segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A moça do vestido estampado





Quando ele viu a moça de vestido estampado pela primeira vez foi num leve esbarrão perto da fila de ingressos de um cinema, dentro de um shopping center. Houve uma repentina e magnética troca de olhares. Em questão de milésimos de segundos, houve mais do que uma troca, houve um interesse, um leve desejo, uma cobiça. Um braço a puxou para o outro lado. Era da amiga dela, com o namorado, apressando-a. Ele retomou seu curso, mas não resistiu uma olhada para trás. Ela fez o mesmo. Não houve sorrisos. Apenas interesse. Ela sumiu na multidão. Ele então comprou o ingresso.

Trinta minutos para o início do filme. Decidiu comprar algumas guloseimas. Durante o percurso tentou avistar a moça do vestido estampado - aquela garota mexeu com ele. A procurou por todos os lados. Sem êxito.

Quando entrou na sala do cinema, já nem lembrava mais da moça. Escolheu um lugar próximo ao corredor, entre as colunas de poltronas. Não podia saber, mas foi o melhor lugar que poderia ter escolhido.

Durante as divulgações de outros filmes, não deixou de perceber que uma pessoa parou na escada do corredor e que o observava. Era ela. A moça do vestido estampado de minutos antes. A moça do leve esbarrão. Ela o fitava, meio que surpresa, mas não menos do que ele. Houve aquela troca outra vez. Seus olhares pareciam congelados. Mais uma vez, durou pouco. Logo as luzes se apagaram e ficaram na penumbra. A mesma voz, da amiga com o namorado, a chamou para sentar. Ele não se conteve e a procurou. Ela também sentou ao lado do corredor, mas no sentido oposto, como se fosse para permitir que ele a visse. Ela cruzou as pernas. Ele não soube se ela fez isso de propósito, para seduzi-lo, pois ela olhava para a amiga com o namorado. A intensa e clara luz do início do filme o ajudou a reparar que ela era dona de pernas atraentes. Instigando ainda mais. Excitando ainda mais.

Sentido-se tentado, quis convidá-la para sentar-se ao lado dele. Não, isso seria muito abusado de minha parte, pensou.

Ah, o filme! Um filme muito interessante! Logo se distraiu com ele. A moça do vestido estampado não pareceu estar mais distante em seus pensamentos, esquecida devido ao filme. Apenas na espera. Seu desejo ficou em stand by.

Não demorou muito a moça do vestido estampado passou ao seu lado, apressada, procurando a saída que lhe pareceu difícil de encontrar. Ele pensou em ajudá-la, e, talvez, ir embora com ela - mesmo sendo tão cinéfilo. Estava querendo entender o motivo de tanto desejo que parecia ser tão recíproco. No entanto, ela conseguiu encontrar a saída. Ele se arrependeu de não ter descido.

Mas ela estaria mesmo indo embora? Não. Mas ela perdeu uma parte muito interessante do filme, pensou ele. Por pouco não tomou coragem de pedir para sentar ao seu lado. Esse pouco não ajuda em nada! Nunca!

Sentiu vontade de ser mais audacioso. Ou de voltar a ser. Exatamente como era na sua juventude quando o desejo aflorava com muita intensidade. Sempre foi tímido, exceto quando sentia uma atração muito forte e, principalmente, se fosse correspondido. Não tinha medo do não. O que importava era tentar. Se não tentasse jamais saberia se daria certo. E tinha que tentar saciar seus desejos. Quando não seguia em frente, ficava puto consigo mesmo. Coisa que não sentia quando recebia um não. O azar era da dona do não.

O filme foi longo. Mas nem saberia disso, se não quisesse ver a moça do vestido estampado outra vez. Maldita multidão apressada! Ele a perdeu de vista.

Já fora do cinema, decidiu ver as novidades numa livraria antes de ir embora. Estava perdido em seus pensamentos, quando sentiu o cheiro de um perfume deliciosamente inebriante e um braço encostar no dele enquanto estava na escada rolante. Era a moça do vestido estampado. Conversava com a amiga com o namorado e parecia nem ligar para quem estava do lado. Parecia. Mas estava ligada e muito.

