Já perdi a conta da quantidade de livros que tento retirar nas bibliotecas, mas que não consigo encontrar. A biblioteca do Sesc é a que mais frequento - e muito!. Nem por isso dou muita sorte quando procuro os livros de grande sucesso.
Foi assim com O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. Mal ele retornava, saia nas mãos de algum felizardo - já que na epóca havia apenas uma ou duas edições. E com o tempo acabei esquecendo. Mês passado, enquanto devolvia um livro, me deparei com uma edição novinha dele e fiquei entusiasmado. Como o livro estava numa pilha do lado de dentro do balcão, solicitei ao atendente. Porém, ele afirmou que aquele volume ainda não estava catalogado. Orientou-me a pegar o volume mais antigo. Eu até duvidei que eu tivesse essa sorte. Mas quem disse que tive a coragem de levá-lo para casa? Não que estivesse num estado deplorável, mas depois que vi aquela coisinha cheirando tal qual um carro zero, com uma capa que brilhava de tão nova, não tive coragem de pegar o volume antigo. Este livro estava todo torto e com as folhas escurecidas de tão velho e de tanto manuseio. [E pensar que possuo livro em estado muito pior!].
Não teve jeito. Decidi tentar a sorte um outro dia. E foi aí que vi, sobre os livros da mesma estante, um outro livro que me chamou a atenção, e nem foi pelo fato de ser do mesmo autor daquele que pretendia pegar, e sim pelo título: O Dia do Curinga. Nunca tinha nem ouvido falar dele. Ou não me lembrava disso. Agora devo explicar o motivo de ter chamado minha atenção. Para isso, um flashback.
Adoro flashback. Em filmes então! Fico fascinado com esse recurso narrativo. Quando bem aproveitado, pode ser o maná do filme todo.
A caminho do Sesc, numa calçada próxima, observei que havia uma carta de baralho. Percebi que era a carta do Curinga, antes de quase pisar nela. Só não pisei porque bateu um vento no mesmo instante. E não o vi mais. Nem dei atenção ao fato naquele momento. Mas não tive como impedir de lembrar desse ocorrido diante do livro. Sinceramente, decidi levar o livro antes mesmo de folheá-lo. Procuro dar atenção aos sinais. Pode não ter representado nada, só sei que gostei muito desse meu primeiro contato com este fabuloso autor. E outra coisa que me impressionou: comecei a ler este livro em Santos, durante as férias. Tenho o costume de usar um marcador de páginas. O marcador que usei foi uma certa carta de baralho que encontrei jogada numa calçada, em Santos mesmo. Me senti tentado e a peguei. Adivinhe a carta do baralho. Exato - a do Curinga (!). Sinal. Sem mais comentários sobre isso...
Este livro foi meu primeiro contato com essa linha filosófica-ficcional. Muito interessante e fascinante. Tanto que O Dia do Curinga já está na minha lista dos melhores que li.
E para me deixar mais fascinado, a narrativa apresenta um flashback dentro de outro flashback no flashback. Confuso? Um pouco, talvez... Chega até dar um nó no cérebro se não prestar a devida atenção.
Já comentei um pouco deste livro aqui, em janeiro. É sobre um menino que cruza a Europa acompanhado do pai à procura da mulher que os deixou oito anos antes para encontrar a si mesma. Durante a viagem, Hans-Thomas, o menino, recebe um livrinho tão pequeno que era necessário usar uma lupa para poder ler. É esse livrinho que o conduz a uma viagem em busca do conhecimento, inclusive de si mesmo. Não somente o livrinho o conduz, os diversos diálogos com seu pai também. Até mais, pois ao longo da viagem em busca da mãe e esposa, vão filosofando sobre muitas coisas, questionamentos que nós fazemos, e que nos fazemos, principalmente. E durante esses diálogos, nem sempre muito profundos, a relação entre eles vai se definindo, melhorando, estreitando, e aos poucos vamos percebendo que se entrelaça, devido ao legado que é contado no tal livrinho.
Houve momentos durante a leitura que julguei que o livro foi escrito para o público infanto-juvenil, devido algumas passagens relacionadas ao amor, relação entre marido e mulher e também por ser um verdadeiro conto de fadas moderno, uma fábula genial. E se eu estou certo, então devo ter lido como seu fosse bem mais jovem, como um garoto afoito por uma boa história, por ter me cativado tanto.
