Esta semana assisti a um
comovente drama baseado em fatos reais: Sylvia - Paixão além de palavras, com Gwyneth Paltrow
(ótima no filme) interpretando Sylvia Plath, poetiza americana que teve o seu
primeiro poema publicado aos oito anos de idade, além de centenas de poemas
escritos ainda em sua época de estudante. Considero o filme comovente pela forma como
abordou a depressão que foi tomando, envolvendo e encurralando a personagem
principal. O filme retrata o relacionamento da poetiza com o também poeta e
escritor Ted Hughes (interpretado por Daniel Craig).
Logo no início, acompanhamos o
namoro dos dois, ainda como estudantes e cheios de criatividade literária. O
filme segue mostrando seu casamento tumultuado enquanto trabalhavam e criavam dois filhos pequenos, passando por um misto de
amargura e infidelidade, em meio ao sucesso de Hughes e a insatisfação
profissional de Sylvia Plath. Após o divórcio, num período de poucos meses ela produziu as poesias surpreendentes que a faria muito mais famosa. Mesmo tendo
atingido o sucesso que desejava e escrito um romance (A redoma de vidro - com o pseudônimo de Vitoria Lucas), a poetiza
teve um fim trágico.
Este drama é muito bom, embora
triste e melancólico, vale a pena. A personagem, apesar da obsessão doentia, é
envolvente. Seus poemas foram pouco explorados no filme, mas os que foram
citados já denotam a carga emotiva e a qualidade textual peculiar da poetiza.
Eu já conhecia algumas de suas poesias, mas agora, depois de ver este filme, fiquei muito mais interessado.
Corri pra procurar seus textos na internet, e saber algo mais sobre sua vida. Fui muito influenciado pelo filme, claro, pois as poesias são narradas no filme de uma forma relativamente
sombria e isto, admito, me atraiu bastante.
Aliás, seus textos, além de
muito confessionais, são deliciosamente sombrios. Gosto de textos que deixam algo no
ar e que ao mesmo tempo expressam uma certa obscuridade, que o autor se expõe
ou que parece se expor, querendo indicar algo que aparentemente só ele é capaz
de ver ou de sentir. Não sei se consegui me expressar, mas o que quero dizer é
que, como disse uma das personagens do filme, "há uma perturbação
neles". E me identifico com isso também, principalmente por eu já ter
rascunhados alguns textos sombrios que, de tão obscuros, não os tiros da
gaveta. Pelo menos por enquanto.
O que se observa na poesia de Sylvia Plath é a agressividade, o sarcasmo, o vasto uso de metáforas e a maneira como
expressa suas emoções, fazendo com que o leitor imagine determinadas imagens
(que beiram o surreal) e, por meio delas, é possível compreender seus sentimentos. Para mim, seja em poesias ou em qualquer tipo de texto, isto é bem marcante. Destaco: Daddy (Papaizinho); Ariel; Lady
Lazarus; Mirrors (Espelhos); Words (Palavras); The Munich mannequins (Os manequins de Munique); e Frog Autumn (Outono de rã).
Abaixo, reproduzi parte do
diálogo que a personagem tem com seu ex-marido numa tentativa de
reconciliação.
Na sequência, a ótima poesia que
abre o filme. E que abertura!
Márcio Luiz Soares
*
“Nem somos duas pessoas. Mesmo
antes de nos conhecermos, éramos apenas duas metades andando por aí com grandes
espaços vazios no formato de outra pessoa. Quando nos encontramos, finalmente
nos completamos.”
*
A
árvore da vida
Às vezes eu sonho com uma
árvore,
E essa árvore é a minha vida.
Um galho é o homem com o qual
me devo casar
E as folhas, os meus filhos.
Outro galho é o meu futuro como
escritora.
E cada folha é um poema.
Um outro galho é a minha
brilhante carreira acadêmica.
Mas enquanto eu estou lá,
tentando escolher,
As folhas começam a ficar
marrons e começam a cair
Até que a árvore fica
completamente nua.
Sylvia Plath
*
Quer ver mais poesias dela?
Então clique aqui e aqui. Também pesquise pelos títulos que mencionei - poderá encontrar várias traduções divergentes, já adianto.
E como eu sou bonzinho, veja aqui a abertura do filme
que encontrei no Youtube.
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