domingo, 28 de março de 2010

Restos





Numa noite cheia de surpresas

Sinto que devo uma

Sinto que devo todas


Calei-me diante de uma situação

Fonte de expectativas nulas

O resto é sensação


A sensação deixa restos


Rasgou-se em mim uma nova era

Surgindo em meio a conflitos e ansiedades

O resto é decisão


E a decisão também deixa restos


Nunca esquecido e sempre abandonado

Anulo-me perante a decisão que o resto de mim adiou

Ou o que o pior de mim permitiu

Culpo-me por ser implacável comigo mesmo

Exceto por amor e por prazer

Sempre clamando por atenção

Sou dono de um coração aflito que não suporta queixas

Apenas do que de mim restou


O resto é óbvio


Mas que ironia: o óbvio não deixa restos!



Márcio Luiz Soares


* * *
Depois de um tempo de abandono, um poeminha vem bem a calhar. Claro que pra mim.

Tudo começou num agradecimento a uma amiga - algumas poucas e sutis palavras que anotei em sua agenda. O resto (ou “Restos”) foi o que ficou me martelando dentro do carro de volta pra casa. Deu nisso.

* * *
Ilustração: Remains of the Day, de Petervanallen