sábado, 31 de dezembro de 2011

Mais um ano de sonhos





Um novo ano está começando, um novo ciclo se inicia, retornam e revigoram-se os pedidos de paz, saúde, compreensão, amor e prosperidade - tudo isso é muito importante. Mas também deseje para si continuar a sonhar e a buscar a realização dos seus sonhos, para que, assim, tenha sempre muitos motivos para ser feliz!

Feliz 2012 pra você, navegante!


Márcio Luiz Soares

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Imagem de Caio Mosca Pantarotto

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Deixe para trás



Por enquanto é só. E nem precisa mais.

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Imagem de Caio Mosca Pantarotto.
[clique na imagem para ampliar]

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Espelho





"O que é um espelho? É o único material inventado que é natural. Quem olha um espelho, quem consegue vê-lo sem se ver, quem entende que a sua profundidade consiste em ele ser vazio, quem caminha para dentro de seu espaço transparente sem deixar nele o vestígio da própria imagem - esse alguém então percebeu o seu mistério de coisa."


Clarice Lispector
Extraído do livro Água Viva.

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Aos homens do nosso tempo






Senhoras e senhores, olhai-nos.
Repensemos a tarefa de pensar o mundo.
E quando a noite vem
Vem a contrafacção dos nossos rostos
Rosto perigoso, rosto-pensamento
Sobre os vossos atos.

A muitos os poetas lembrariam
Que o homem não é para ser engolido
Por vossas gargantas mentirosas.
E sempre um ou dois dos vossos engolidos
Deixarão suas heranças, suas memórias

A IDEIA, meus senhores

E essa é mais brilhosa
Do que o brilho fugaz de vossas botas.

Cantando amor, os poetas na noite
Repensam a tarefa de pensar o mundo.
E podeis crer que há muito mais vigor
No lirismo aparente
No amante Fazedor da palavra

Do que na mão que esmaga.

A IDEIA é ambiciosa e santa.
E o amor dos poetas pelos homens
é mais vasto
Do que a voracidade que nos move.
E mais forte há de ser
Quanto mais parco

Aos vossos olhos possa parecer.


Hilda Hilst
[Poemas aos homens do nosso tempo – I - homenagem a Alexander Solzhenitsyn]

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Para quem estava sentindo falta por aqui de uma poesia profunda, marcante e muito significativa, nada como essa da Hilda Hilst pra esse finalzinho de ano - período de reflexão e balanços da vida tão atribulada em que vivemos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

Papai Noel - the day after





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Ilustração de Ivan Jerônimo

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Aviso aos navegantes: que o seu Natal seja, ou tenha sido, cheio de paz, harmonia e de muita integração com amigos e familiares. E se não receber o presente que tanto deseja, se ganhar algo que nem sabe o que fazer com ele, não se importe, afinal alguém se preocupou contigo, se lembrou de você. Na verdade, o mais importante é a alegria e a oportunidade de poder se reunir, nesse dia tão especial, com as pessoas que tanto estimamos e amamos.

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Veja o vídeo da campanha publicitária de Natal de uma rede de lojas britânica, é muito surpreendente. 


Tradução do final da campanha: "Para os presentes que você não pode esperar para dar".

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Papai Noel arrebentando




Papai Noel big rider

Fala aí, brodá!!

O Claus é cascudo, é cheio de pegar onda em back side, cheio de querer fazer manobra cavada, não tem nada de cabrerão ou maroleiro, não!

O cara é meio cabuloso, mesmo numa vaca, ou quando dá um caldo, depois duma jaca ferrada, se abre todo!

Nem quando era haole, numa crowd, sempre foi massa, da tribo mesmo, sem kaô, sem pala, nunca foi prego ou pipocou e de uns tempos pra cá tá mais free surfer, dando o maior stryle!

Faz tempo que não faz uma drop ou uma leque, mas faz uma cut back sensacional, tanto quanto uma front side ou uma floater numa glass, ou mesmo uma grab rail, manja?

O estranho é que nessa foto aí ele tá num flat... mas tá limpo.

Saca o estilo do cara! Aeeee, arrebentou Santa!


