sábado, 27 de junho de 2015
quarta-feira, 24 de junho de 2015
Sonhos e trapos...
Sonhos e
trapos...
Sou
um andarilho de pés nus,
de peito rasgado pelo sofrimento,
cabelos desalinhados pelo vento.
Sou um menino quase barbado,
um tanto violentado e sem sentimento.
Sou um ser apagado da sociedade,
um delinquente discriminado e valente.
Um menino sem sonhos e sem vaidade.
Estou desfigurado,
um menino em trapos,
que dorme em papelão puído.
Sou nada que me respeitem,
vagabundo, favelado,
rejeitado no meu canto poluído.
Não tenho cultura muito menos faculdade,
deste mundo fui excluído,
com tão pouca idade.
Nasci e fui abandonado,
no banco da praça largado.
As cores da minha vida foram apagadas,
com os chicotes das madrugadas.
Não sinto os sabores,
nem o calor de um abraço amigo.
Minha pele tem cicatrizes,
que não foram eu que fiz.
Se quer um mundo mais humano,
não cometa mais engano
ajude um menino de rua,
ser um pouco mais feliz!
de peito rasgado pelo sofrimento,
cabelos desalinhados pelo vento.
Sou um menino quase barbado,
um tanto violentado e sem sentimento.
Sou um ser apagado da sociedade,
um delinquente discriminado e valente.
Um menino sem sonhos e sem vaidade.
Estou desfigurado,
um menino em trapos,
que dorme em papelão puído.
Sou nada que me respeitem,
vagabundo, favelado,
rejeitado no meu canto poluído.
Não tenho cultura muito menos faculdade,
deste mundo fui excluído,
com tão pouca idade.
Nasci e fui abandonado,
no banco da praça largado.
As cores da minha vida foram apagadas,
com os chicotes das madrugadas.
Não sinto os sabores,
nem o calor de um abraço amigo.
Minha pele tem cicatrizes,
que não foram eu que fiz.
Se quer um mundo mais humano,
não cometa mais engano
ajude um menino de rua,
ser um pouco mais feliz!
sábado, 6 de junho de 2015
A boa terra
“Se não há luta, não há
progresso."
A
boa terra, da
escritora americana Pearl S. Buck, é um romance surpreendente, intenso, repleto
de sentimentos e de emoções. Um romance de beleza simples. É, acima de tudo, um
vislumbre da vida dos camponeses chineses e das mudanças sociais que afetavam
suas tradições.
Desde o início, o livro
apresenta uma narrativa cativante. O romance começa no dia do casamento de Wang
Lung, um humilde e silencioso camponês chinês que vive com seu pai; sua mãe havia
morrido seis meses antes. Sua noiva, O-lan, que ele ainda não conhecia, é uma
escrava numa casa da alta sociedade, onde Wang adentra totalmente envergonhado
por sua aparência pobre - Wang é um agricultor que carrega o peso de viver uma
existência precária.
Ao longo dos meses, O-lan se
junta a Wang em sua lavoura, mesmo quando engravida. A colheita é próspera. Por
diligência e frugalidade os dois conseguem ampliar sua propriedade. A família
cresce e quando tudo indicava mais e mais prosperidade veio a seca obrigando-os
a tentar a vida no sul do país. Mendigam para sobreviver, no entanto, viver
naquela cidade acaba por ser uma bênção disfarçada para eles. Wang Lung tinha a
convicção de que um dia voltaria para a sua terra e não demorou muito para isso
acontecer.
Wang Lung foi muitas vezes
desprezado por aqueles que tinham instrução ou uma habilidade para o comércio,
e muitas vezes as pessoas o chamavam de "Wang, o agricultor" de forma
depreciativa e seguravam o nariz expressando o desprezo para o alho que ele
comeu. Mas, apesar disso, o pequeno camponês tinha um orgulho muito grande da
terra que possuía, e esse orgulho é a sua característica mais distintiva. A
terra era tudo para ele. Seu discurso final no romance diz respeito à
importância de manter sua terra e nunca vender até mesmo uma pequena parte
dela.
Alguns críticos afirmam que
Pearl S. Buck não escreveu apenas sobre um fazendeiro chinês, mas sobre um
fazendeiro universal, aquele que sabe que suas riquezas e sua segurança vêm da própria
terra. Este conceito dá uma universalidade ao romance. A importância disso tudo
reside no conhecimento que a autora tem da China e dos chineses. Sua vida nas
áreas rurais da China também deu a ela uma visão profunda sobre o pensamento do
camponês chinês, algo que Mao Tse-tung descobriu enquanto planejava sua revolução. A história comprova que o líder comunista, eventualmente, veio a
depender de agricultores como Wang Lung, com a sua força de caráter, como um
núcleo de seus revolucionários.
