quarta-feira, 27 de maio de 2009

Da cadeira para o banquinho





É difícil expressar os sentimentos em uma hora dessas, hora em que a mente já não consegue raciocinar direito. Posso dizer que é um sentimento de revolta? Sim, é um sentimento de revolta.

Como é levantar da cadeira e sentar no banquinho, do lado de fora? Bom, acredito que todos vocês sabem o que é isso, o que isso significa. Quando decidi, por escolha própria, sentar no banquinho, pensei comigo: “É agora, vamos mostrar quem somos, o que queremos. Vamos gritar mais alto”.

Quem acha que é fácil, que experimente trocar a cadeira pelo banquinho, a mesa pelo chão, o teclado pelos próprios joelhos, como apoio de tanto cansaço. Isso sem falar nos pensamentos, onde esquecemos os cálculos, as cotas, as tramitações, os erros do sistema e passamos a raciocinar em cima de frases de luta, de palavras de ordem, de gritos, mas também de esperança.

Esperança que é dominada pelo cansaço, pela angústia. E não digo isso porque perdi a esperança, mas porque para mim, esta palavra perdeu um pouco de suas letras.

Não cabe a mim julgar ninguém pelos papéis desempenhados durante a greve, lembrando que desempenhamos papéis todos os dias, seja em casa ou no trabalho, mas em momentos conturbados como esse é que percebemos com mais nitidez os papéis de cada um, e acredito que desempenhamos bem o nosso papel.

Volto do banquinho para a cadeira, carregando nos ombros uma revolta por não ter conseguido caminhar até o fim... E que fim será este? Peço desculpas por não ser mais forte, mas os braços já estão pesados e os pensamentos já não estão tão organizados assim.

E nesse meu fim, volto revoltado, acho que muito mais comigo mesmo, mas não volto com vergonha, porque junto com vocês, tivemos a coragem de caminhar até o banquinho, tivemos a coragem de gritar, tivemos a coragem de expressar a nossa indignação e, com certeza, ainda estamos indignados.

Acredito que demos um passo importante, embora eu não consiga dar mais nenhum.

Isto é apenas um desabafo, uma maneira de dizer o que estou sentindo.

O que levo da experiência de trocar a cadeira pelo banquinho?

Garra, vontade de mudar e, sobretudo, coragem...



Esdras Queiroz Reginato

* * *

Carta escrita por um colega de trabalho, que, vencido pelo cansaço, desistiu de continuar na luta por um aumento de salário digno. Quando nos entregou esta carta, foi um momento de muita comoção, solidariedade e compaixão.

Deixo aqui registrado seu desabafo. A sua postura, sob qualquer circunstância, é motivo de honra, respeito e de muita estima por todos nós, protagonistas deste processo tão ingrato.

[O mais importante, amigo Esdras, é que você voltou de cabeça erguida, pois defendeu os seus direitos e dos demais companheiros e nada vai macular sua dignidade.]

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Abismo




Tão próximos e tão distantes.
Há um abismo entre nós.
Sem toques,
Queixas,
Cobranças,
Nada que lembre o que fomos um dia.

Sabe, sinto uma saudade danada,
De sentir saudade,
De querer teu cheiro,
De desejar teus beijos,
Da espera ansiosa.

Queria tanto acordar e perceber que nada mudou.
Que continuamos os mesmos,
Cúmplices,
Amantes.
Queria te amar novamente,
E ser tua por inteiro,
E tremer só de te olhar.

Ensina-me o caminho de volta.
Diz o que faço.
Queria tanto novamente te amar!


Kátia Martins

sábado, 16 de maio de 2009

Um



Aqui

Palavras cobertas de emoção
Certas ou não
Acumulam-se

Enchem

Palavras no curso do pensamento
Perdidas ou não
Desconstroem

Enchem

Palavras nas sombras
Metafóricas ou não
Entregam-se

Enchem

Palavras escolhidas
Reflexivas ou não
Preenchem

Quem quer sentir

Palavras
Com imagens ou não
Em verbos
Em sons

Alegria deu para sentir

Palavras
Ou não
Um ano já se foi
Não deu para sentir

Aqui


Marcio Luiz Soares


* * *

Minha homenagem ao primeiro ano deste blog.
Um período bom, interessante e, até mesmo, desafiante. A meta continua a mesma: postagens sobre qualquer coisa interessante e de qualidade. Um pouco de tudo. Nada de diário, quando muito, apenas apontamentos. E ainda engatinhando.

