Numa noite cheia de surpresas
Sinto que devo uma
Sinto que devo todas
Calei-me diante de uma situação
Fonte de expectativas nulas
O resto é sensação
A sensação deixa restos
Rasgou-se em mim uma nova era
Surgindo em meio a conflitos e ansiedades
O resto é decisão
E a decisão também deixa restos
Nunca esquecido e sempre abandonado
Anulo-me perante a decisão que o resto de mim adiou
Ou o que o pior de mim permitiu
Culpo-me por ser implacável comigo mesmo
Exceto por amor e por prazer
Sempre clamando por atenção
Sou dono de um coração aflito que não suporta queixas
Apenas do que de mim restou
O resto é óbvio
Mas que ironia: o óbvio não deixa restos!
Márcio Luiz Soares
* * *
Depois de um tempo de abandono, um poeminha vem bem a calhar. Claro que pra mim.
Tudo começou num agradecimento a uma amiga - algumas poucas e sutis palavras que anotei em sua agenda. O resto (ou “Restos”) foi o que ficou me martelando dentro do carro de volta pra casa. Deu nisso.
* * *
Ilustração: Remains of the Day, de Petervanallen