Por outro lado, descarto um pouco essa minha observação pela semiótica apresentada. O autor, por meio dos seus personagens, nos mostra uma comparação das cartas de baralho com a vida, ora um jogo de azar, ora de sorte, e que muita coisa está nas mãos do destino e que nem sempre as variáveis desse "jogo da vida" são as interferências do ser humano, mas sim causadas por um Curinga. Um ser que possui a chave da verdade, um indivíduo que sutilmente nos mostra a razão de se optar por um determinado rumo, ou de um determinado sentimento mais profundo ou menos profundo, ou de uma emoção incompreensível. Mas onde se esconde esse Curinga que nós não vemos ou não queremos ver? Seremos nós mesmos?
Refletindo um pouco mais, compreendendo onde o autor quis chegar, quem carrega em si a angústia de ser apenas mais um nesse mundão, é capaz de perceber a diferença se aceitar a filosofia (conhecer a si mesmo; por que estamos aqui e para onde vamos; tentar compreender o motivo de certas coisas acontecerem e existirem), será capaz de deixar as futilidades de lado, essa superficialidade que o assola, esse conjunto de banalidade que o cerca.
Deixando a filosofia de lado, vale destacar o estilo de Jostein Gaarder: leve, divertido, agradável, instrutivo e um pouco introspectivo. A decisão de dividir o livro em 53 capítulos, um para cada carta do baralho, foi uma boa sacada - tanto quanto um certo calendário que tem no livrinho do garoto.
Apesar de alguns acontecimentos serem previsíveis, o livro é recheado de surpresas e emoção. Uma viagem. Mas não se empolgue: não é uma viagem para um mundo de sonhos. Depende de até onde seus olhos alcançam ou se você deixa a janela da alma aberta.
Márcio Luiz Soares
Foi assim com O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder. Mal ele retornava, saia nas mãos de algum felizardo - já que na epóca havia apenas uma ou duas edições. E com o tempo acabei esquecendo. Mês passado, enquanto devolvia um livro, me deparei com uma edição novinha dele e fiquei entusiasmado. Como o livro estava numa pilha do lado de dentro do balcão, solicitei ao atendente. Porém, ele afirmou que aquele volume ainda não estava catalogado. Orientou-me a pegar o volume mais antigo. Eu até duvidei que eu tivesse essa sorte. Mas quem disse que tive a coragem de levá-lo para casa? Não que estivesse num estado deplorável, mas depois que vi aquela coisinha cheirando tal qual um carro zero, com uma capa que brilhava de tão nova, não tive coragem de pegar o volume antigo. Este livro estava todo torto e com as folhas escurecidas de tão velho e de tanto manuseio. [E pensar que possuo livro em estado muito pior!].
Não teve jeito. Decidi tentar a sorte um outro dia. E foi aí que vi, sobre os livros da mesma estante, um outro livro que me chamou a atenção, e nem foi pelo fato de ser do mesmo autor daquele que pretendia pegar, e sim pelo título: O Dia do Curinga. Nunca tinha nem ouvido falar dele. Ou não me lembrava disso. Agora devo explicar o motivo de ter chamado minha atenção. Para isso, um flashback.
Adoro flashback. Em filmes então! Fico fascinado com esse recurso narrativo. Quando bem aproveitado, pode ser o maná do filme todo.
A caminho do Sesc, numa calçada próxima, observei que havia uma carta de baralho. Percebi que era a carta do Curinga, antes de quase pisar nela. Só não pisei porque bateu um vento no mesmo instante. E não o vi mais. Nem dei atenção ao fato naquele momento. Mas não tive como impedir de lembrar desse ocorrido diante do livro. Sinceramente, decidi levar o livro antes mesmo de folheá-lo. Procuro dar atenção aos sinais. Pode não ter representado nada, só sei que gostei muito desse meu primeiro contato com este fabuloso autor. E outra coisa que me impressionou: comecei a ler este livro em Santos, durante as férias. Tenho o costume de usar um marcador de páginas. O marcador que usei foi uma certa carta de baralho que encontrei jogada numa calçada, em Santos mesmo. Me senti tentado e a peguei. Adivinhe a carta do baralho. Exato - a do Curinga (!). Sinal. Sem mais comentários sobre isso...
Este livro foi meu primeiro contato com essa linha filosófica-ficcional. Muito interessante e fascinante. Tanto que O Dia do Curinga já está na minha lista dos melhores que li.