No piso superior, os olhos da moça procuraram por ele. Nem a multidão deixou que ele perdesse isso, aumentando seu desejo de querer conhecê-la, de querer saciar essa fome que despontava inexoravelmente. Ela continuava procurando seus olhares. Duas vezes. Três vezes. Quatro. Três vezes quatro.

Iria sorrir e acenar para ela. Convidaria para se aproximar.

Repentinamente, um esbarrão. Um maldito de um esbarrão! Dois rapazes pararam de supetão e o impediu de continuar. A multidão foi cruel com ele de novo. Pensou ter perdido a moça do vestido estampado de vez. Resolveu encarar os fatos. Não passava de uma paquera tola e infrutífera. Mais uma de tantas.

Só que essa era diferente. Tinha algo mais.

Ah, sim. A livraria. Estava chegando perto. Dessa vez sua mão roçou no quadril de alguém. Não durou mais do que um segundo, mas sentiu uma certa eletricidade, como se já conhecesse aquele quadril, como se reconhecesse a maciez do tecido do vestido estampado!

Era ela novamente. Não! Ela deve estar de brincadeira comigo! Pensou ele, com satisfação. Será que era o seu dia de sorte? Só tentando. A chamaria para entrar na livraria com ele, sem se importar com a amiga com o namorado.

De novo, outro esbarrão. Dessa vez, alguém esbarrou na moça do vestido estampado. Uma massa enorme, disforme, redondamente esdrúxula. Uma mulher que mais parecia um obstáculo, uma parede. Um ser terrivelmente estabanado que a tirou do caminho dele!

Ele se aproximou da livraria. Ela não. Estava meio que rindo, meio que xingando a dona da massa enorme. Mas também parecia estar procurando algo. Olhava para um lado, para outro, para frente e para trás. Mas ele estava um pouco mais para trás, à sua direita. No único lugar em que ela não olhou.

Ele olhou. Para ela. Observando a moça do vestido estampado ir embora. Distante. Pequena.

Seguir? Não. Não deve ter passado de uma simples e tola paquerinha. Uma brincadeirinha. Incapaz de machucar, de ofender, de iludir.

Uma semana depois, lá estava ele outra vez. Ia em direção ao cinema desejando outro leve esbarrão.

Haveria uma nova troca de olhares. Com a mesma moça. Mas desta vez não deixaria que um braço a puxasse. Não precisaria olhar para trás. Faria que ela ficasse perto dele, sorriria para ela, a cumprimentaria e falaria com ela como se fosse íntimo. E tudo aconteceria porque a amiga com que ele comentou o caso o motivou e o intimou a ir ao mesmo lugar e na mesma hora. Confiante, certo de que ela, a moça do vestido estampado, pensaria a mesma coisa, desejaria a mesma coisa, e que também teria a mesma certeza que ele.

Ele não teve medo de não a reconhecer. De certo ela não estaria usando o mesmo vestido estampado. Seria melhor se ela usasse. Facilitaria muito. Mas seria querer demais.

O vestido estampado parecia fazer parte do seu corpo. O desejo não foi provocado pelo vestido estampado, mas a excitação sim. Algum dia pediria para ela usar. E pediria ainda mais. Pediria para entrar no cinema com o mesmo vestido. Pediria para cruzar as pernas da mesma maneira. Ele iria olhar para trás exatamente como fez antes. Desta vez se levantaria. Sentaria ao lado dela. Sentiria a maciez do tecido em sua mão. Sentiria o calor do corpo tão desejado. Sentiria, numa proximidade estonteante, o cheiro da nuca da moça do vestido estampado, da mesma forma que desejou da primeira vez. Teria que ser o mesmo perfume. O mesmo perfume agradável que o inebriou na escada rolante.

Ele não teve medo de não a reconhecer. Se não fosse pelo vestido, seria pelo cheiro. Não o cheiro do perfume na escada rolante. O cheiro que nunca percebemos que sentimos. O feromônio. Aquele cheiro que os animais distinguem a milhas de distância, mas que somos incapazes de perceber que nos afeta, que nos impulsiona, nos deixando inebriados e confusos, criando um desejo por vezes incontrolável.

