Primo Altamirando jamais se comoveu com o Dia das Mães e foi, inclusive, o autor intelectual do Dia da Outra, que andou propondo à Associação Comercial, inspiradora de todos os “Dias”, para exaltar o chamado concubinato, isto é, no dia da Outra dava-se presente à amante. Dizem que a Associação Comercial achou a idéia excelente, pois “a outra” sempre ganha os melhores presentes, mas não teve peito para patrocinar a coisa.
Homem de uma frieza impressionante, o abominável parente nunca se comoveu com a mãe (lá dele), quanto mais com essa mãe comercial exaltada na base do jingle e dos cartazes de tapume. Daí – como eu dizia – ele nunca ter dado bola para essas coisas.
No Dia dos Namorados, porém, Rosamundo amanheceu disposto a aderir. Acordou cedo e foi comprar o presente bem bacana para aquela cujo dia se comemorava. Andou de loja em loja e – por não ser homem de esconder suas más intenções (em certos casos, bem entendido) – acabou escolhendo um conjuntinho de lingerie que era uma graça.
Voltou para casa com o embrulho debaixo do braço e tão entusiasmado com o presente que comprara, que chegou a propor à copeira experimentar as pecinhas, “para ver como ficava”, tendo a citada doméstica pedido suas contas, “por não ser dessas coisas”.
À tardinha, depois de trer passado o dia inteiro falando do Dia dos Namorados, Rosamundo tomou um banho legal, meteu seu terno mais novo e recendendo água-de-colônia, partiu para casa de sua namorada, disposto a cumprir o ritual proposto pelos anúncios dos jornais, do rádio e da televisão.
Mais tarde ele me contou:
- Cheguei lá com toda a dignidade, com o embrulho na mão, embrulhinho que eu mesmo fiz, com fitinha vermelha e tudo. Toquei a campainha e esperei que minha namorada viesse abrir a porta. Pois não demorou muito, a porta abriu e aquele calhorda apareceu de meteu uma bolacha tão violenta que eu caí pra trás. Tai no que dá eu me meter a burguês: não dei o presente a ela e ainda ganhei uma sarrafada.
- Mas quem lhe deu o tapa? – perguntei. – Foi o pai da sua namorada?
- Não. O marido.
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)
Homem de uma frieza impressionante, o abominável parente nunca se comoveu com a mãe (lá dele), quanto mais com essa mãe comercial exaltada na base do jingle e dos cartazes de tapume. Daí – como eu dizia – ele nunca ter dado bola para essas coisas.
No Dia dos Namorados, porém, Rosamundo amanheceu disposto a aderir. Acordou cedo e foi comprar o presente bem bacana para aquela cujo dia se comemorava. Andou de loja em loja e – por não ser homem de esconder suas más intenções (em certos casos, bem entendido) – acabou escolhendo um conjuntinho de lingerie que era uma graça.
Voltou para casa com o embrulho debaixo do braço e tão entusiasmado com o presente que comprara, que chegou a propor à copeira experimentar as pecinhas, “para ver como ficava”, tendo a citada doméstica pedido suas contas, “por não ser dessas coisas”.
À tardinha, depois de trer passado o dia inteiro falando do Dia dos Namorados, Rosamundo tomou um banho legal, meteu seu terno mais novo e recendendo água-de-colônia, partiu para casa de sua namorada, disposto a cumprir o ritual proposto pelos anúncios dos jornais, do rádio e da televisão.
Mais tarde ele me contou:
- Cheguei lá com toda a dignidade, com o embrulho na mão, embrulhinho que eu mesmo fiz, com fitinha vermelha e tudo. Toquei a campainha e esperei que minha namorada viesse abrir a porta. Pois não demorou muito, a porta abriu e aquele calhorda apareceu de meteu uma bolacha tão violenta que eu caí pra trás. Tai no que dá eu me meter a burguês: não dei o presente a ela e ainda ganhei uma sarrafada.
- Mas quem lhe deu o tapa? – perguntei. – Foi o pai da sua namorada?
- Não. O marido.
Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)