A autora sutilmente, em leves
passagens, citou os conflitos políticos que a China enfrentava nas décadas de
1920 e 1930 sem se desviar das experiências da família de Wang. O camponês via e pouco entendia do mundo lá fora, e é assim que o leitor o acompanha.
Muitas vezes um escritor
evidencia seu estilo narrativo, Pearls S. Buck preferiu imprimir um tom
jornalístico sem ser documental. E se saiu muito bem. Isto é talento. É talento
por que o autor desaparece por trás dos personagens e eventos, sem interferência,
sem abusos, sem ser comercial e sem oferecer aquela leitura de caráter
comestível, mas sendo ao mesmo tempo - efeito causado pela dinâmica
psicológica, optando em colocar os pensamentos dos personagens no
direcionamento de diversos acontecimentos.
Infortúnios, prosperidade,
erros e acertos permeiam a vida de Wang Lung durante décadas. "Quando a terra
sofre, as mulheres sofrem. Quando as mulheres sofrem a terra sofre." A
autora capturou isso tão bem em seu livro! O-Lan gera seus filhos e encoraja
Wang Lung a prosseguir em seus sonhos, não importando se isso implicaria em sacrifícios
por parte dela. O-lan é tão básica como Wang Lung. No dia do casamento, quando
ela humildemente segue seu marido, ela é vista como um modelo, em alguns aspectos,
da esposa chinesa perfeita: humilde e subserviente. Na verdade, O-lan é tão
silenciosa que Wang Lung nunca sabe o que ela está pensando. É tão engenhosa
que Wang Lung (assim como os leitores) é constantemente surpreendido com a sua
capacidade de se adaptar a todas as situações. Durante muito tempo tiveram
sucesso em suas colheitas. No entanto, com o sucesso vem a ganância e a
corrupção. Eventualmente, ele toma uma segunda esposa e quebra os laços com todos
ao seu redor. O tempo todo O-Lan apoia suas decisões aparentemente de forma
serena e estoicamente suporta tudo. Foi preciso uma tragédia para Wang Lung ver
os erros que cometeu.
Passei a maior parte do tempo da leitura admirando e me alegrando com Wang Lung. Porém, por vezes senti raiva deste personagem exageradamente conservador, provinciano (lembrando que ser
provinciano não é um problema de origem ou de condição financeira, é uma forma de ver o mundo) e machista
(mas a China toda era assim, quase o mundo todo naquela época era machista e,
me desculpe se exagero, repleto de homens misóginos). Mas sendo uma questão
cultural, só resta ao leitor relevar. Com tolerância, claro.
Esse seu conservadorismo e
provincianismo chegavam a ser irritante. Wang achava que a verdade estava
limitada ao seu território, apesar de que nem sempre impedia que outras ideias
invadisse seu espaço, e quando isso ocorria encarava como ameaça ao seu ideário
construído e acabado, mas, no fim, considerava e pensava a respeito.
Seu machismo segue o que a
cultura determinava na época, mas foi muito penoso acompanhar o sofrimento das
personagens femininas que aceitam tudo silenciosamente ou com pouquíssimas
manifestações. Impossível não se comover com a vida de O-lan. Poucos leitores
lidam friamente com os maus-tratos das mulheres deste romance. No entanto, a
autora não perdeu o ponto, acertadamente não tentou defini-las como paradigmas
da moralidade. Mais uma vez, cabe ao leitor apenas entender que se trata dos
costumes da China.
Sem querer contar muito do enredo,
o sucesso de Wang é subscrito por sua vontade de ouvir a sua esposa, a maior
parte do tempo, e ao amor à sua terra, que para ele é sagrada. No final, ele
começa a perceber que sua esposa, como a terra, é a fonte de sua riqueza e
felicidade.
Um romance cativante e inesperadamente
brilhante que possui duas sequências: Os
filhos de Wang Lung e A casa dividida
– provavelmente tão bons quanto o primeiro da trilogia. Se eu tivesse que
escolher uma palavra para descrever A boa
terra, seria, indiscutivelmente: “autêntico”. Um clássico, sem dúvida
alguma.