Não. Não podia acreditar que isso bastasse. Precisaria de mais. Precisaria ficar de olho. Precisaria movimentar a cabeça para todos os lados, como um segurança a procura de um suspeito. Precisaria prestar atenção a cada mulher que passasse por ele. Precisaria passar nos mesmos lugares. Precisaria de um leve esbarrão para saber que se tratava da mesma moça do vestido estampado.

Não. Definitivamente não precisaria de nada disso. Seguiria pelo mesmo caminho, sim. Pagaria pelo ingresso. Sairia para comprar as mesmas guloseimas. Faria o mesmo caminho de volta ao cinema. A moça do vestido estampado estaria por perto.

O pensamento estava firme e confiante. Exatamente como sua amiga pediu para fazer. E ele fez. Durante todos os dias, a semana toda, várias vezes por dia. Ele acreditava piamente nisso.

Olhou no relógio do telefone celular. A sessão começou. Estava numa outra sala, numa outra sessão.

Não. Ela não iria ver o mesmo filme. Nem ele.

Ela não quis ver o mesmo filme que ele.

A escada rolante não lhe passou o cheiro do perfume.

A multidão não o ajudou e nem o atrapalhou desta vez.

Não houve esbarrão.


Márcio Sclinder


quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Sem você





Sem você


nenhuma metáfora
traduz a falta
nenhuma imagem
exata

faca encravada
nesse silêncio
dia sem dia
piada sem graça
acordar sem você
me mata


Frederico Barbosa


* * *

Tirei a tarde para ir no II Sarau Literário promovido na Pinacoteca Benedito Calixto, em Santos, e a poesia acima foi uma das maravilhosas poesias declamadas no evento. Se pudesse postaria todas por aqui - se ao menos eu tivesse gravado!

Muita coisa boa rolou por lá, além de ótimos comentários dos participantes sobre como anda a cultura em Santos e por todo o Brasil. O que impressionou, inclusive aos participantes, foi a quantidade do público que compareceu, lotando o local, justo num feriado municipal de muito sol e calor. Um bom sinal.

E por tocar no assunto, Santos completa hoje 465 anos. Parabéns, Santos!

Senti falta de uma apresentação noturna espetacular de algum artista musical de renome na praia do Gonzaga em homenagem ao aniversário, como tem acontecido nos últimos anos, mas há várias tendas montadas ao longo de toda orla para contentar aos mais exigentes. Vai ser assim até sexta. Hoje perdi, mas vou tentar não perder o resto. E isso me faz lembrar que as férias já estão no fim... (snif).

* * *

Foto de Marlon, Praia do Gonzaga – Santos (Blog Olhares)


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Parte da trilha





Tem hora que uma determinada música toca fundo na gente, sem relação com algum acontecimento ou alguma pessoa, nos deixando leve, com vontade de curtir intensamente aquele exato momento e desejando que o resto dos nossos dias seja sempre assim. Exatamente assim. Isso tem acontecido com frequência comigo.

É uma sensação gostosa, que mesmo a gente sabendo que vai durar muito pouco, fazemos questão de esquecer tudo e só o que importa é saborear aqueles segundos preciosos. Parecido com o que acontece quando estamos apaixonados e, mesmo quando estamos desfrutando um contato pra lá de epidérmico com a pessoa, temos a impressão de que aquilo não vai se repetir tão cedo e, então, temos que aproveitar ao máximo. Possível e impossível.

Hoje, foi essa que tocou fundo. Muito fundo.




sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Comitê de boas-vindas





Cá estou de volta pra minha terrinha querida, curtindo o que resta das merecidas férias. Já contei por aqui o tanto que gosto de Santos, e nem sei que magia tem essa cidade, capaz de me tranqüilizar, causando uma paz que ainda não encontrei em nenhum outro lugar – e duvido que seja pelo fato de ter vivido minha infância por aqui.

