domingo, 25 de julho de 2010

Parabéns aos nossos queridos velhinhos





Recentemente, descobri que no mês de julho é comemorado o Dia da Avó, no dia 26, e no dia seguinte, o Dia dos Avós (casal). Aliás, é um erro estes dias não serem tão lembrados e celebrados como deveriam, diferentemente do que acontece com os tão badalados Dia das Mães e Dia dos Pais. Estou feliz em saber que existe um dia mais específico para comemorar e honrar esses velhinhos – se bem que muitos são avós bem antes de tornarem velhos. Tenho muito respeito e carinho pela minha avó. Ela me ensinou muito no decorrer da minha vida. Como todos os idosos, ela carrega uma boa tonelada de sabedoria e experiência.

Pena que nem todo mundo pode dar aquele abraço gostoso na vovó ou no vovô, especialmente no dia deles, ou porque eles moram longe, ou porque já se foram.

Mas não deixa de ser uma oportunidade para refletir sobre a importância da avó, ou mesmo do avô, na família e na sociedade. Claro que é muito legal comemorar, festejar, mostrar carinho, porém, é importante pensar com seriedade sobre a sua relevância na família e na sociedade.

Considerando que a maioria dos pais e mães trabalha fora de casa, muitos netos ficam sob a responsabilidade das avós, auxiliando, inclusive, na educação, além de transmitir sua sabedoria e experiência em diversos assuntos. A avó desempenha um papel cada vez mais importante nesse mundo tão atribulado atualmente – transmitindo amor, bondade, respeito pelo ser humano, simplicidade, humildade e o desapego das coisas materiais (só pra citar alguns exemplos) – colaborando efetivamente na formação do caráter de seus descendentes.

E o convívio com os netos traz muita alegria para as vovós. A presença dos netos anima, ocasionando mais vontade de viver. A grande alegria de uma mulher idosa é poder ser avó. Um sentimento muito valorizado no íntimo de cada mulher.

Que bom seria se toda família tivesse condições de amparar seus idosos, mesmo que eles prefiram ficar num asilo, com a justificativa de “não querer incomodar” ou por desejarem um pouco mais de privacidade. Distante de um lar apropriado, de um ambiente que se sinta totalmente confortável, que seja favorável aos seus anseios, o idoso se sente abandonado, desprezado e solitário, entristecendo-se amarguradamente a cada dia. Se os idosos não têm como morar com seus familiares, ao menos devem sempre receber visitas e serem convidados com frequencia para passarem um tempo com a família. Este sempre será um assunto complicado e uma situação assim é muito difícil de lidar.

Enfim, se você tem ou não sua avó ou avô, se seus pais já são avós, se os seus vizinhos já são avós, se a aquela senhora que te cumprimenta sempre que te vê na rua é vovó, parabenize-os pelo seu dia. E pelo simples fato de serem idosos, seja sempre amável, gentil e receptivo com eles todos os dias. Faça com que eles se sintam valorizados, que sintam que esse mundo não é totalmente injusto, que a maioria das pessoas não é insensível. Puxe conversa, sorria, dê um abraço. Certamente você estará fazendo o dia deles muito melhor.

E o seu também.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

A velha rabugenta





Que veem amigas? Que veem? Que pensam quando me olham? Uma velha rabugenta, não muito inteligente, de hábitos incertos, com seus olhos sonhadores fixos ao longe?

A velha que cospe comida, que não responde ao tentar ser convencida “de fazer um pequeno esforço”? A velha que vocês acreditam que não se dá conta das coisas que vocês fazem e que continuamente perde a sua escova ou o sapato? A velha, que, contra sua vontade, humildemente lhes permite fazer o que queiram, que me banhem e me alimentem só para o dia passar mais depressa.

É isso que vocês acham? É isso que vocês veem? Se assim for, abram os olhos, amigas, porque isso que vocês veem não sou eu! Vou lhes dizer quem sou, quando estou sentada aqui, tão tranquila como me ordenaram… Sou uma menina de 10 anos, que tem pai e mãe, irmãos e irmãs que se amam. Sou uma jovenzinha de 16 anos. Com asas nos pés, e que sonha encontrar seu amado. Sou uma noiva aos 20, que o coração salta nas lembranças. Quando fiz a promessa que me uniu até o fim de meus dias com o amor de minha vida. Sou ainda uma moça com 30 anos, que tem seus filhos, que precisam que eu os guie. Tenho um lugar seguro e feliz! Sou a mulher com 40 anos, com os filhos que crescem rápido, e estamos unidos com laços que deveriam durar para sempre. Quando tenho 50 anos meus filhos já cresceram e não estão em casa.

Mas ao meu lado está meu marido, que me acalenta quando estou triste. Aos 60, mais uma vez comigo deixam os bebês, meus netos, e de novo tenho a alegria das crianças, meus entes queridos junto a mim.

Aos 70 anos, sobre mim nuvens escuras aparecem, meu marido está morto; e quando olho meu futuro me arrepio toda de terror. Os meus filhos se foram, e agora têm os seus próprios filhos.

Então penso em tudo o que aconteceu e no amor que conheci. Agora sou uma velha.

Que cruel é a natureza... A velhice é uma piada que transforma um ser humano em um alienado. O corpo murcha, os atrativos e a força desaparecem. Ali, onde uma vez teve um coração, agora há uma pedra.

No entanto, nestas ruínas, a menina de 16 anos ainda está viva, e o meu coração cansado ainda está repleto de sentimentos vivos e conhecidos. Recordo os dias felizes e tristes em meus pensamentos. Volto a amar e a viver o meu passado. Penso em todos esses anos que foram, ao mesmo tempo poucos, mas que passaram muito rápido, e aceito o inevitável. Que nada pode durar para sempre.

Por isso, abram seus olhos e vejam: diante de vocês não está uma velha mal-humorada. Diante de vocês estou apenas eu, uma menina, mulher e senhora, viva.

E com todos os sentimentos de uma vida.


(autoria desconhecida)

* * *

Às vezes é difícil compreendermos a forma como os idosos veem as coisas. Talvez essa rispidez toda aparece por sentirem medo do amanhã, pela própria solidão ou simplesmente por saudades de um tempo que não volta mais. Muitos idosos são ignorados ou esquecidos - é tão triste!

Ao se deparar com uma pessoa idosa mal-humorada, não a rejeite, procure entender o motivo de tanto mau humor, e tente fazer com que ela mude por meio de algum gesto seu, com um olhar de compreensão ou algo assim. É preciso tão pouco de nós, mas significa muito para quem precisa de amabilidade. E lembre-se: um dia você poderá estar no lugar dela.

* * *
Ilustração: Old woman with cane, de Asuman e Atanur Dogan