Ilustração: John Thomas Biggers (Pearl S. Buck's "The Good Earth" - 1964)
domingo, 24 de maio de 2015
quarta-feira, 20 de maio de 2015
Vozerio
Vozerio
Colo
meu rosto na mesa e sinto frestas em minha pele
Estou
no espaço mudo onde o vasto pensar me cansa
A
luz se abstém e os lençóis mal vistos debruçam sobre a cama
O
desejo não vem e fraqueja a voz que rasga a garganta
Imersa
em terra firme que não racha
Confronto
a sombra de não dormir comigo
E
é esse barulho a me atormentar
Flagelando
as sequências de minha demência
Inquieta
no lugar que me afasta
Entrei
no espaço inexistente: eu
Que
sentimento moribundo balbucia-me?
Corta
palavras
Quebra
o silêncio
E
o barulho vem de dentro
domingo, 10 de maio de 2015
Parte da trilha
Para alegria de fãs como eu,
Susanne Sundfør foi convidada pra cantar a música tema do filme Oblivion. E ela arrebentou mais uma vez.
Dona de um vocal espetacular e esplêndido essa cantora norueguesa comprova que
qualquer projeto que a envolva é garantia de sucesso. Principalmente quando se
junta a produtores de peso como o M83.
A música, que também se chama Oblivion, que no filme só toca durante
os créditos finais, é de uma melodia rebuscada e arrebatadora. Susanne solta a voz
em grande estilo, entregando-se aos versos com muito sentimento, de forma incondicionalmente
tocante, empregando um toque mágico - é de arrepiar. Sua flexibilidade vocal
permite um desempenho inebriante. Não é à toa que esta música, assim como
muitas outras de suas canções, faz parte da minha trilha sonora. Essa música é
absolutamente brilhante, imponente e deslumbrante. Duvida? Então confira.
Márcio Luiz Soares
sábado, 25 de abril de 2015
Perdido nas senhas
“O homem é o homem e sua
circunstância.” Não, esqueça Ortega y Gasset. O homem do século XXI é o homem e
suas senhas.
As senhas são sua identidade
secreta assim como a identidade secreta do Super-Homem é Clark Kent. Clark Kent
é um bobalhão grandão, de óculos. Eu, Joaquim das Neves, sou um bobalhão de
óculos, ao entrar na cabine do caixa eletrônico. Mas, ao digitar a senha –
“chapa do carro do meu pai quando eu era criança” -, transformo-me num
Super-Homem capaz de fazer jorrar dinheiro. No cartão de crédito sou “nosso
telefone na infância”; no cartão da farmácia, “nome do meu cão mais os quatro
primeiros algarismos do telefone de minha primeira namorada”; no UOL, “nome de
minha avó materna mais os quatro primeiros números do telefone da avó paterna”;
na Net, “nome da minha irmã mais a chapa do carro do meu cunhado”.
As senhas vão compondo um
patchwork de minhas memórias e meus afetos.
Digite seu CPF e, em seguida,
seu código de acesso. Lá vai: 033.546.880. E o código de acesso? Deixe-me
lembrar. “Telefone do antigo escritório?” Não deu. Você tem mais duas
tentativas. “Data de nascimento de minha mãe.” Não deu. Talvez “data de
casamento de meus pais”, mas esqueci a data de casamento de meus pais. Vou
arriscar. Esta é sua última tentativa. Não, agora me lembro. É “dia e mês de
nascimento de minha mãe mais ano de nascimento de meu pai”. Lá vai. Não
reconheço esta senha. Desculpe, mas seu acesso será bloqueado.
Para desbloquear, o senhor terá
de responder a algumas perguntas. Qual a última loja em que efetuou compras com
o cartão? Casas Bahia. Não confere. Cite um estabelecimento em que faz compras
frequentes. Padaria Aracaju. Não confere. O senhor não me poderia fazer
perguntas mais fáceis? A raiz quadrada de 80 549? Ou o último parágrafo de
Ulisses, de Joyce? Diga a data de vencimento de seu cartão. Mas é minha mulher
que sempre paga. Desculpe, não posso desbloquear seu cartão. Sou um mero
Joaquim das Neves, de quem não se pode reconhecer a identidade porque não sabe
o que compra, onde compra e quando paga. Sou um Clark Kent que se atrapalha na
hora de trocar a roupa, na cabine telefônica, e por isso não consegue voar.
No plano de saúde sou “nome da
primeira professora mais dia do aniversário do tio Jorge”. Ou será que sou
“três primeiras letras da rua da infância mais os três algarismos do número da
casa”? Não. Deve ser “telefone do primeiro emprego mais nome do avô da minha mulher”.
Estou confuso. Sofro de uma crise de asma, estou a ponto de morrer, e não
consigo lembrar mais nada: casamento dos pais, nascimento do filho, sobrenome
do patrão, nome do cachorro, marca da primeira bicicleta, time do coração,
chapa do automóvel, telefone da tia Alzira.