Nem me importo se a areia não é fofa e branquinha (nem tudo é perfeito), nem me importo se os turistas, ou parte da população mesmo, deixa pra trás muito lixo na praia – não, me importo sim, mas sabecomoéne? - a gente se acostuma... Nem me importo se chove muito mais do que eu gostaria, se tenho que esperar horas na fila do restaurante preferido, se o apartamento que estou hospedado não é de frente pro mar (mas é de lado, dá pra ver um tequinho).

O que importa é que me sinto bem, descanso a cabeça, sinto o cheiro e a brisa do mar, ouço o som reconfortante da quebra das ondas antes dos mergulhos, leio à beça, e faço caminhada pra dedéu na areia, bem na orla, pra compensar as brejas geladas.

E foi na primeira caminhada, ligando o rádio pra ouvir músicas (isso não pode faltar quando se caminha sozinho, jamais!), que, parecendo uma ajuda dos deuses, logo sintonizei uma estação que tinha colocado naquele exato momento uma música muito inspiradora, diante de tudo que estava vendo e desejando sentir durante minha estadia: Clarear, do Roupa Nova. Se não conhece, não lembra ou deseja recordar, clica no clipe que encontrei no Youtube, no final da postagem (antes, pause o player à direita).

Mas não parou por aí, não. A rádio fez uma seleção tão cuidadosa, alegre e gostosa que estava parecendo coisa de um comitê de boas-vindas exclusivo para mim! Um grande sucesso atrás do outro, daquelas que fazem parte da minha trilha sonora e até as que eu não conhecia ou não são tão famosas agora passaram a fazer parte. E como sou da turma que elegeu (e eternizou) as músicas dos anos 80 como sendo as melhores de todos os tempos, expressava um “uhu!”, ou um ‘uaaau” ou um “yesss!” a todo momento que tocava uma daquela época tão gostosa. O povo que passava por mim deve ter me achado meio doido. Teve uma senhora que primeiro se assustou, depois esboçou um sorrisão, como que entendendo o que se passava comigo.

É impressionante como a música mexe com a gente. Capaz de estimular; de marcar um momento, eternizar um acontecimento; de apaixonar; fazer moda; fazer sorrir ou chorar; ou, simplesmente, relaxar. Sem dúvida, uma das melhores criações do ser humano. O que seria de nós sem ela? Bom, esse pode ser papo pra uma outra hora.

Quando estive por aqui em 2009, descobri a rádio Classic Pan, muito boa também e recomendo. Desta vez, a causadora do meu bem-estar, e vai aqui outra dica boa, é a rádio Santa Cecília FM (107, 7 – Santos e região). Também pode ser acessada no site www.santaceciliafm.com.br. Que bom!

Agora vou continuar a ler mais algumas páginas de um ótimo livro antes de dormir e acordar para mais uma caminhada cheia de saudosismo e alegria. E de muito "uhu"!





sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Acredite em você





Apesar das dificuldades, de alguns incômodos, acontece muita coisa boa na vida da gente. Só o fato de viver - e conseguir sobreviver - já é motivo de satisfação. Passamos a vida toda realizando coisas e algumas das realizações fazem parte de alguns desejos, de algo que sonhamos. Existe desejo melhor que o de realização dos nossos sonhos? Pois é. Quando a gente consegue realizar algum desejo, quando realizamos algum sonho, é uma alegria só! A gente se enche de satisfação e só quer saber de comemorar. Eu comemoro. Até sozinho - se não tiver outro jeito. Não deixo passar em branco, não!

2011 não será um ano qualquer para mim e, certamente, muito menos será para você. Considere simplesmente como sendo o seu ano! E se chegar ao final do ano, ao fazer o balanço, concluir que não foi tão bom assim, qual o problema? Paciência! Ainda assim foi o seu ano! Algumas coisas podem não dar certo, assim como acontece com todo mundo. O que quero dizer é: abrace seus sonhos e tente realizá-los, hoje, amanhã e sempre – e se sinta feliz por ter planejado, por ter investido em você, por ter se comprometido e por ter tentado.

