quinta-feira, 26 de novembro de 2009

O sucesso é cego





Quando uma pessoa está perdidamente apaixonada, só tem olhos para o amor, só enxerga as qualidades e virtudes do ser amado, é tudo lindo e maravilhoso. Não é capaz de perceber fraquezas, defeitos nem contradições de seu adorado, pois, como diz o velho ditado, “o amor é cego”.

O sucesso também é cego, sabia? É natural que, quando a carreira deslancha e tudo dá certo, um sentimento de empolgação tome conta de nós. O problema é que podemos ficar cada vez mais focados em nossos objetivos e motivados para novas conquistas; passamos a só ter olhos para o sucesso e deixamos de enxergar coisas importantes na vida.

Deixamos de enxergar os outros, por exemplo. O sucesso pode nos dar a (falsa) ideia de que somos autosuficientes, poderosos, capazes de fazer tudo sozinhos – logo, não precisamos de conselhos, sugestões, opiniões e muito menos ajuda dos outros. Mesmo que não tenhamos a intenção de parecer arrogantes ou donos da verdade, acabamos repelindo as pessoas, pois elas sentem que não têm importância para nós e se distanciam. Desaprendemos a nos relacionar e confirmamos o famoso mito da "solidão do poder"...

Agora, se não enxergamos os outros, podemos também deixar de enxergar a realidade, pois ela não é só o que vemos: é também aquilo que os outros nos mostram. Um típico exemplo disso se passou com uma amiga. Funcionária de um banco há muitos anos, havia chegado a um cargo gerencial e estava tendo muito sucesso. Um belo dia o banco foi comprado, sofreu uma reestruturação e minha amiga foi transferida para um setor menos importante. Havia algo estranho no ar, mas ela não percebia nada de anormal: afinal, era uma profissional bem-sucedida e não tinha com o que se preocupar.

Meses depois foi transferida de novo, e para um setor ainda menos importante. A família e os amigos mais chegados tentaram alertá-la de que algo drástico estava por vir, mas ela, muito autoconfiante, não deu atenção. Semanas depois, foi demitida, e só então “caiu a ficha”: estava recebendo claros sinais de que sua bem-sucedida carreira na empresa estava no fim, mas não percebia isso. É a tal história: o sucesso reforça nossa autoconfiança, o que é ótimo, mas torna-se perigoso quando nos faz incapazes de enxergar os alertas que os outros nos dão.

Pior ainda é quando nos tornamos incapazes de enxergar nós mesmos. O sucesso nos faz ter olhos para o que queremos, mas desvia a atenção daquilo que sentimos. A mente pede descanso, o corpo padece, o relacionamento afetivo balança, os amigos se afastam... E a gente faz de conta que nada está acontecendo. Até o dia em que a casa cai, ficamos doentes ou temos uma crise na vida pessoal, e não podemos mais ignorar nossas dores e desconfortos.

Por isso, fique atento: o sucesso é cego, e aliás surdo também. É maravilhoso que ele aconteça, desde que não seja às custas de outras coisas importantes na vida.


Leila Navarro

* * *

[texto encaminhado por Samantha Rangel]

4 comentários:

Marcello BBlanc disse...

Oi, Marcião. tá produzindo, hein, meu amigo?! rs (foi vc q postou, certo?) vc sabe como eu não sou muito fã de palestras motivacionais, depois q a gente assiste umas 3, a motivação para assisti-las diminui! rs mas já vi várias da Leila Navarro e tenho de admitir q ela realmente conquista o público e apresenta os assuntos de maneira q não pensamos "lá vem esse papo de novo...". essa q trata do sucesso foi junto com outros temas q faz a gente sair do auditório pensando o qto devemos parar de errar. e deixar o sucesso subir à cabeça é um dos fatais, principalmente nos dias de hj, onde se dá (ou ao menos tenta-se dar) o devido respeito e importância ao relacionamento humano. abraços

Anônimo disse...

Penso que talvez essa "cegueira" é necessária, dá nos a coragem que, caso estivéssemos "enxergando", não teríamos, mas como você bem disse no texto, em demasia, ela deixa de ajudar e passa a atrapalhar. Daí chegamos naquele ditado: "a diferença entre o remédio e o veneno é a dose".
Abraços ;)

Ana disse...

Acredito que um pouco dessa cegueira é inevitável e apropriada, de maneira controlada. E que nunca puxe o tapete de ninguém para conquistar o que deseja e não esqueça de quem amamos nesse processo.

Mantha disse...

concordo com a autora, mas se não usarmos uma "viseira" em determinados momentos, não crescemos profissionalmente e nem emocionalmente.