Márcio Sclinder

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Não entendeu merda nenhuma? Google save!

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Ilustração de Ivan Jerônimo.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A magia do seu sorriso





O seu sorriso é capaz de provocar reações que nem você imagina!

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Imagem editada por Caio Mosca Pantarotto.

sábado, 10 de dezembro de 2011

O Palhaço





Um amigo convidou-me a ver o filme, sobre o qual sabia pouca coisa a não ser um pedaço de uma entrevista de Marília Gabriela com Selton Melo, que vi numa zapeada rápida num fim de noite e que me instigou a querer saber mais.

Gosto das coisas que Selton Melo faz. Divirto-me às terças-feiras com a tal “Mulher invisível”, de sua direção, onde dá pra captar um jeito diferente de mostrar situações banais, engraçadas, mas reais.

Selton superou-se neste filme. Mostrou-se dono de uma sensibilidade sem igual e aprisiona o telespectador fazendo com ele uma conexão de sintonia fina. Logo me lembrei de “Noites de Cabíria” (Fellini) com Giulietta Masina. Aquele realismo intimista que nos pega de surpresa, e nos atinge.

Apesar dos palhaços, o filme me causou tristeza. E é nesta antítese, creio eu, que reside toda sua beleza.

A simplicidade comovente das personagens, do cenário, das locações; um Brasil que nos esquecemos que ainda existe em algum ponto do mapa convivendo lado a lado com a modernidade das metrópoles.

Aquele cenário mineiro com as serras azuladas, contornando o horizonte... os campos... as casas pobres. Pobres, não, miseráveis. A caipirice bonita e singela dos excluídos que ainda são tantos me levou a Guimarães Rosa e sua frase que amo: “... Dá-me um silêncio e eu conto”.

Tocante, pelo menos pra mim, foi a preocupação do personagem com a necessidade do outro; ora era o sutiã que a gorda senhora precisava que não lhe saía da cabeça, e tentava consegui-lo das formas mais esdrúxulas; ora, era o ventilador que lhe ocupava os pensamentos como num delírio.

Um filme que conseguiu se impor com poucas palavras, sem “purpurina” alguma, o que desmente a canção de Gil: ”quanto mais purpurina, melhor”. Nenhum efeito especial tão em moda, que faz o delírio de Hollywood. Apenas um sentimento dramático, intenso, imenso, permeava entre as personagens, tanto quando estavam tentando viver com dignidade de sobreviventes, “suas próprias vidas”, em suas casas de lona, ou quando se travestiam escondendo seu verdadeiro eu nas máscaras de suas “personas,” e entravam em cena. O olhar, o jeito de falar, o sorriso ou o choro, o tom da voz denotavam uma carga grande de dramaticidade em meio à simplicidade.

Aqueles encontros após o espetáculo, quando sozinhos, ou aos pares amorosos, cantavam, riam, brincavam ao som de um violão solitário, foi aprisionador para a sensibilidade de qualquer mulher intuitiva. Donde concluí que a felicidade independe de hora e lugar. Só depende de instantes. E cada qual consegue segurar o seu quinhão seja a que preço for, mesmo que por momentos.

Aquela lona rota, as roupas meio esfarrapadas, a falta de “glamour” contrastavam com a garra, a coragem, a lealdade, a amizade. Contrastou, também, em meio a tanta grandeza, a safadeza da mulher que enganosamente pensava estar trapaceando o homem que a amava. Que engano. Trapaceou-se a si própria.

É o tal feitiço virando contra o feiticeiro.

Engraçado, como o coração humano se acostuma com situações as mais perversas. Isto se aplica a todas as fases, épocas e meandros da vida.

Aquele sol escaldante, aquela estrada poeirenta, aquele caminhão caindo aos pedaços, os diferentes sonhos dentro de cada coração, a luta pelo existir, pelo simplesmente ser, onde o ter não ocupava qualquer resquício de espaço.

Sempre alguém querendo se aproveitar da situação e tirar algum proveito. O prefeito que queria fazer do filho um “Olavo Bilac” das Gerais, o fiscal da prefeitura que queria ingressos de graça. Um agir bem “macunaíma", bem ao espírito do caráter brasileiro.