Estou bloqueado no cartão e na
vida, por isso vou morrer neste saguão, e em minha lápide escreverão: “Aqui jaz
alguém que esqueceu sua senha, portanto é inútil tentar identificá-lo”.
Certa vez experimentei uma
senha única para tudo, mas me alertaram: “Não é aconselhável usar a mesma senha
para diferentes serviços”. Também é aconselhável trocar a senha de tempos em
tempos. Eis-me com uma multidão de identidades, o que equivale a não ter
nenhuma. Serviria para fornecer um bonito painel da minha vida, mas não para
viver – como viver sem senha?
Qual o seu nome? Joaquim das
Neves. CPF? 033.546.880. Telefone, com código de área? (12) 8456-7890. Agora
digite sua senha, composta de números, letras e sinal. Tente outra vez,
pausadamente. Errou de novo, infelizmente não poderemos atendê-lo. Mas se eu já
dei meu nome, CPF, telefone? Se quiser, posso dizer o nome de minha avó, do
cachorro, do time favorito, o número de meu primeiro telefone, o da chapa do
primeiro automóvel, o da data de nascimento de minha filha – o que não sei é
combiná-los de forma a satisfazê-lo, senhor. Desculpe, senhor Joaquim das
Neves, se é que o senhor se chama mesmo Joaquim das Neves, se é que o senhor é
o senhor, se é que tem existência real.
Uma vez anotei todas as senhas.
Mas onde guardar a anotação? E como lembrar onde foi guardada, depois? Seria
preciso outra anotação, com o lugar onde foi guardada, mas onde guardá-la? Não.
Anotar também não é aconselhável. A conclusão é que o mais seguro de tudo é
esquecê-las todas. Pronto. Estou completamente blindado, inclusive contra mim
mesmo. Não sou eu para nada. Não existo. Melhor assim.
(Revista Veja - edição 2419 - abril/2015)
sexta-feira, 24 de abril de 2015
Enchendo
enchendo
invento
os lugares
para
não estar neles
escrevo
palavras que não leio
para
me deixar inacabado
o
dia amanhece de graça
por
isso não vou a espetáculos
vou
botar fogo nos poemas
porque
estão enchendo o saco
Ilustração: Hotel Window by Jane Fisher (Artwork Images)
terça-feira, 21 de abril de 2015
Sylvia Plath
Esta semana assisti a um
comovente drama baseado em fatos reais: Sylvia - Paixão além de palavras, com Gwyneth Paltrow
(ótima no filme) interpretando Sylvia Plath, poetiza americana que teve o seu
primeiro poema publicado aos oito anos de idade, além de centenas de poemas
escritos ainda em sua época de estudante. Considero o filme comovente pela forma como
abordou a depressão que foi tomando, envolvendo e encurralando a personagem
principal. O filme retrata o relacionamento da poetiza com o também poeta e
escritor Ted Hughes (interpretado por Daniel Craig).
Logo no início, acompanhamos o
namoro dos dois, ainda como estudantes e cheios de criatividade literária. O
filme segue mostrando seu casamento tumultuado enquanto trabalhavam e criavam dois filhos pequenos, passando por um misto de
amargura e infidelidade, em meio ao sucesso de Hughes e a insatisfação
profissional de Sylvia Plath. Após o divórcio, num período de poucos meses ela produziu as poesias surpreendentes que a faria muito mais famosa. Mesmo tendo
atingido o sucesso que desejava e escrito um romance (A redoma de vidro - com o pseudônimo de Vitoria Lucas), a poetiza
teve um fim trágico.
Este drama é muito bom, embora
triste e melancólico, vale a pena. A personagem, apesar da obsessão doentia, é
envolvente. Seus poemas foram pouco explorados no filme, mas os que foram
citados já denotam a carga emotiva e a qualidade textual peculiar da poetiza.
Eu já conhecia algumas de suas poesias, mas agora, depois de ver este filme, fiquei muito mais interessado.
Corri pra procurar seus textos na internet, e saber algo mais sobre sua vida. Fui muito influenciado pelo filme, claro, pois as poesias são narradas no filme de uma forma relativamente
sombria e isto, admito, me atraiu bastante.
Aliás, seus textos, além de
muito confessionais, são deliciosamente sombrios. Gosto de textos que deixam algo no
ar e que ao mesmo tempo expressam uma certa obscuridade, que o autor se expõe
ou que parece se expor, querendo indicar algo que aparentemente só ele é capaz
de ver ou de sentir. Não sei se consegui me expressar, mas o que quero dizer é
que, como disse uma das personagens do filme, "há uma perturbação
neles". E me identifico com isso também, principalmente por eu já ter
rascunhados alguns textos sombrios que, de tão obscuros, não os tiros da
gaveta. Pelo menos por enquanto.
