“A estrada da vida pode ser longa e áspera. Faça-a mais suave, caminhando e cantando com as mãos cheias de sementes.”
Cora Coralina
Para muitas pessoas a comida serve para aliviar a dor emocional.
Você já ouviu aquela conhecida música dos Titãs?: “Você tem sede de quê? / Você tem fome de quê? / (...) A gente não quer só comer / A gente quer comer e quer fazer amor / A gente não quer só comer / A gente quer prazer pra aliviar a dor”. Realmente muitas vezes o que se esconde por trás de uma compulsão alimentar e de uma sensação de fome constante, não é apenas um alerta de que o nosso estômago está vazio.
Como diz a música, para a maioria das pessoas a comida serve para aliviar a dor emocional, aplacar a carência, descontar a raiva do trânsito, dos pais, do marido, da namorada e etc. Quantas vezes você já se pegou literalmente comendo os seus problemas? Daí como consequência, vêm o excesso de peso e a queda da auto-estima, que também nos leva a comer mais e entrar em um círculo vicioso de comida, problema, aumento de peso, queda de auto-estima, comida, excesso de peso, maior queda de auto-estima e assim por diante.
No fundo, não somos totalmente culpados por esses hábitos, pois quando pequenos nossas mães e tias (e aqui vai um alerta para quem tem filhos pequenos) resolviam todos os nossos problemas, medos, dores físicas e choros noturnos com um chazinho bem doce, uma sopinha, um mingau de aveia ou um pedacinho de bolo, e sem perceber nos estimulavam a associar a comida, o sabor doce e o ato de mastigar como solução às nossas carências, como forma de afeto e consolo.
Devido a esse condicionamento, para algumas pessoas é praticamente impossível cortar o doce da dieta ou não comer diante das adversidades da vida. Como forma de aliviar o vazio interno, algumas pessoas por mais que comam, ainda sentem o estômago com um buraco e não conseguem se saciar. Mas é importante você começar a diferenciar a fome da vontade de comer e identificar quando o vazio não é no estômago e sim nas emoções, e até na alma.
Tenho consciência de que essa tarefa não é fácil, principalmente com o passar dos anos e com o gradual acúmulo de mágoas e frustrações que carregamos. No entanto, há outros hábitos e técnicas mais saudáveis de compensar a sua carência, como, por exemplo, caminhadas, meditação (como forma de relaxamento), boxe (imagine como você estivesse lutando com quem te magoou), corrida (para deixar os problemas para trás) e massagem (para aliviar a carência).
Portanto, da próxima vez que você sentir vontade de atacar um pudim de madrugada, ou terminar de almoçar e ainda continuar com a sensação de estômago vazio, pergunte-se: Você tem fome de quê?
Milena Lhano
Terapeuta floral, grafóloga e iridóloga
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Imagem: cena do filme Comer, rezar, amar, de Ryan Murphy.
Por diversas vezes, durante a leitura de algum livro ou logo após terminá-lo, fico matutando sobre algumas coisas que tenha sido abordado pelo autor. Isso acontece também depois de assistir alguns filmes ou após uma conversa descontraída com amigos. E foi justamente numa conversa que tive há alguns dias com Esdras Reginato, meu colega de trabalho, que, além de me fazer refletir sobre algo que nunca tinha dado a devida atenção, me fez lembrar de um texto da Martha Medeiros, o qual disponibilizei na postagem anterior. A conversa foi sobre o filme P.S. Eu te Amo. Quando ele me contou que deixou cair algumas lágrimas assistindo ao filme junto com a sua namorada, me toquei no quanto é benéfico se deixar levar por essa emoção arrebatadora, capaz de deixar a gente bem vulnerável e que nem sempre manda recado: o choro.
Os motivos são diversos e a grande maioria vem acompanhada de grande e irremediável tristeza, angústia ou dor. E quando a dor não é física parece que nunca vai acabar.
Apesar de muitas pessoas considerarem o choro como uma emoção negativa, estas mesmas pessoas não podem negar que chorar faz bem. Os sentimentos e a intensidade da dor física ou mental que levam ao choro podem variar de pessoa para pessoa e algumas se esforçam para não deixar isso transparecer, com medo de mostrar fragilidade. Ledo engano.
É interessante como o choro também é um meio de comunicação. É a primeira emoção com que uma criança é introduzida no mundo. Os bebês, antes de falar, choram. É a única maneira de expressar que estão sentindo dor, fome, medo e até mesmo frustração. E essa forma de comunicação dura a vida toda.