Não sei explicar direito, mas esse bater de frente com toda essa realidade que agora nos foge à vista, mas, até alguns anos atrás, tão comum no interior do país, me deixou mexida. Apesar das risadas que dei com algumas situações, saí triste do cinema.

E acabei me lembrando da célebre frase de John Donne: “Por quem os sinos dobram”? Eles dobram por mim mesma.

Maldita lucidez!


Ercília Pollice

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Este filme me tocou profundamente. Selton Mello teve como principal objetivo, na criação do roteiro e na direção segura, tocar o âmago de cada espectador. Com certeza ele não conseguiu o seu intuito com a grande maioria, pois este tipo de sensibilidade, precisa e interpretativa, é reservada para um determinado grupo.

A minha amiga Ercília, autora do texto, faz parte deste grupo, pois exaltou o filme com muita propriedade, de forma aguçada, pertinente e coerente com a narrativa da película, que é a de mostrar a realidade dos artistas circenses de outrora e de hoje. Além de procurar mostrar, também, as esperanças, os erros e acertos, as perseveranças, e, principalmente, as tristezas que, obrigatoriamente ou não, estes artistas dividem com a comicidade. Decidiram viver divertindo e alegrando os outros, e assim, simplesmente vivem.

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Hoje, 10 de dezembro, é comemorado o Dia do Palhaço, parabéns a estas pessoas que preenchem as vidas das crianças de uma encantadora alegria.

Márcio Luiz Soares

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Lar doce lar




“Onde amamos, é o nosso lar: lar que nossos pés podem deixar, mas não nossos corações.”

Oliver Wendell Holmes


segunda-feira, 28 de novembro de 2011

domingo, 20 de novembro de 2011

A verdade e a mentira





A verdade marcou um encontro com a mentira. A verdade chegou na hora, pontual e certa. A mentira chegou atrasada e se justificou: "Minhas pernas são curtas e bambas. Mas não conte a ninguém". A verdade nada disse. Apenas sorriu. A mentira prosseguiu: "O que você quer de mim? Eu sou bonita, você é feia, eu sou jovem, você é velha, eu sou extrovertida, você é tímida, eu sou agradável, você é desagradável, eu sou, enfim, aquilo que as pessoas querem. Posso ser qualquer coisa, estar em qualquer lugar, posso fazer tudo o que quero e francamente, não vejo porquê de estar aqui, nesse momento, perdendo meu tempo com alguém que não é bem-aceita em todos os lugares. O que você quer de mim afinal?", disse a mentira com a voz ligeiramente esganiçada.

A verdade com voz límpida e cristalina, respondeu apenas: "Quero lhe dizer que, apesar de sua beleza e formosura, eles querem a mim. As pessoas buscam a mim, mesmo quando encontram você".

Na hora de ir embora, sempre apressada, a mentira botou o casaco da verdade e saiu correndo. A verdade, para não passar frio, botou a roupa da mentira. E todo mundo achou que a verdade era a mentira e a mentira era a verdade. Mas foi só por um tempo. Logo um vento soprou revelando as pernas curtas e bambas da mentira disfarçada.



Diléa Frate
Histórias para acordar

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O botão certo






Está frio lá fora. Não me importo. Saio. Quero ver as estrelas. Quero ser abraçado pela Lua e descansar meus pensamentos. Sua luz reconfortante tornaria tudo mais suave. Mas ela não consegue vencer a batalha contra as nuvens. Resta-me sua energia.

Como forte aliadas tenho as músicas que jorram pelo fone de ouvido. As notas penetram implacavelmente. Embarco numa viagem de alegria, dor e saudade que se misturam resultando num sentimento de enorme satisfação por eu ter feito parte de um momento especial. Por ter feito a minha parte.

Os momentos nunca mais voltarão. Mas estão eternizados dentro de mim. Basta uma fotografia, ou um encontro casual, uma conversa, ou, simplesmente, uma música para apertar o botão certo.

Simplesmente?

Não, não tem nada de simples nisso. Como pode haver simplicidade com tanta emoção sendo despertada? Essa chuva torrencial de imagens rapidamente enche um balde feito de lamentação. E ao transbordar, as imagens se transformam em sentimentos escondidos. Outrora esquecidos pelo tempo. Adormecidos.