E para me deixar mais fascinado, a narrativa apresenta um flashback dentro de outro flashback no flashback. Confuso? Um pouco, talvez... Chega até dar um nó no cérebro se não prestar a devida atenção.
Já comentei um pouco deste livro aqui, em janeiro. É sobre um menino que cruza a Europa acompanhado do pai à procura da mulher que os deixou oito anos antes para encontrar a si mesma. Durante a viagem, Hans-Thomas, o menino, recebe um livrinho tão pequeno que era necessário usar uma lupa para poder ler. É esse livrinho que o conduz a uma viagem em busca do conhecimento, inclusive de si mesmo. Não somente o livrinho o conduz, os diversos diálogos com seu pai também. Até mais, pois ao longo da viagem em busca da mãe e esposa, vão filosofando sobre muitas coisas, questionamentos que nós fazemos, e que nos fazemos, principalmente. E durante esses diálogos, nem sempre muito profundos, a relação entre eles vai se definindo, melhorando, estreitando, e aos poucos vamos percebendo que se entrelaça, devido ao legado que é contado no tal livrinho.
Houve momentos durante a leitura que julguei que o livro foi escrito para o público infanto-juvenil, devido algumas passagens relacionadas ao amor, relação entre marido e mulher e também por ser um verdadeiro conto de fadas moderno, uma fábula genial. E se eu estou certo, então devo ter lido como seu fosse bem mais jovem, como um garoto afoito por uma boa história, por ter me cativado tanto.
Por outro lado, descarto um pouco essa minha observação pela semiótica apresentada. O autor, por meio dos seus personagens, nos mostra uma comparação das cartas de baralho com a vida, ora um jogo de azar, ora de sorte, e que muita coisa está nas mãos do destino e que nem sempre as variáveis desse "jogo da vida" são as interferências do ser humano, mas sim causadas por um Curinga. Um ser que possui a chave da verdade, um indivíduo que sutilmente nos mostra a razão de se optar por um determinado rumo, ou de um determinado sentimento mais profundo ou menos profundo, ou de uma emoção incompreensível. Mas onde se esconde esse Curinga que nós não vemos ou não queremos ver? Seremos nós mesmos?
Refletindo um pouco mais, compreendendo onde o autor quis chegar, quem carrega em si a angústia de ser apenas mais um nesse mundão, é capaz de perceber a diferença se aceitar a filosofia (conhecer a si mesmo; por que estamos aqui e para onde vamos; tentar compreender o motivo de certas coisas acontecerem e existirem), será capaz de deixar as futilidades de lado, essa superficialidade que o assola, esse conjunto de banalidade que o cerca.
Deixando a filosofia de lado, vale destacar o estilo de Jostein Gaarder: leve, divertido, agradável, instrutivo e um pouco introspectivo. A decisão de dividir o livro em 53 capítulos, um para cada carta do baralho, foi uma boa sacada - tanto quanto um certo calendário que tem no livrinho do garoto.
Apesar de alguns acontecimentos serem previsíveis, o livro é recheado de surpresas e emoção. Uma viagem. Mas não se empolgue: não é uma viagem para um mundo de sonhos. Depende de até onde seus olhos alcançam ou se você deixa a janela da alma aberta.
Márcio Luiz Soares
9 comentários:
Vim através do blog da minha amiga Alice...
Parabéns!
Gde beijo
T+
Oi Marcio,
Aqui no Rio eu não tenho o hábito d efrequentar bibliotecas,no máximo a da minha facul pra fazer algum trabalho,mais na minha época de escola eu amava!!
Estudei em colégios que estimulavam a leitura e a escrita,faziam mil coisinhas, eventos,concursos literários, e desde pequena gostava de ler e escrever.
Quando rola de falarem de livros como vc é engraçado, pq eu AMO LER ,o livro de papel, com aquele cheirinho tipo de carro novo como vc disse é uma delícia,não resisto.
Vou ver se compro, se não comprar vou comentar com umas amigas,tenho umas amigas que fazemos rodízios de livros, uma empresta pra outra rs.
Beijo!
Bom, o seu relato, é a resposta de que o livro que você encontrou, por causa do coringa, que viu na rua, modificaria a sua inicial vontade que era ler outro livro.
Realidade??? coincidencia??? sonhos????
HAAA quem sabe?
