domingo, 27 de maio de 2012

As três peneiras




Certa feita, um homem esbaforido, achegou-se a Sócrates e sussurrou-lhe aos ouvidos:
- Escuta, na condição de teu amigo, tenho alguma coisa muito grave para dizer-te, em particular.
- Espera! - ajuntou o sábio prudente. - Já passaste o que me vais dizer pelos três crivos?
-Três crivos?! – perguntou o visitante, espantado.
- Sim, meu caro amigo, três crivos. Observemos se tua confidência passou por eles. O primeiro é o crivo da verdade. Guardas absoluta certeza quanto àquilo que pretendes comunicar?
- Bem - ponderou o interlocutor - assegurar mesmo, não posso.  Mas ouvi dizer e… então…
- Exato. Decerto peineiraste o assunto pelo segundo crivo, o da bondade. Ainda que não seja real o que julgas saber, será pelo menos bom o que me queres contar?
Hesitando, o homem replicou:
- Isso não!… Muito pelo contrário…
- Ah! – tornou o sábio – Então recorramos ao terceiro crivo: o da utilidade. E notemos o proveito do que tanto te aflige.
- Útil? – aduziu o visitante ainda agitado. – Útil não é…
- Bem – rematou o filósofo num sorriso - se o que tens a confiar não é verdadeiro, nem bom e nem útil, esqueçamos o problema e não te preocupes com ele, já que nada valem casos sem edificações para nós.

* * *
E você? O que você conta por aí é realmente verdadeiro, bom e útil?

***
Imagem: de Atila Naddeo (2007) – Blog Olhares

Um comentário:

Mantha disse...

Simplesmente maravilhoso!! Adorei, menino!! Bjnhos