Ilustração: Dalcio Machado (Jornal Correio Popular, Campinas, em 28.02.2012)
terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012
Recomeço
Quando ainda se escreviam
crônicas de carnaval, as de Quarta-Feira de Cinzas eram as mais comuns.
Tratavam de ressaca e remorso, de fim da folga e volta ao trabalho, e de todas
as possibilidades dramáticas ou patéticas de um carro alegórico abandonado e um
falso marquês estirado na sarjeta.
Havia até uma subcategoria de
crônica de Quarta-Feira de Cinzas, a crônica de volta do marido para casa. Do
reencontro, às vezes catastrófico, do brasileiro com a realidade na forma da
Adalgisa esperando no portão, e não aceitando desculpas.
Quarta-Feira de Cinzas era uma
coisa muito brasileira. Como ninguém tinha um carnaval parecido com o nosso,
ninguém tinha um pós-carnaval tão triste. Uma queda de tanta altura.
Mas o curioso é que, quanto
maior e mais coisa inédita brasileira fica o carnaval, mais o nosso
pós-carnaval perde suas características — e seu valor literário. Hoje, a figura
típica do pós-carnaval não é mais o folião deixando sua fantasia no caminho na
volta ao seu duro cotidiano, é o finlandês embarcando no avião e levando sua
fantasia para mostrar em casa.
E não tem mais Adalgisa
esperando no portão. O marido que volta teve o mesmo destino de outros
personagens clássicos: foi engolido pelo tempo e pela irrelevância. Ele não sai
mais de casa no sábado e só reaparece na quarta-feira vestindo um cuecão e
dizendo que foi sequestrado por sugadoras alienígenas, o que explica os chupões
no pescoço. Isso é coisa do tempo antigo. De outros pós-carnavais.
Razão têm os baianos, que
acabaram com o pós-carnaval. Lá chamam a Quarta-Feira de Cinzas de “Recomeço”,
e emendam. E como gênero literário as crônicas de Quarta-Feira de Cinzas também
perderam toda a legitimidade. Viraram anacrônicas. Como esta, que ainda por
cima está saindo na quinta.
SILÊNCIO
Estou escrevendo sem saber o
resultado da votação para as escolas do Rio. Fiquei impressionado com o
Salgueiro, mas estou sem predispostos a ficar impressionado com o Salgueiro.
Mas desconfio que este ficará na história como o carnaval da parada da bateria
da Mangueira. Quer dizer, a coisa mais memorável do carnaval de 2012 será o
silêncio.
Luis Fernando Verissimo
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012
O tamanho da gente
O homem acha o Cosmos
infinitamente grande
E o micróbio infinitamente
pequeno.
E ele, naturalmente,
Julga-se do tamanho natural...
Mas, para Deus, é diferente:
Cada ser, para Ele, é um
universo próprio.
E, a Seus olhos, o bacilo de
Koch,
A estrela Sírius e o Prefeito
de Três Vassouras
São todos infinitamente do
mesmo tamanho...
Mário Quintana
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