Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o
mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos
rostos
Rosto perigoso,
rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.
A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser
engolido
Por vossas gargantas
mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos
engolidos
Deixarão suas heranças, suas
memórias
A IDEIA, meus senhores
E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas
botas.
Cantando amor, os poetas na
noite
Repensam a tarefa de pensar o
mundo.
E podeis crer que há muito mais
vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra
Do que na mão que esmaga.
A IDEIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos
homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos
move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco
Aos vossos olhos possa parecer.
Hilda Hilst
[Poemas aos homens do nosso
tempo – I - homenagem a Alexander Solzhenitsyn]
* * *
Para quem estava sentindo falta
por aqui de uma poesia profunda, marcante e muito significativa, nada como essa da Hilda Hilst pra esse finalzinho de ano - período de reflexão e balanços da
vida tão atribulada em que vivemos.
Um comentário:
yes! dedo na ferida!! é isso aí! e numa época muito oportuna! parabéns pela escolha, meu amigo! de fato, muito marcante e significativa. abraço
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