto-preservação. Nas imediações do parque, diversos operários de uma construção se jogam do edifício, um após o outro. Perturbador.
Em Fim dos Tempos tem muita coisa ruim. Os diálogos são péssimos, os personagens são superficiais, uma seqüência mais fraca que a outra, nem os atores colaboram. De bacana mesmo, além do argumento bem bolado (porém mal desenvolvido) é o rostinho lindo da Zooey Deschanel, que faz o papel da esposa do personagem de Mark Walhberg. Ele está pouco convincente na pele de Elliot, um professor de Ciências que passa por uma crise conjugal, enquanto a natureza decide realizar um ataque contra a humanidade. Até mesmo o bom John Leguizamo teve uma atuação fraca, exceto em algumas cenas em que seu personagem dá a entender para todo mundo que a mulher do melhor amigo dele (Walhberg) devia estar dando suas puladas de cerca por aí. Para se ter uma idéia dos diálogos ruins, numa cena dois garotos que estão fugindo com Elliott, que mal o conheciam, questionam o relacionamento dele com a esposa, assim, do nada!! É de doer. Ashlyn Sanchez, atriz que interpreta uma menina que perde seus pais, não convence nem por um segundo, nem por um frame. Deve ser a pior atriz mirim que existe no mercado. Aposto que muito espectador deve ter torcido para que sua personagem cometesse suicídio.
E a explicação para a sucessão de suicídios? A culpa seria das plantas, das árvores, que soltam uma substância tóxica no ambiente, e do vento (ou brisa), encarregado de atingir os humanos com a tal substância fatídica. O motivo? Especulou-se que a culpa é do descaso do ser humano com o meio ambiente. A todo momento os canais detelevisão apresentam noticiários sobre a tragédia. Muito cansativo - de uma falta de criatividade enorme! Shyamalan tinha tudo para narrar de outra forma, que não banalizasse tanto!
Já quase no fim do filme, para piorar ainda mais o roteiro, aparece uma velha louca. Totalmente gratuito. Só serviu pra desviar a atenção, ficou parecendo que eu estava vendo outro filme, de terror (ou de"terrir"). Teve gente que pensou que a velha, com cara de bruxa malvada, era a culpada de tudo. Se a idéia era deixar o filme mais macabro, conseguiu. Macabro e repugnante. Repugnante de raiva.
Apesar de tudo, não coloco em dúvida o talento de Shyamalan. Mesmo assim, nunca concordei que ele fosse comparado ao mestre do suspense Alfred Hitchcock. Isso é totalmente injusto com o velhinho. Ainda mais quando a gente lembra que ele narrava, envolvia, dialogava com o espectador, abusando das imagens, utilizando esse recurso para resolver todas as situações, desfazendo o emaranhado que teceu ao longo do filme. Em todos os seus grandes filmes. Coisa que Shyamalan só fez em seu primeiro. Não que isso seja condição para que seja devidamente reconhecido, mas está na hora de ele ao menos tentar voltar ao posto de um dos melhores diretores da atualidade. Ganha ele, ganha quem mais merece, o espectador. Principalmente quem apostou suas fichas nele, como o doido aqui.
Minha salvação vai ser passar na locadora. E já sei o que vou pegar. Depois eu conto.