Até breve, encantadora Lua. Até logo, músicas do passado.

Olá, meu querido travesseiro, companheiro de muitas madrugadas de solidão e tristeza. Lenço vencido. Eis-me aqui. Como antes. Como sempre.

Será assim até o fim. Sim, até o fim.


Márcio Sclinder

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O "botão certo" pode ter sido acionado com a música do clipe abaixo. 





[clique na imagem para ver o vídeo em tela maior]

Letra e tradução: aqui.

sábado, 5 de novembro de 2011

Saudade





Saio a caminhar a esmo
Seu fantasma me acompanha pelas ruas do mundo
Vejo flashs de você na multidão da praça
Vejo você na rua nua
Vejo você na mesa crua de uma cafeteria qualquer
Vejo você na solidão da minha cama
Sinto seu beijo, suas mãos
Ouço sua voz... diz que me ama...
Como pode continuar aqui
Quem aqui nunca esteve?
É como diz Neruda:
Saudade é quando o amado partiu,
Mas o amor ficou.


Ercilia Pollice

sábado, 29 de outubro de 2011

Descomplique





"Tudo deveria se tornar o mais simples possível, mas não simplificado."

Albert Einstein

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Deveríamos buscar a simplicidade sempre. Não somente caminhando na praia, andando de bicicleta sem destino, indo a qualquer lugar sem compromisso, sem pressa, numa conversa tranquila com qualquer pessoa, mas também cozinhando, trabalhando, fazendo qualquer coisa. Basta acordar, dar uma respirada profunda e considerar que o dia que se inicia, faça chuva ou faça sol, frio ou calor, é um belíssimo dia. Exatamente porque nos mostra que estamos vivos e que, apenas por isso, devemos aproveitar cada segundo. Intensamente.

Não procuro simplificar os problemas, ou fugir deles - nem dos resultados ruins. Seria querer escapar da dura realidade. E depois sofrer com isso. E nem desejo que a vida não tenha complicações, sem suas complexidades ou obter as coisas gratuitamente. Ela seria muito sem graça. Precisamos dos obstáculos, das dificuldades. Moldamos o nosso caráter e a nossa personalidade enfrentando os desafios, encarando os problemas, superando as tristezas, se conformando com as perdas, tendo desejos e ambições e diversas motivações que nos levam pra frente.

Levar uma vida simples é uma gratificante tentativa de viver mais e melhor, de forma saudável, gostosa, trabalhando com alegria, encarando tudo com tranquilidade e inteligência. Descomplicando tudo mesmo - ou o máximo que puder.

Mais que antes, ultimamente tenho buscado a simplicidade, pra tornar a vida mais leve, mais serena, com a intenção de atrair energias positivas. Tem dado certo. Mas quando não dá, lembro que amanhã é outro dia.


Márcio Luiz Soares

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Isto é rock, bebê!





Ela quer começar uma briga. E daí? Ela tem seu estilo roqueiro, não precisa mais do cara e está se divertindo muito mais depois que terminaram. Ela está bem e vai mostrar o quanto ele é um idiota! E daí? Ela pode: é uma estrela de rock. Ela é a P!nk!

Isto sim é rock!

Depois de ver o clipe do espetacular show da Pink, na música So What! (no vídeo abaixo), curta a letra com tradução e com outro clipe aqui. A Pink literalmente voa sobre a plateia, é demais. 


Se gosta de rock e não está com tempo agora, você tem que voltar outra hora pra curtir uma das melhores versões do clássico do rock Bohemian Rhapsody do Queen, com a fabulosa P!nk e sua trupe – aquiClica em “mostrar vídeo” e aumenta o volume! Mais rock de primeira!

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Ilustração: site Jootix.

sábado, 22 de outubro de 2011

Diferença





O Barbeiro

O florista foi ao barbeiro para cortar seu cabelo. Após o corte perguntou ao barbeiro o valor do serviço e o barbeiro respondeu:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O florista ficou feliz e foi embora. No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um buquê com uma dúzia de rosas na porta e uma nota de agradecimento do florista.

