terça-feira, 12 de maio de 2009

A família no ritmo do mundo contemporâneo





Os avanços tecnológicos recentes tornaram possível a comunicação, em tempo real, a praticamente qualquer ponto do planeta. Paradoxalmente, os contatos intrafamiliares vão se tornando cada vez mais escassos. Tomando apenas um recorte do panorama vivido especialmente na classe média e alta da nossa sociedade, podemos trazer como exemplo, um comportamento que nos é bem familiar nos dias de hoje: ao chegarem da escola, crianças e jovens entram em casa apressados, largando pelo caminho a mochila e outros pertences e dirigem-se incontinentes para o computador ou para a televisão, diante dos quais podem permanecer por horas a fio, alheios a tudo à sua volta. Não raro, até as refeições são feitas diante desses aparelhos. Por outro lado, as famílias de hoje raramente conseguem se reunir a cada dia para as refeições, perdendo-se assim aquele momento de encontro e cumplicidade de seus membros.

Conversando com um adolescente de treze anos sobre sua rotina, ele descreveu uma agenda repleta de atividades após a escola. Questionado então se ele não tinha algum tempo para não fazer nada, para sonhar simplesmente, ele surpreendeu-se com a pergunta e disse: “Você quer dizer, tédio?” Depois de um tempo, respondeu: “Bem, isso acontece na escola, durante as aulas...”

Qual seria o sentido deste “agir sem cessar”, tão característico dessa geração que tem pouco espaço para refletir, para dialogar, para conviver livremente? Parece que esse tempo sem programação é vivenciado como tédio, como um vazio insuportável que precisa ser preenchido rapidamente.

Nesse contexto, o computador parece oferecer a solução mágica, ao proporcionar a sensação de estar acompanhado e no comando da situação angustiante. Os pais, por sua vez, perplexos e inseguros diante das mudanças vertiginosas da tecnologia, dos valores e dos costumes, falham frequentemente ao não exercer a função paterna, fundamental para o estabelecimento de limites seguros para um desenvolvimento saudável.


Ruth Cerqueira Leite

* * *

Num mundo saturado pelas novas tecnologias, pela mídia, pela informação em tempo real, pelo acúmulo de trabalho e, devido à concorrência profissional, onde a necessidade de se atualizar por meio de diversos cursos de pós-graduação, entre outros, muitos pais mal têm tempo de prestar atenção em si mesmos e cometem, o tempo todo, essa negligência com seus filhos. Essa falta de atenção influencia seus filhos. Se dessem a atenção que merecem, serviriam de modelos, e a influência seria positiva. O que se observa é própria falta de tempo, ou a péssima divisão deste tempo em casa, nesses horários familiares frenéticos, assim como falta de demonstração de amor, afeição e de diálogo, muito diálogo.

No texto, a psicanalista Ruth Cerqueira Leite não toca no assunto de que a culpa é totalmente dos pais, e não é mesmo. No entanto, muitos problemas poderiam ser evitados se dedicassem mais carinho e atenção, e se suas vidas não fossem vividas pela metade. Nossa vida não é feita apenas para o trabalho. Temos que dedicar um tempo muito razoável para nós mesmos e nossas famílias. Não importa a idade dos nossos filhos, temos que procurar fazer diversas atividades juntos, como viajar, passear, ir ao cinema, ir a uma livraria, a uma lanchonete, ouvir músicas, praticar algum esporte, fazer uma simples caminhada e até mesmo brincar no quintal. Enfim, criar uma convivência agradável num ambiente cheio de serenidade.

Não é de hoje que diversos sociólogos de família reforçam a importância da interação entre pais e filhos. Nas camadas da sociedade menos favorecidas, o problema aumenta. Alguns pais valorizam o autodirecionamento (na classe média isso é muito evidente), enquanto outros preferem adotar uma atitude conformista - e até mesmo passiva – e só se manifestam quando é estritamente necessário, mas aí pode ser tarde demais. E existem diversos outros problemas com que se preocupar também, como a erotização da infância (tema polêmico e preocupante), como a influência das amizades a partir da adolescência.

Receio que, da forma como a coisa está indo, sem as devidas mudanças e conscientizações, uma boa parcela desses indivíduos que vivem apenas no mundo dos games, das conversinhas babacas em messengers e em sites de relacionamento, terão dificuldades extremas no futuro, faltando-lhes integridade, sem muita noção do que é certo e errado, de como enfrentar as dificuldades e se destacarem num mundo competitivo que, ao que tudo indica, ficará ainda pior no futuro.

8 comentários:

MARU disse...

Márcio, interessante postagem.
As novas tecnologías estäo ahí, e isso deve ser usado en beneficio, que para isso se inventaram.
É verdade que agora, os dois pais trabalham e as crianças quando chegam da escola ou estäo con os vovós (aqui na España agora säo os vovós os que criam os filhos)ou estäo com a empregada, ou estäo sózinhos.
Bom, isso é assim. Näo vamos pedir que as mulheres já näo trabalhem, para criar os filhos...
O problema näo é de quantidade, é de calidade.
Se nós cuando chegamos do trabalho, sentamos com nossos filhos, interessamos por seu dia na escola, ajudamos nas tarefas,
falamos con êles, das coisas que preocupam-lhes...
E os feriados e fim de semana, dedicamos a fazer coisas juntos, nossa vida familiar pode ser muito rica...
Mas se chegamos en casa e sentamos diante do computer, êles väo fazer a mesma coisa...
E assim temos uma casa cheia de gente sozinha...
As crianças säo reflexo do que vem ao seu redor...
Ser pai, é uma responsabilidade prá toda vida....
E um prazer. se nós queremos que assim seja.
Um beijinho

Anônimo disse...