terça-feira, 12 de maio de 2009

A família no ritmo do mundo contemporâneo





Os avanços tecnológicos recentes tornaram possível a comunicação, em tempo real, a praticamente qualquer ponto do planeta. Paradoxalmente, os contatos intrafamiliares vão se tornando cada vez mais escassos. Tomando apenas um recorte do panorama vivido especialmente na classe média e alta da nossa sociedade, podemos trazer como exemplo, um comportamento que nos é bem familiar nos dias de hoje: ao chegarem da escola, crianças e jovens entram em casa apressados, largando pelo caminho a mochila e outros pertences e dirigem-se incontinentes para o computador ou para a televisão, diante dos quais podem permanecer por horas a fio, alheios a tudo à sua volta. Não raro, até as refeições são feitas diante desses aparelhos. Por outro lado, as famílias de hoje raramente conseguem se reunir a cada dia para as refeições, perdendo-se assim aquele momento de encontro e cumplicidade de seus membros.

Conversando com um adolescente de treze anos sobre sua rotina, ele descreveu uma agenda repleta de atividades após a escola. Questionado então se ele não tinha algum tempo para não fazer nada, para sonhar simplesmente, ele surpreendeu-se com a pergunta e disse: “Você quer dizer, tédio?” Depois de um tempo, respondeu: “Bem, isso acontece na escola, durante as aulas...”

Qual seria o sentido deste “agir sem cessar”, tão característico dessa geração que tem pouco espaço para refletir, para dialogar, para conviver livremente? Parece que esse tempo sem programação é vivenciado como tédio, como um vazio insuportável que precisa ser preenchido rapidamente.

Nesse contexto, o computador parece oferecer a solução mágica, ao proporcionar a sensação de estar acompanhado e no comando da situação angustiante. Os pais, por sua vez, perplexos e inseguros diante das mudanças vertiginosas da tecnologia, dos valores e dos costumes, falham frequentemente ao não exercer a função paterna, fundamental para o estabelecimento de limites seguros para um desenvolvimento saudável.


Ruth Cerqueira Leite

* * *

Num mundo saturado pelas novas tecnologias, pela mídia, pela informação em tempo real, pelo acúmulo de trabalho e, devido à concorrência profissional, onde a necessidade de se atualizar por meio de diversos cursos de pós-graduação, entre outros, muitos pais mal têm tempo de prestar atenção em si mesmos e cometem, o tempo todo, essa negligência com seus filhos. Essa falta de atenção influencia seus filhos. Se dessem a atenção que merecem, serviriam de modelos, e a influência seria positiva. O que se observa é própria falta de tempo, ou a péssima divisão deste tempo em casa, nesses horários familiares frenéticos, assim como falta de demonstração de amor, afeição e de diálogo, muito diálogo.

No texto, a psicanalista Ruth Cerqueira Leite não toca no assunto de que a culpa é totalmente dos pais, e não é mesmo. No entanto, muitos problemas poderiam ser evitados se dedicassem mais carinho e atenção, e se suas vidas não fossem vividas pela metade. Nossa vida não é feita apenas para o trabalho. Temos que dedicar um tempo muito razoável para nós mesmos e nossas famílias. Não importa a idade dos nossos filhos, temos que procurar fazer diversas atividades juntos, como viajar, passear, ir ao cinema, ir a uma livraria, a uma lanchonete, ouvir músicas, praticar algum esporte, fazer uma simples caminhada e até mesmo brincar no quintal. Enfim, criar uma convivência agradável num ambiente cheio de serenidade.

Não é de hoje que diversos sociólogos de família reforçam a importância da interação entre pais e filhos. Nas camadas da sociedade menos favorecidas, o problema aumenta. Alguns pais valorizam o autodirecionamento (na classe média isso é muito evidente), enquanto outros preferem adotar uma atitude conformista - e até mesmo passiva – e só se manifestam quando é estritamente necessário, mas aí pode ser tarde demais. E existem diversos outros problemas com que se preocupar também, como a erotização da infância (tema polêmico e preocupante), como a influência das amizades a partir da adolescência.

