terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Aos homens do nosso tempo






Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engolido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engolidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDEIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDEIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco

Aos vossos olhos possa parecer.


Hilda Hilst
[Poemas aos homens do nosso tempo – I - homenagem a Alexander Solzhenitsyn]

* * *
Para quem estava sentindo falta por aqui de uma poesia profunda, marcante e muito significativa, nada como essa da Hilda Hilst pra esse finalzinho de ano - período de reflexão e balanços da vida tão atribulada em que vivemos.

Um comentário:

Marcello BBlanc disse...

yes! dedo na ferida!! é isso aí! e numa época muito oportuna! parabéns pela escolha, meu amigo! de fato, muito marcante e significativa. abraço