sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Escondendo a saudade






Interessante como as músicas mexem com a gente. Eu estava vindo pra Santos, curtir o restinho das férias, ouvindo músicas, como sempre, e, pela primeira vez, descia a serra ouvindo música clássica. Embalado pelas maravilhas de Mozart e Brahms, mesmo surpreso comigo mesmo, eu estava gostando. Surpreso pelo fato de ter escolhido esse estilo, pois em todas as minhas viagens, coloco pra tocar as músicas alegres, cheias de ritmo, podendo ser pop rock nacional ou internacional, ou algumas bem mais dançantes, típicas de danceterias, mais vibrantes. Dessa forma, me sinto melhor, como se elas me preparassem ao meu destino, onde procuro muita movimentação e alegria. Normalmente, escolho as músicas clássicas quando quero relaxar, sem pensar em nada específico ou quando estou no campo, aproveitando a natureza ou lendo um livro. Viajando, nunca. Ainda mais rumo ao litoral. 


Como sou muito saudosista, no meio do caminho lembrei quando tinha pouco mais de 20 anos (faixa de idade onde tudo tá bom, qualquer coisa tá valendo, desde que tenha muita alegria, risada, zueira, um canto pra dormir e cerveja gelada, claro).

Muitas vezes formávamos uma turma de doze jovens em três carros, moças e moços, casais e solteiros, e sempre que possível descíamos rumo ao Guarujá. E dentro do carro ouvíamos as músicas mais tocadas da época. Muito gostoso viajar com o carro cheio, todo mundo rindo das piadas ou cantando.

Geralmente viajávamos à noite, e logo que chegávamos ao apartamento em Astúrias, ou Enseada, qualquer lugar, nem desfazíamos as poucas malas. Era colocar as bebidas pra gelar e correr para matar a saudade no calçadão. Na volta, ou quando não saíamos, era obrigatório ter cerveja gelada na mão, jogando Imagem & Ação até amanhecer. Mesmo dormindo mal, ou nem dormido, a pressa era de pisar na areia, dar uns mergulhos, jogar vôlei e jogar muita conversa fora debaixo do guarda-sol. Aproveitávamos tanto que nem sentíamos tanta dor da volta.

Engraçado e chato como as coisas podem mudar tanto. Aqueles jovens hoje são quarentões, casados ou descasados, com filhos adolescentes, levam uma vida um tanto quanto sedentária, fizeram outras amizades e mal dão as caras. Alguns casais até fazem as mesmas viagens, se hospedam em locais semelhantes, mas nem se preocupam em formar aquela turma de novo. Colocam obstáculos ou julgam erroneamente que ninguém vai topar se juntar para lembrar ou reviver os momentos engraçados e alegres. Nem dá pra entender direito como deixamos isso acontecer. Acredito que registrando aqui, um pouquinho desse passado gostoso, me sinto melhor.

E foi por essas e outras lembranças que, ainda lá na estrada, decidi trocar o repertório - adeus Bach, adeusinho Liszt, até breve Schumann, até qualquer dia! - e mandei ver no dial. E para a minha surpresa numa das estações estava tocando justamente umas das que mais gostávamos de ouvir dentro do carro: The Beggining, do Seal. Esta “coincidência” [não acredito em coincidências] me deixou pasmo. Mas também me senti alegre, carregado de bons fluídos, seguro de que vinha coisa boa por aí em Santos, e, assim, deixei a saudade daquele tempo escondidinho num cantinho do coração, outra vez.

* * *
Hoje pode não parecer, mas esta música, na Rodovia dos Imigrantes, no carro com a galera, dava uma sensação muito gostosa em todos nós. Talvez você goste.



3 comentários:

Marcello BBlanc disse...

Eu tbem queria entender o motivo de tanto distanciamento dos amigos do passado. ao ler, fiquei com um sentimento amargo, pois a mesma coisa aconteceu comigo, todo mundo sumiu, e quem não sumiu lembra, comenta e nem menciona se valeria a pena reunir a galera - igual acontece com vc. ir pra faculdade, fazer novos amigos e o nascimento dos filhos pode até causar um pouco da falta de contato, mas não justifica o sumiço. enfim, de qquer forma, a gente se acostuma e consegue relevar e deixar para tras, apenas lembrando o qto foi bom e q fez parte daquele momento tão feliz.
essa música é sensacional, vale muito a oportunidade de ouvir por aqui. valeu! abraços

.ana disse...

como as coisas mudam, né??? eu tb tenho muita saudade de alguns anos atrás, época em que eu e minhas amigas certamente fizemos as melhores festas da nossa vida e éramos muito felizes. época onde problemas não eram obstáculos e as coisas simplesmente fluíam. sempre converso sobre isso com elas, mas algumas já não tem ânimo de retornar àquele tempo bom. tem gente se enclausurando em vidinhas medíocres. mesmo infelizes, não movem mais uma palha pra mudar isso.

eu sinto saudade. muita.
[e isso dói.]

hoje tb postei uma música que me faz saudosista. melhor nem me prolongar mais...
;)

bjos!

Anônimo disse...

Saudade é ser, depois de ter.

Guimarães Rosa

Tempo bom que não volta mais!!!
As pessoas vão esquecendo daqueles tempos, vão tomando outros rumos....e fica a suadade...lembra dessas pessoas de vez enquando..e tudo vai ficandocada vez mais distante.
A gente parece que fica com vergonha de ligar praquela amiga e incomodar...ou achar q ela vai nem ligar.....aaaaah mas a saudade....essa fica...pra sempre...a Saudade faz as coisas pararem no tempo!!!
Aliás...saudade de vc!!
bj