Um beijinho, amigo.
Sabe, em meu blog conto hoje uma historia de alguen que me encontrou desde Brasil...
Espero que goste.
É verdade, aconteceu ontem!!!
Que coisa maluca essa que você contou! Encontrar uma carta do curinga uma vez tudo bem, mas duas?!?!! E em locais diferentes?! Essa coisa de você usar como marcador, confesso: achei sinistro! rs Foi como se você achasse que o Curinga queria que você usasse sua carta como marcador de um livro que tem muito do baralho em sua narrativa. Que coisa doida!
Fora tudo isso, tenho a dizer que sou fã do autor e já li tudo dele (eu acho). Adoro filosofia, tenho dezenas de livros sobre esse tema. Aprende-se muito com ela, se aprofundando, conhecendo os pensadore, sobre o que dissertaram, seus julgamentos e por aí vai.
Olha, deu pra notar que você captou direitinho tudo! Muito bom.
Beijos
Feliz de quem tem o hábito da leitura e mais ainda quando se ama a literatura, os livros e tem prazer em visitar bibliotecas, não só para lê, como também para encontrar e sentir os livros e ainda tem um curinga para lhe sinalizar. Caro Márcio, sempre gostei do cheirinho da tinta no papel. Quando criança, vivia a recortar reportagens de revista e jornais para fazer colagens em papel ofício. Tinha uma pasta arquivo ganha de meu pai, com várias colagens guardadas. Tempos depois, fiquei sabendo - o que me deixou muito orgulhoso - que escritores faziam isso, e que esse trabalho tinha um nome: “Recortes de Jornais”. Alimento até hoje esse hábito dos recortes, fazendo agora em cadernos segmentados por assuntos (Cultura,Política,Cinema, etc.), com o intuito de guardar como fonte de pesquisa. Hoje, é um fato, o papel perdeu um pouco seu poder, pois a chegada da informática, juntamente com esse meio fantástico que é a internet, nos faz passar por uma grande mudança de comportamento, abalando os meios impressos como jornais, revistas e livros. No meu caso, que tenho fascinação por bancas de jornais/revista, não conseguindo passar por uma sem entrar, isso já diminuiu. Considero que pelo avanço editorial de hoje em dia, quando as revistas estão cada vez mais segmentadas, as bancas representem uma pequena biblioteca de massa. Mas o “Templo Biblioteca” e o livro como meio de difusão de conhecimento, é algo especial, que creio, nunca irá acabar por mais avanço que alcance a tecnologia, pois a leitura no papel além de ser tátil, é muito mais confortável e prazerosa. Quanto sua análise do livro “O dia do Curinga”, me deixou curioso e com vontade de ler. Um abraço, Armando
nunca entendi direito essa tal de filosofia, mas tentando entender o q vc escreveu sobre ela, parece q ficou mais simples, complexo ainda, mas aumentou o meu interesse. qto ao livro, menino, até por acaso vc só lê coisa boa!! parece muito bom, vou procurar por aqui. li o q a ana luisa colocou e conciordo com ela: sinistro. se fosse acho q nem ia levar o livro depois de encontrar a mesma carat do baralho!!! mas tbem tem a coisa de ser um sinal, verdade, vc respeitou, e se deu bem, pois gostou do livro, saboreou, digeriu e nos deu um comentário de presente. rs td de bom pra vc. beijinhos
Samantha
Parece coisa de filme! Eu teria pedido proteção para Deus! rs Cada incentivo para ler um livro!! rs Mais um para a minha lista. Valeu.
meu amigo, q coisa louca! e como tem uns lances estranhos assim como esse q acontecem com vc, hein? sei pq já presenciei uns tres, e não teria pq duvidar desse q foi o mais legal de todos! legal mesmo! queria q fosse comigo! e qto ao livro q bom q vc não fica só no "recomendo o livro". seus comentários dão água na boca! abraços
Recebi a recomendação deste livro, por uma pessoa que conheci por acaso (tópico para outra conversa). Li entre sexta e sábado. Apaixonada estou! Domingo fui até uma festa e ao descer do ônibus vi umas 15 cartas no chão entre a calçada e a rua. Não resisti, fui virando e procurando o Curinga, ia desistir, mas voltei atrás e achei, mas queria mais um sinal e acharia o máximo achar outro Curinga, e não é que achei! Coloquei no bolso e aguardo mais sinais!
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