domingo, 15 de fevereiro de 2009

O Leitor ou A Vergonha






Ontem fui ver O Leitor, filme que muitos colegas cinéfilos estavam comentando antes de estrear. Quando vi o trailer também fiquei muito interessado. E não via a hora de ver alguma novidade do diretor Stephen Daldry e ver a interpretação de uma das atrizes que mais aprecio: Kate Winslet. Gostei do filme, não somente por ter uma boa história, mas, inclusive, por suas implicações éticas, como responsabilidade e dever de justiça - fazendo a gente analisar toda a trama durante e depois de assistir ao filme.

O longa começa na Alemanha, em plena pós-guerra. Michael Berg, interpretado por David Kross (bem convincente, por sinal) é um adolescente de 15 anos que se envolve com uma mulher mais velha, Hanna (Kate Winslet, fenomenal). Entre uma transa e outra, Berg lia alguns livros para ela, daí o título do filme. O romance dura apenas um verão, porém, deixou marcas profundas no garoto, que mesmo anos depois, já como aluno de Direito, ciente de uma outra realidade que ele desconhecia sobre o passado de Hanna, tem que enfrentar um dilema ético. Esse dilema lhe provocaria um sofrimento que o perseguiria por muitos e muitos anos. E esse sofrimento, de uma certa forma, envolve a culpa e a vergonha alemã pelos campos de concentração, pelo que a geração anterior tinha feito aos judeus.

Para amenizar sua própria culpa, diretamente ligada à sua amante de outrora, muitos anos mais tarde Berg, agora um advogado (interpretado por um Ralph Fiennes não muito convincente, numa interpretação meio forçada, e isso não é típico dele), decidiu gravar em fitas de áudio a leitura de alguns livros que tinha lido enquanto mantiveram o romance e enviar para ela na prisão.

O filme apresenta duas surpresas, e foi uma delas que motivou o personagem a gravar as fitas. A outra surpresa tem a ver com a prisão de Hanna. Essa prisão teria sido amenizada se ela tivesse revelado um segredo que, para ela, era mais terrível do que qualquer outra coisa.

Apesar da trama não ser previsível, é capaz de muitos espectadores entenderam logo no começo (como aconteceu comigo) o motivo dela pedir para que Berg leia os livros. Ela se emocionava tanto com essas leituras que chegava a chorar exasperadamente em algumas narrativas emocionadas do leitor.

Infelizmente, o diretor Daldry não conseguiu manter o mesmo ritmo até o fim (bem diferente de seus outros filmes, Billy Elliot - ótimo - e As Horas), apesar disso não comprometeu o filme, pois foi o tempo todo envolvente, conflitante e comovente. Talvez por isso mesmo o filme tenha perdido o ritmo quando os personagens estão mais velhos, por tentar ser mais comovente do que deveria, quase que tentando manipular o espectador. Nem por isso o filme deve ser descartado, pois é muito positivo em diversos questionamentos, como a responsabilidade que se divide entre a individual e a coletiva, como ficou bem contundente numa cena entre Berg e uma sobrevivente de um campo de concentração (Lena Olin, numa interpretação interessante), agora uma rica escritora mostrando como uma simples latinha de guardar chá pode significar mais para uma pessoa que qualquer quantia em dinheiro.

Kate Winslet está brilhante, demonstrando possuir muita técnica corporal soube muito bem construir sua personagem: bruta, arrogante, e ao mesmo tempo sensível, deixando claro ter apanhado muito na vida. Merece um Oscar pela atuação. A única coisa de que não gostei no filme foi o processo de envelhecimento da personagem, ficou péssimo, amadorístico. Um filme desse porte, com este tipo de produção, deveria ter tomado mais cuidado.

Enfim, o filme é bom, no meu ponto de vista. Uma bela história de amor, recheado de questionamentos morais e sem se tornar um dramalhão, sem arrancar lágrimas dos espectadores. Se assistir ao filme, observe numa pergunta feita por Hanna a um juiz. Não exatamente na pergunta, mas na falta de resposta para ela, no silêncio. Nesse ponto o diretor, ou o roteirista, ou o autor do livro cujo filme foi baseado, sei lá, foi genial. Outra coisa interessante também, é notar que o filme poderia ter outro nome. O Leitor é um título ótimo e tem tudo a ver com a narrativa, mas também poderia se chamar A Vergonha.


6 comentários:

Alice disse...

Oi Marcio,
Voltei rs
Sou mega tímida,,raramente qdo visito um blog deixo um comments de primeira,como vc deixou um recadinho super bacana pra mim no orkut, resolvi voltar aqui e comentar.
Sábado quase vi esse filme,só que na horinha me convenceram de ver Operação Valquíria,confesso,dormi no começo,mais gostei, saí impressionada qdo vi o gatinho do Tom Cruise morto, gosto mais de comédia,mais por insistência do povo vou conferir esse filme.
Ah, meu blog tá paradaço, mais se vc quiser conhecer,pelo menos vc fica sabendo um pouquinho sobre mim www.aliceeventos.blogspot.com

Até que pra um primeiro commnets eu fui bem rs
Beijos!!!
E obrigada pelo recadinho no orkut,pq sem ele eu não teria coragem de voltar rs

Alice disse...

Cadê as fãs-leitoras do Marcio?
Meninas, bora vir mais vezes aqui!!!
bjs|!!

Ana disse...

Márcio, fiquei fascinada por esse filme! Concordo com você sobre as atuações, sobre os sentimentos, e sobre a maquiagem também - ficou muito estranha mesmo. Tem mais, concordo com o "sub-título" que você deu. rs O que se perde tendo vergonha!! Beijos

Anônimo disse...

oi, já me considero uma fã!! rs eu já tinha lido seu comentário antes de ver o filme. fiquei decepcionada com algumas atitudes do micheal e tenho q concordar com vc sobre o lance da vergonha. fiquei pensando até q ponto uma pessoa se deixa ir presa por causa da vergonha! e o silencio q vc falou, é de gelar! rs eu jamais faria o q ela fez! de resto um filme muito bom e como sempre ótimas dicas pra quem passa por aqui. beijinhos

Unknown disse...

Um ótimo filme, uma bela história! Me sensibilizei com os personagens. Ter que entender os motivos dos personagens não é difícil, mas aceitar... Eu também estava torcendo pra Kate Winslet ganhar. Que bom.

Marcello BBlanc disse...

ótimo comentário, como sempre. já tenho compromisso pra amanhã. rs abs