Excelente texto.
Outra coisa que me chama muita a atenção são as pessoas que se preocupam tanto com suas carreiras, posses e status, que perdem a noção do porquê querem tudo isso.
E como música é algo intensamente presente em minha vida lembrei-me daquela do Barão: "Desejo que você ganhe dinheiro, pois é preciso viver também, e que você diga a ele pelo menos uma vez, quem é mesmo o dono de quem".
Abraços moço.

Anônimo disse...

esse problema eu não dei aos meus pais! e foi pelo motivo q vc colocou: em casa sempre teve essa troca de amor, afeto e diálogo. tbem sempre fizemos as coisas em família, passeios, cinema e até as brincadeiras de quintal. até hj é assim na casa dos meus pais. moro sozinha e eles sempre me visitam, sempre vou na casa deles e sempre marcamos atividades juntos e com a presença dos meus irmãos mais novos. eles tbem gostam de games, ficam internetando, mas de um jeito q não tira o tempo do contato com a família e amigos sinceros. já não poso falar assim de vários conhecidos, q não tem estrutura familiar, alguns até tem, mas são individualistas e levam a vida como se nunca precisassem de ninguém ou q nunca vão precisar. outros possuem amigos da pesada e não dão a mínima pra si próprios. é complicado, mas os pais precisam reconhecer sua culpa, e mesmo qdo não tem, precisam ficar atentos e tomarem atitudes q mudem a situação dentro de casa. valeu, meu querido. beijinhos Samantha

Marcello BBlanc disse...

Marcião, gostei do texto. tava lendo e vendo um filme passar: na minha família aconteceu coisa parecida com uns primos, eles eram relaxados com suas vidas, mas td era reciprocidade do q vivenciavam em casa. meus tios nem se impotavam com certas atitudes até q um dia a coisa degringolou de vez. mas com uma mudança radical a coisa foi revertida e tb graças aos meus primos mesmos q viram o qto estavam errando, nos ouviram e decidiram mudar. meus tios tb mudaram e hj há muito diálogo. qto a esse lance da erotização, é verdade. tb é um grande problema. lembro de uma vizinha q teve esse problema depois q incentivava suas filhas a dançarem axé, ainda com sete e nove anos de idade! e naquela dança da garrafa! e dançaram na vida tb, no maior esculacho! mas aí é outra história...
abraços

ARMANDO MAYNARD disse...

Caro Márcio, o relacionamento entre pais e filhos nos dias de hoje está muito mudado. As necessidades criadas pela vida moderna, impõe que pai e mãe trabalhem, para que juntos, tenham uma renda que consigam manter o padrão de vida ambicionado por ambos. Isso faz com que enfrentem uma exagerada competição nos cargos que ocupam, onde cada vez fica mais acirrada a concorrência, em vista das disputas internas pela ascensão e metas a vencer. Conseguindo, começa outra luta para não perder o que foi conquistado. Tudo isto termina sacrificando o convívio e a educação dos filhos, que apesar de terem uma vida cheia de conforto material, sendo possuidores de vários bens, são privados de usufruírem do convívio com os pais, gerando muitas vezes filhos mal criados, sem uma boa formação, que os preparem moralmente para o enfrentamento da vida. Este quadro, vem se constituindo em algo cada vez mais comum, nas modernas famílias de classe média. Muitos pais deixam a educação dos filhos a cargo da escola, achando que os professores além de ensinarem as matérias de praxe, tem a obrigação de educá-los, esquecendo que muito da educação está nos exemplos que são passados em casa, na disciplina e nos limites impostos. Só que para isso é preciso que haja um acompanhamento, algo que eles alegam não terem tempo para isto. Hoje os cuidados da casa e dos filhos muitas vezes ficam a cargo dos avós ou até das empregadas. Muitas crianças e adolescentes têm o seu dia cheio, além da aula na escola, ainda fazem curso de inglês e praticam natação ou qualquer outro esporte. Passam grande parte de seu dia fora de casa, igualmente como seus pais. A maioria possui um quarto somente seu, que mais parece um apartamento, nele tem televisão, aparelho de dvd, computador, som e telefone. Quando chegam da rua se trancam nos mesmos, ficando numa redoma, que os pais para terem acesso, precisam bater na porta para que abram e pedir licença para entrar. Tudo isso provoca um distanciamento, fazendo com que os pais não acompanhem o crescimento dos seus filhos, não saibam com quem andam, nem o que pensam, pois conversam muito pouco. É preciso que os pais encontrem tempo para seus filhos. Um abraço, Armando. [recomentarios.blogspot.com]

Ana disse...

Bem pertinente a sua postagem. Coincidentemente, participei de uma palestra sobre o mesmo tema esta semana. Houve um debate bem interessante e todos esses assuntos foram abordados. Inclusive tocaram no assunto da erotização infantil, mais pra mostrar a falta de tato dos pais e o reconhecimento de algo que pode trazer consequencias quase irreversíveis (ou sem o quase...).
Beijos

Anônimo disse...

Interessante o texto Marcio. Vou aparecer mais vezes.

Grande abraço.

Unknown disse...

Ultimamente tenho pensado muito sobre esse assunto, tenho feito comparações e chegado a lamentáveis constatações. Tenho dois filhos, um de 19 e um de 12. O mais velho mora em Salvador e quando vem nos visitar passa mais tempo diante do pc do que conversando conosco. Fico arrasada com isso, não vejo meus filhos lendo um bom livro. Felizmente gostam de cinema, ao menos isso! São amantes de bons filmes. Pode ser um caminho, não?? Gostei muito do texto de Ruth Cerqueira e do se tb.Esse tema dá panos p/ manga!
Bjo, querido.