Aproveite o mês de janeiro para fazer uma reestruturação pessoal, se nada planejou no passado, aproveite agora. Determine que algumas metas sejam alcançadas em um curto espaço de tempo, aquelas que não são absurdas, que não causem frustrações se não forem cumpridas no prazo estipulado. Comece com pequenos objetivos que estejam ao seu alcance. Conforme você atinge essas metas, se sentirá estimulado para cumprir metas mais complexas.

Não durma no ponto, comece a agir o quanto antes! Mesmo que seja depois do Carnaval, mas comece! Acredite em você, respire o entusiasmo, sinta que é capaz, respeite-se, não faça aquilo que não te faz bem substituindo por uma coisa que te traga alegria.

Siga o curso normal da sua vida, trabalhando, estudando, visitando os familiares e amigos e se divertindo muito! Evite o estresse, organize seu tempo, evite o sedentarismo praticando exercícios, leia livros, vá ao cinema, faça passeios regularmente, escolha um barzinho de sua preferência para beber um pouco e conversar com as pessoas que são interessantes para você.

Comece agora, aproveitando o verão, época em que o convívio costuma ser mais intenso. Que o calor desta estação estimule o bem-estar e atue diretamente no seu bom humor.

Desejo um verão feliz e saudável para você. Divirta-se!


Márcio Luiz Soares

sábado, 8 de janeiro de 2011

Comprometimento




(clique na imagem para ver ampliada)


Antes ou depois das confraternizações [que só acontecem uma vez por ano - uma só basta?], das festas de natal com familiares e amigos, da troca de presentes com o “amigo secreto” e do réveillon com muita alegria, comida, bebida, fogos e tudo o que se tem direito, é natural algumas pessoas prometerem para si mesmas o cumprimento de certas metas até que outro ano acabe. As pessoas muito determinadas conseguem cumprir a grande maioria dessas metas. Outras conseguem cumprir uma boa parcela. Porém, a maioria das pessoas nem se lembra das promessas que fez. Se é que fez.

Um dos diversos motivos que impedem as pessoas de realizarem a grande parte de seus desejos é a falta de comprometimento.

Comprometimento não se resume na capacidade de cumprir metas e sonhos, não é simplesmente tentar cumprir ao máximo o que planejou para si mesmo dentro de um período estabelecido. É muito mais que isso. É um diferencial a ser conquistado. Comprometimento é tudo que as pessoas fazem para os outros, sem a necessidade de solicitações.

Não importa se está no trabalho, se está em casa ou na rua. Quando estamos comprometidos - seja com alguma causa específica, seja por solidariedade, ou simplesmente por questão de educação e bom senso -, nós surpreendemos as pessoas, de forma consciente ou não. Sem almejar algo em troca além do reconhecimento, assim como do envolvimento social, da reciprocidade e da satisfação pessoal. Comprometer-se atrai credibilidade.

Infelizmente, não encontramos muito disso por aí. Geralmente vemos as pessoas realizarem apenas o que julgam ser estritamente necessário. Ficam passando a responsabilidade para outras. É como se dissessem: “eu faço apenas o que me mandam fazer, não faço nada além do que sou pago para fazer”. Claro que não precisa cumprir tarefas que fogem da alçada profissional ou dar informações se não tem prerrogativa suficiente para isso. Mas não custa nada ajudar um pouco mais, certo?

No entanto, não é apenas no trabalho que devemos ser comprometidos. Se você é daquelas pessoas que gosta de tentar ajudar a resolver o problema das pessoas, ou prefere fazer bem-feito qualquer tarefa do início ao fim, então você é um bom exemplo de pessoa comprometida. Se você está muito longe disso, então é melhor rever seus conceitos.

Invertendo um pouco a situação, só para exemplificar, já reparou que muitas vezes alguém (ou até você mesmo) passa por uma bola de papel jogada no chão e não se dá ao trabalho de agachar para colocar no cesto de lixo? Quantas vezes não se vê por aí um copinho descartável sujo de café, esquecido em algum canto, e ninguém dá o destino certo para ele? E no supermercado, quando alguma fruta ou verdura, ainda boa, esta caída no chão e a deixam lá, largada, para ser chutada ou pisoteada por alguém? Estes são exemplos de descomprometimento com a civilidade e com os bons costumes. Muitos chamam isso de falta de educação e de bom senso. Trata-se de valores pessoais. Valores que nos foram ensinados na infância. Ou que, pelo menos, deveriam ter sido.

