quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Desejos






Eu queria ter me tornado um jogador de futebol. Logo me convenci que não era bom nisso. Desde cedo levava jeito para os negócios. Para alegria da minha mãe. Meu pai pouco se importava. Ter uma mãe muito ambiciosa me tornou uma pessoa fria. Apesar das tentativas carinhosas do meu pai. A única coisa que herdei dele foi o seu distanciamento que adquiriu ao longo do tempo. Rendendo-se. 

Quem também se rendeu foi Eliana. Desistiu de insistir. Deixei de desejá-la como antes. Não foi por crueldade do tempo. Ela continua encantadora. Sempre foi naturalmente sedutora. Desde menina. Mas eu a queria possuir simplesmente por querer tudo. Naturalmente ambicioso. Sempre fui. Não sabia perder. Não gosto de perder. As únicas coisas que não me importei em perder foram o seu amor e o seu desejo. Eu já tinha outros desejos. Como tantos outros que passam e deixam marcas. Nunca mais me apaixonei. Se eu me apaixonei. Difícil ter certeza. 

Paixão era o que Jorge sentia pela Eliana. Mas eu também a desejava. Como desejei um jogo de tabuleiro de Jorge. Uma espécie de estopim em minha vida. Eu logo entendi por que Eliana me escolheu. Foi pela minha agressividade. Sempre fui audacioso. A frustração de ficar de fora do futebol me tornou assim. Um golpe de sorte. Ou destino.

Mas não foi o destino que me trouxe até aqui. Para o meu mundo de aço e concretos. Foi a solidão. Sou solitário por opção. Minhas posses não me dão o que realmente preciso. Encontrar comigo mesmo. Desconsertar o passado. Intensificar a vida. Sacrificar os desejos. Lamentar o que o tempo cura. Entristecer com as fraquezas. Enxergar que o copo está meio cheio. Prorrogar os momentos felizes.

Um dia vou desistir de desejar tanto. Talvez assim eu busque o que Jorge sempre teve. A simplicidade. Talvez assim eu me torne o que Eliana sempre foi.  Uma conquista.



Márcio Sclinder

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O texto acima completa a trilogia Vozes. Não precisa ler na ordem, mas ler na sequência torna o último episódio mais interessante. 
Episódio 1 - O Jogo
Episódio 2 - Razões

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Foto: Nature . Sea . Landscape (Miroir - Ubiquité) de Tiquetonne2067 (Flickr)

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ops!



...ops!

...e me vejo ...visivelmente arranjando... ...motivos/maneiras/formas/assuntos/desculpas/programas/guloseimas...
...etc e tal
...só para te ter por perto!

...bandeiraça!

Confissão só para evidenciar o fato.



Patrícia Pisarro

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Ilustração: Dancing in the Moonlight, de Mc Cool

Clique na imagem para ampliar.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Pior que está sempre pode ficar






A cada início de campanha e, principalmente, a cada programa no horário eleitoral gratuito, aumenta a certeza da necessidade de uma revisão geral nas regras eleitorais, dentro de uma verdadeira reforma política. Não dá mais para tolerar aquele amontoado de pseudopartidos, com pseudocandidatos, ocupando espaço nobre no rádio e na televisão. Não dá mais para aturar discursos vazios, caras-de-pau, piadinhas infames, ignorância e mais do mesmo. Não dá mais para aceitar palhaços brincando de políticos e políticos fazendo palhaçada. Não tem mais graça.

Na outra ponta, dos partidos e candidatos “sérios”, a situação não é muito melhor. O que vemos é uma falsa polarização de discursos na disputa pela Presidência, pois a oposição não faz oposição e a situação se contenta em converter uma candidatura forjada na simples continuidade de um governo, como se isso fosse realmente possível. É preciso mudar o que está aí. E, pelo que se vê a cada eleição, e ao contrário do que diz o slogan de um dos “palhaços candidatos”, pior do que está, pode ficar sim.


Ricardo Alécio

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Acompanhe o autor pelo Twitter: www.twitter.com/ricardoalecio

Texto extraído da coluna Xeque-Mate, do Correio Popular de 31/08/2010, Campinas/SP

Ilustração: charge de Dalcio (http://dalciomachado.blogspot.com/)