O que se observa na poesia de Sylvia Plath é a agressividade, o sarcasmo, o vasto uso de metáforas e a maneira como
expressa suas emoções, fazendo com que o leitor imagine determinadas imagens
(que beiram o surreal) e, por meio delas, é possível compreender seus sentimentos. Para mim, seja em poesias ou em qualquer tipo de texto, isto é bem marcante. Destaco: Daddy (Papaizinho); Ariel; Lady
Lazarus; Mirrors (Espelhos); Words (Palavras); The Munich mannequins (Os manequins de Munique); e Frog Autumn (Outono de rã).
Abaixo, reproduzi parte do
diálogo que a personagem tem com seu ex-marido numa tentativa de
reconciliação.
Na sequência, a ótima poesia que
abre o filme. E que abertura!
Márcio Luiz Soares
*
“Nem somos duas pessoas. Mesmo
antes de nos conhecermos, éramos apenas duas metades andando por aí com grandes
espaços vazios no formato de outra pessoa. Quando nos encontramos, finalmente
nos completamos.”
*
A
árvore da vida
Às vezes eu sonho com uma
árvore,
E essa árvore é a minha vida.
Um galho é o homem com o qual
me devo casar
E as folhas, os meus filhos.
Outro galho é o meu futuro como
escritora.
E cada folha é um poema.
Um outro galho é a minha
brilhante carreira acadêmica.
Mas enquanto eu estou lá,
tentando escolher,
As folhas começam a ficar
marrons e começam a cair
Até que a árvore fica
completamente nua.
Sylvia Plath
*
Quer ver mais poesias dela?
Então clique aqui e aqui. Também pesquise pelos títulos que mencionei - poderá encontrar várias traduções divergentes, já adianto.
E como eu sou bonzinho, veja aqui a abertura do filme
que encontrei no Youtube.
sábado, 11 de abril de 2015
A humilhação
Do nada resolvi voltar. Assim
como foi do nada que dei um tempo disto aqui. Mas não foi do nada que
decidi resenhar, ou simplesmente indicar, um livro que gostei muito. Me deu
aquela vontade de registrar e de compartilhar que, desta vez, não foi possível
resistir. Espero não resistir outras vezes.
***
Tudo acabou para Simon Axler, o
protagonista do surpreendente A humilhação, de Philip Roth. Um dos principais
atores de teatro norte-americanos de sua geração, agora na casa dos
sessenta, ele perdeu o seu talento, a sua magia em interpretar personagens
marcantes que "são derretidos no ar." Agora, no palco ele se
sente como um lunático, se sente como um idiota. Sua confiança em seus poderes foi
drenada; ele imagina as pessoas rindo dele; ele não pode mais fingir ser
outra pessoa. "Algo fundamental desapareceu." Sua esposa se foi, sua audiência o deixou, o seu agente não pode
convencê-lo a fazer um retorno.
Aos poucos, vê sua vida
sendo estilhaçada. Abandonado e sozinho, ele habita um estranho e triste mundo
de saudade e arrependimento, tendo adiante um infindável crepúsculo. No
entanto, inexplicavelmente ou não, diante de uma terrível auto-avaliação,
estoura um desejo erótico incomum, nada mais que um consolo para uma vida
que, conforme tudo indicava, seguiria dali pra frente desprovida de riscos,
cheia de desconforto e insatisfação - provavelmente tudo culminaria para
um fim ainda mais escuro, mais trágico e mais chocante.
Nesta jornada, o leitor
acompanha essa degradação não como se lesse um romance, mas um longo
conto. E foi com esta sensação que me vi diante de um personagem que tem
urgência em se sentir vivo, que sente sua bravura se esvaindo, mas sem
ter a certeza de que a possuía. No final de sua vida, o artista olha
para trás, reavalia temas antigos com um novo olhar. Apesar de o material obter
outra espessura, mais delgada, é submetido a novos processos de destilação,
oferecendo um líquido bem mais denso no alambique da consciência retrospectiva.
O sabor nem sempre é agradável.
Enfim, o autor nos convence,
sem muito esforço, que a velhice diminui a nossa solidez, nossos talentos, nossa
reputação, nossas performances de vida, de amor e de sexo, assim como a
esperança. Tudo é gradativamente removido. Para uns mais lentamente, para
outros mais rapidamente. Alguns sentem o baque. Outros fingem não
sentir.
Márcio Luiz Soares
Márcio Luiz Soares
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