O brilhante curta-metragem Adam
e Dog é uma verdadeira obra-prima da animação. Nele, tudo parece ter mais
coração do que muitos filmes que eu vi ultimamente. É uma experiência artística
cinematográfica que não deve ser desperdiçada.
Adão criou o vínculo homem/cão
em primeiro lugar? Vai saber. De qualquer forma, este filme procura mostrar
claramente que ambas as espécies, desde os primórdios da humanidade, tinham
algo a oferecer um ao outro: a amizade.
Eis mais um ótimo curta criado
especialmente para comover e emocionar e cheio de sacadas sutis. Nem uma
palavra é dita nessa trama inteligente, a menos que você considere os latidos
do animal. O silêncio ajuda a criar a serenidade do mundo edênico do filme, e
tudo é contado sem esforço por meio de atos, gestos e expressões faciais. Assim
que o cão se depara com Adam, ou Adão, a gente percebe que está se contando uma
versão da história do primeiro cão do mundo e seu relacionamento no
Jardim do Éden e, no fim, fica claro por que os cães são tão especiais para a
humanidade. Mas a melhor sacada é a expulsão do Jardim do Éden e o quanto o cão
é fiel nesse momento.
Contar boas histórias é uma
arte extremamente sutil. Mesmo com a palavra escrita não é tão simples quanto
se pensa. Contar boas histórias é muito mais que descrever situações e passar
informações precisas. O narrador deve decidir, além de qual será a melhor forma
de estabelecer detalhes sobre os personagens, como criar tensão narrativa e continuar
contando a história sem se perder, sem deixar a peteca cair. E esse curta é
assim, de forma bem eficiente cria um mundo e estabelece o amor entre dois
personagens, em menos de 15 minutos, num ritmo absolutamente sem pressa e nem
por isso a gente perde o interesse, e nem imagina o que, afinal, vai acontecer. Nem mesmo que pode se surpreender. E se caso acertar o final, vai gostar muito mais.
Os curtas-metragens são
impressionantes, pois permitem aos seus produtores e cineastas a oportunidade
de ser diferentes e experimentais, sem o custo de um filme de longa-metragem e
garantindo um bom entretenimento e diversão a nós, meros espectadores. E o
espectador que se desarmar de certos conceitos ou de preconceitos vai sentir o
quanto esse curta é deslumbrante e poderoso.
Márcio Luiz Soares
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