Receio que, da forma como a coisa está indo, sem as devidas mudanças e conscientizações, uma boa parcela desses indivíduos que vivem apenas no mundo dos games, das conversinhas babacas em messengers e em sites de relacionamento, terão dificuldades extremas no futuro, faltando-lhes integridade, sem muita noção do que é certo e errado, de como enfrentar as dificuldades e se destacarem num mundo competitivo que, ao que tudo indica, ficará ainda pior no futuro.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Wolverine







“Sou o melhor naquilo que faço, mas o que faço
não é nada bonito de se ver”
Logan/Wolverine


Eu gostei do filme X-Men Origens: Wolverine. E não foi apenas por ser fã do personagem. A diversão é garantida, apesar do longa ser um pouco fraco em um ou outro momento. E mais uma vez assisti com os olhos de cinéfilo e não com olhos de leitor de histórias em quadrinhos – nunca espero perfeição nas adaptações. Sei que é difícil separar e não comparar, mas tenho conseguido, relativamente. Ao menos enquanto estou na sala de cinema. Mesmo fazendo essa separação, sendo leitor de HQ fica mais fácil aceitar as cenas de ação que são pura marmelada. Como a grande maioria dos filmes de ação abusa nisso, então isso já se tornou passável. Mesmo se eu comparasse o filme com as diversas HQ do Wolverine, especialmente com a graphic novel que trata da sua origem, consideraria um bom entretenimento, com um ou outro furo do roteiro e algumas mudanças inaceitáveis para um fã do personagem.

O roteiro é muito movimentado, de muitas reviravoltas e alguns momentos inesperados. Gostei das diversas cenas de luta e de explosões (o filme tem ação quase o tempo todo) e da sensacional e vibrante interpretação de Hugh Jackman como Wolverine (também conhecido como Logan, ou, ainda, James Howlett, seu nome de batismo). Foi a quarta vez que ele interpretou o mutante e se superou desta vez. Faltaram as cenas de raiva pura em que ele dilacera tudo e todos pela frente, com muita violência e muito sangue, demonstrando todo seu aspecto brutal de antes de fazer parte do X-Men. Porém, isso não influencia muito na caracterização do personagem da franquia (da franquia cinematográfica e não da HQ) e nem quebra o ritmo do filme.

O começo é bem sombrio, e isso, sim, fez falta no restante da fita. Fez falta até mesmo quando Victor Creed (ou Dentes-de-sabre, vivido pelo ótimo Liev Schreiber) aparece em cena, junto com o clima de vingança e o cheiro da morte iminente (para dois personagens que possuem o poder de cura, isso nem conta muito). Aliás, Scheiber fez um personagem convicente: escroto, manipulador e malicioso. Sem falar do aspecto físico. Muito diferente daquele insosso e um pouco ridículo que aparece no primeiro X-Men.

O filme conta também com uma bonitinha e leve história de amor entre Logan e Silver Fox, musa que o inspirou a adotar o nome Wolverine; como surgiu esse nome; como o adamantium (o metal mais duro do universo da HQ) foi implantado no corpo do Logan; muita vingança; uma cena chocante (e apelativa) que envolve um casal de velhinhos; e uma relação complicada com o rancoroso Victor Creed, seu meio-irmão. A sequência em que estes dois vão passando por diversas guerras durante décadas, numa bacana montagem, é uma das melhores do filme.

Uma dica para quem pretende assistir ao filme no cinema: aguarde os créditos finais, porque tem mais uma cena do filme enquanto eles rolam (sempre que posso, espero até o fim). Na verdade, conforme me disseram, foram gravadas três cenas diferentes e infelizmente cada sala de cinema só passa uma delas. Ou seja, existem três “finais” diferentes. Fique tranquilo, pois nenhum deles compromete e obviamente fará parte dos extras do lançamento em DVD – é só aguardar.

sábado, 2 de maio de 2009

Maio




Maio
Já está no final
O que somos nós afinal
Se já não nos vemos mais
Estamos longe demais
Longe demais

Maio
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais
Eu preciso de alguém
Sem o qual eu passe mal
Sem o qual eu não seja ninguém
Eu preciso de alguém

Maio
Já está no final
É hora de se mover
Pra viver mil vezes mais
Esqueça os meses
Esqueça os seus finais
Esqueça os finais
Eu preciso de alguém
Sem o qual eu passe mal
Sem o qual eu não seja ninguém
Eu preciso de alguém
Eu preciso de alguém
Sem o qual eu passe mal
Sem o qual eu não seja ninguém
Eu preciso de alguém

Maio, junho, julho, agosto, setembro
Outubro, novembro, dezembro

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A canção Maio do Kid Abelha, para você curtir essa maravilha em duas versões: o clipe original e uma versão ao vivo. Clique nos dois e escolha o melhor. Eu fico com os dois.