Diferentes línguas podem criar obstáculos para a comunicação, mas as emoções são universais. Há também as razões culturalmente aceitáveis para chorar que unem as pessoas, tal como em funerais, em casamentos ou em tragédias. O ser humano chora ao se relacionar com qualquer outro ser. Quem já não chorou ao perder um animalzinho de estimação?
Chorar é a melhor maneira de dar vazão a todas as emoções, seja sob a forma de frustração, raiva ou felicidade. A explosão desencadeia emoções negativas e positivas. Expressando a tristeza pedimos indiretamente o apoio e conforto de nossos pares. E dificilmente não somos atendidos.
O choro também faz bem para a saúde. É considerado como a melhor maneira de reduzir e gerenciar o nível de estresse, desanuviando a tensão mental e diminuindo a pressão arterial. É melhor até para limpar os olhos. A poeira e a sujeira que se instala e fica depositado no olho é removida pela lágrima.
Chorar ajuda a esquecer e amenizar a gravidade de algum evento ruim. Colocamos pra fora os mais profundos sentimentos enraizados. As pessoas reconhecem que se sentem menos onerosas depois de chorar. Principalmente depois que transmitimos nosso amor para com as pessoas que amamos e prezamos.
Chorar faz realmente muito bem. Mesmo quando a gente se depara numa situação limite, nos derrubando, fazendo a gente perceber que estamos mergulhados num turbilhão de sentimentos que estão fragilmente encobertos pela couraça da falsa quietude. Nisso, surge a melancolia. É exatamente nestes momentos que compreendemos o que realmente acontece dentro de nós. Por isso, muitos escritores admitem que a melancolia é um gerador de inspiração.
Deixar escorrer algumas lágrimas durante um filme sentimental não significa que você é uma pessoa exageradamente sensível. Na verdade, significa que você está se comportando como um ser humano perfeitamente normal, que sabe se entregar aos seus mais profundos sentimentos. Que vive. Que é humano.
Encerro com uma frase anônima que recebi por intermédio da minha amiga Ana Luisa Pontes, ao comentar sobre este assunto, a qual sintetiza bem isso tudo: “Quem não se permite sentir a tristeza quando está triste, também não se permite ser feliz quando tem que ser”.
Márcio Luiz Soares
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Imagem: Sorrow longing tears, de Westia.
Comecei a ficar mais atenta às verdadeiras razões dos meus choros, que, aliás, costumam ser raros. Já aconteceu de eu quase chorar por ter tropeçado na rua, por uma coisa à-toa. É que, dependendo da dor que você traz dentro, dá mesmo vontade de aproveitar a ocasião para sentar no fio da calçada e chorar como se tivéssemos sofrido uma fratura exposta.
Qualquer coisa pode servir de motivo. Chorar porque fomos multados, porque a empregada não veio, porque o zíper arrebentou bem na hora de sairmos pra festa. Que festa, cara-pálida? Por dentro, estamos em pleno velório de nós mesmos, chorando nossa miséria existencial, isso sim. Não pretendo soar melodramática, mas é que tem dias em que a gente inventa de se investigar, de lembrar dos sonhos da adolescência, de questionar nossas escolhas, e descobre que muita coisa deu certo, e outras não. Resolve pesar na balança o que foi privilegiado e o que foi descartado, e sente saudades do que descartou.
Normal, normalíssimo. São aqueles momentos em que estamos nublados, um pouco mais sensíveis do que gostaríamos, constatando a passagem do tempo. Então a gente se pergunta: o que é que estou fazendo da minha vida? Vá que tudo isso passe pela sua cabeça enquanto você está trabalhando no computador. De repente, a conexão cai, e em vez de desabafar com um simples palavrão, você faz o quê? Cai no berreiro. Evidente.
Eu sorrio muito mais do que choro, razões não me faltam para ser alegre, mas chorar faz bem, dizem. Eu não gosto. Meu rosto fica inchado e o alívio prometido não vem. Em público, então, sinto a maior vergonha, é como se estivesse sendo pega em flagrante delito. O delito de estar emocionada. Mas emocionar-se não é uma felicidade? Neste admirável mundo de contradições em que a gente vive, podemos até não gostar de chorar, mas trata-se apenas da nossa humanidade se manifestando: a conexão do computador, às vezes, cai; por outro lado, a conexão conosco mesmo, às vezes, se dá.
Sendo assim, sou obrigada a reconhecer: chorar faz bem, não importa o álibi. É sempre a dor do crescimento.
Martha Medeiros
Extraído do seu livro Coisas da Vida
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Imagem: I saw you cry, de alineblood [Deviantart]