Do nada resolvi voltar. Assim
como foi do nada que dei um tempo disto aqui. Mas não foi do nada que
decidi resenhar, ou simplesmente indicar, um livro que gostei muito. Me deu
aquela vontade de registrar e de compartilhar que, desta vez, não foi possível
resistir. Espero não resistir outras vezes.
***
Tudo acabou para Simon Axler, o
protagonista do surpreendente A humilhação, de Philip Roth. Um dos principais
atores de teatro norte-americanos de sua geração, agora na casa dos
sessenta, ele perdeu o seu talento, a sua magia em interpretar personagens
marcantes que "são derretidos no ar." Agora, no palco ele se
sente como um lunático, se sente como um idiota. Sua confiança em seus poderes foi
drenada; ele imagina as pessoas rindo dele; ele não pode mais fingir ser
outra pessoa. "Algo fundamental desapareceu." Sua esposa se foi, sua audiência o deixou, o seu agente não pode
convencê-lo a fazer um retorno.
Aos poucos, vê sua vida
sendo estilhaçada. Abandonado e sozinho, ele habita um estranho e triste mundo
de saudade e arrependimento, tendo adiante um infindável crepúsculo. No
entanto, inexplicavelmente ou não, diante de uma terrível auto-avaliação,
estoura um desejo erótico incomum, nada mais que um consolo para uma vida
que, conforme tudo indicava, seguiria dali pra frente desprovida de riscos,
cheia de desconforto e insatisfação - provavelmente tudo culminaria para
um fim ainda mais escuro, mais trágico e mais chocante.
Nesta jornada, o leitor
acompanha essa degradação não como se lesse um romance, mas um longo
conto. E foi com esta sensação que me vi diante de um personagem que tem
urgência em se sentir vivo, que sente sua bravura se esvaindo, mas sem
ter a certeza de que a possuía. No final de sua vida, o artista olha
para trás, reavalia temas antigos com um novo olhar. Apesar de o material obter
outra espessura, mais delgada, é submetido a novos processos de destilação,
oferecendo um líquido bem mais denso no alambique da consciência retrospectiva.
O sabor nem sempre é agradável.
Enfim, o autor nos convence,
sem muito esforço, que a velhice diminui a nossa solidez, nossos talentos, nossa
reputação, nossas performances de vida, de amor e de sexo, assim como a
esperança. Tudo é gradativamente removido. Para uns mais lentamente, para
outros mais rapidamente. Alguns sentem o baque. Outros fingem não
sentir.
Márcio Luiz Soares
Márcio Luiz Soares
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