O mundo todo está em constante mudança. Mudando muito mais rápido que antes. Essas mudanças estão exigindo mais requisitos e mais envolvimento de cada um de nós. Comprometimento já faz parte dos atributos que muitas pessoas consideram essenciais dentro e fora do local de trabalho. Faça parte desse grupo. De uma forma ou de outra, você vai sair ganhando.



Márcio Luiz Soares

* * *

Comprometimento: ato ou efeito de comprometer-se. Processo interativo que se consolida a responsabilidade pelos resultados esperados. É algo muito superior, é fazer sempre o melhor, da melhor maneira possível, é se colocar de corpo inteiro numa causa.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O primeiro





Janeiro é o primeiro mês do resto de um ano que certamente será de turbulência e transformação, riso e lágrima, avanço e retrocesso, tempestade e seca, denúncia e pizza, prazer e desamor, mergulho e vôo cego. Será? O ano mal começou, e já faço previsões. Somos viciados nelas. Posso deixar para depois a lista de como o ano será? Pois assim é janeiro, o melhor mês do calendário: esperanças renovadas, promessas estabelecidas e, para a grande parte, férias de verão. Portanto, o depois pensamos depois.

Janeiro é alegre, como um comercial de cerveja. Aliás, todos os comerciais de cerveja retratam o primeiro mês do ano? As mulheres parecem sorrir em janeiro. Como em comerciais de cerveja. Janeiro é conciliador. Fora que em janeiro todos vestem as roupas novas que ganharam no Natal. Em janeiro há abundância de calor e chuva, de suor e nudez. Não há grandes eventos esportivos, transmissões pela TV, estréias teatrais, festivais de cinema ou música, feiras de livro ou arte. Porque em janeiro até o pensamento pede refresco. Não se fecham negócios em janeiro. Nem se começam tratamentos. Nem novela estréia em janeiro. Em janeiro, não há presença do amanhã. Adiamos decisões, pois queremos apenas curtir o mês de janeiro. Janeiro tem gosto de água-de-coco. A trilha sonora de janeiro é a bossa nova. Uma que não fala de tristeza.

Em janeiro não se aprende nada. Fica tudo para depois do Carnaval. Em janeiro, ninguém faz nada. Me confundo. Em janeiro não fazemos nada? Fazemos. O mínimo.

Janeiro já começa com um feriado. Que parece durar 31 dias. É o mês em que todos os dias são sábado. Todos os sábados têm cara de janeiro. O mês lembra um mar sem vento, um céu sem nuvens. Parece meio-dia para os bichos. Recupera-se o que perdeu no anterior, ganha-se fôlego, apagam-se as arestas. Os ressentimentos ficam esquecidos. Em janeiro prometemos de tudo. Parar de fumar, prometem os fumantes. Fazer mais exercícios, prometemos todos. Ficar mais tempo em casa (os estressados). Menos tempo em casa (os sedentários). Prometemos também coisas banais, como aprender sobre vinhos, a cozinhar, a pescar. Janeiro é como uma piscina sem ondas, um livro fechado, um presente ainda embrulhado.

Em janeiro é como o ano deveria ser, ou como a vida poderia ser: com aquela vontade de dessa vez acertar. De dia, uma rede, um olhar perdido, uma sede, uma sombra, no máximo um sorvete. De noite, que calor, gente na rua depois da chuva, vivendo o começo de um novo tempo, aliás, temporada. Ironicamente, quem mais trabalha em janeiro é o povo que prepara o carnaval.

Como é feliz este mês. Eu amo janeiro. Ele é dourado como o sol. Reluz alegria. É o bebê de todos os meses. É a infância de todos os anos. Em janeiro, somos todos crianças engatinhando para os degraus de fevereiro, março, abril… Em janeiro, não temos medo de viver.


Marcelo Rubens Paiva