Eu sempre me achei bonitinha. Assim mesmo, no diminutivo. Na adolescência queria encantar meninos e meninas. Encantava os meninos para ganhar uns beijinhos, uns "amassos". Sempre gostei de beijar. As meninas eu nunca consegui encantar devidamente. Não como eu gostaria. Tinha poucas amigas. Amigas de verdade. Coleguinhas não valiam. Sei que algumas se aproximavam de mim porque sempre havia meninos por perto. Sempre sobravam coisas boas para elas. Não que eu dispensasse. Nem era preciso. Surgiam em bandos. Quem eu queria que fosse minha amiga, tomava distância. O tempo me mostrou o motivo. Um determinado jeitinho vulgar que demorei abandonar. As amizades artificiais foi o que me sobrou. Aproveitei como pude. Sem nulidades.
Cresci muito rápido. O corpo superou a inteligência. Os desejos muito mais. Os diversos pares de pernas na areia jogando futebol colaboraram. O par menos atraente sempre ficava por perto. Jorge. Gostava de ver como ele desviava o olhar quando eu o flagrava. Era divertido. Tanto quanto me fazer de bobinha. Ele era muito mais. Nunca percebeu que eu seria fácil. Seu amiguinho, Laerte, sempre foi mais audacioso. Fingia que não notava meus olhares. Numa festa de aniversário de Jorge, deixou de fingir durante um tempo. O tempo de uma brincadeira, um jogo. Foi o suficiente para eu perceber que ele queria tudo. De todos. Para si. Foi o que mais me atraiu. Ambição e obstinação num homem me atraem. Razão do meu fracasso.
Laerte me teve o tanto que quis. Na adolescência foi menos. Quanto mais amadurecia, mais me dominava. Mais eu fracassava. Sem ter consciência disso. Hoje tenho de sobra. Consciência. Fracassos se foram. Desilusões não. Minha eterna sina. Talvez.
A primeira veio de Laerte. Depois de muita farra, alegria, choro e um filho. Outros mais viriam. Seguidos de muita farra, alegria e choro. Fracassos também. Razões da minha solidão.
Por isso os fracassos se foram. Com eles a vulgaridade. Os desejos diminuíram. Teria sido melhor se eles não tivessem sido tantos. Se tivessem sido maiores que as ilusões. Ou se os desejos fossem outros. Havendo mais sonhos. Hoje vejo que meu sucesso foi não ter arrependimentos.
Um dia terei mais sonhos. A vida me mostrou isso. Ambições. Não como os de Laerte. Ele não aparece. Apenas seu dinheiro. Jorge instrui meus filhos no surf. Mas ele não me vê. Está preocupado demais em fazer o que julga ser correto.