Mais tarde, no mesmo dia, veio um padeiro para cortar o cabelo. Após o corte, ao pagar, o barbeiro disse:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O padeiro ficou feliz e foi embora. No dia seguinte, ao abrir a barbearia, havia um cesto com pães e doces na porta e uma nota de agradecimento do padeiro.

No outro dia apareceu um deputado para um corte de cabelo. Novamente, ao pedir para pagar, o barbeiro disse:

- Não posso aceitar seu dinheiro porque estou prestando serviço comunitário essa semana.

O deputado ficou feliz e foi embora.

No dia seguinte, quando o barbeiro veio abrir sua barbearia, havia uma dúzia de deputados, com seus filhos, tios, sobrinhos, afilhados, vizinhos, cabos eleitorais, todos fazendo fila para cortar cabelo.

Essa é apenas uma das diferenças entre os cidadãos de bem e os políticos.


Autoria desconhecida

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Encontre as seis diferenças entre as fotos de sapatos de boliche. Clique na imagem para ver mais de perto.
Imagem:  Find the Differences - Glow Images (Flickr)

domingo, 16 de outubro de 2011

Existência





Só existo de verdade quando estou escondido numa brecha do tempo no Hotel Danúbio, quando não há roupas nem medo, vergonha nem fingimento, quando somos só desejo e confiança. No resto do tempo me sinto uma cópia falsificada de mim mesmo.


Extraído do filme As Melhores Coisas do Mundo, de Laís Bodanzky.

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Imagem: pivesives (Flickr).

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O pedaço que falta da maçã






“It just works”.

Em tradução livre, “simplesmente funciona”. Com esse bordão, Steve Jobs sempre deixava claro que, na opinião dele, equipamentos eletrônicos deveriam ser simples a ponto de qualquer pessoa conseguir operá-los.


Raquel Paulino


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Imagem: de Jonathan Mak.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Saudade





"Quando sinto saudade não é porque a pessoa está longe, mas porque ela está dentro."


 Marla de Queiroz

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Ausência






“(...) Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar, mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com as duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar.”


Clarice Lispector (A Paixão Segundo G.H.) 


segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quanto tempo leva para construir um instante?






Sabe o seu primeiro beijo? Seu primeiro amor? E se não tivesse acontecido? Senhoras e senhores, estou falando de momentos que fizeram parte de suas vidas e que levarão consigo para todo o sempre. Aí eu lhes pergunto: quanto tempo demorou para isso acontecer? São fatos como esses que nos fazem ser mais felizes, seres humanos melhores.

Tentei descobrir do que é feito um instante, e porque ele nos marca tanto, e pude ver que existem alguns velhos ingredientes que nós conhecemos muito bem. Porém, a dosagem depende de cada um. Podemos, às vezes, sentir um frio que corre a espinha, ou um friozinho na barriga, borboletas nos estômago, e um sentimento de que aquilo é único.

Senhoras e senhores, peço por gentileza que façam de tudo para que tenham o máximo de instantes. Se por acaso tiver como criá-los, não deixem passar. Saibam que o tempo nunca volta, as palavras ditas são como plumas soltas ao ar, sem retorno, e no final você vê que a vida passa rápido demais. Se você não fez que ela fosse no mínimo divertida, quem dirá feliz.

"No instante que te conheci meu coração bateu em câmera lenta, eu suei mesmo no frio de dois graus, e pude sentir-me nas nuvens mesmo com os pés no chão".

Isso aí é um instante. Daqueles que nunca se esquece.


Alex dos Santos

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Imagem: de Márcio Luiz Soares – arquivo pessoal. Não, não é uma montagem.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A cara vida moderna






Meu primeiro celular parecia um tijolo. Difícil de carregar. Pior ainda, de funcionar. A linha vivia com sinal de ocupado. Mesmo assim era um luxo! Lembro quando liguei pela primeira vez para minha amiga Vera:

— Estou em Brasília, no meu celular — contei.

— Também quero um! — ela gritou, entusiasmada.

De novidade, tornou-se essencial. Agora esses aparelhos são mínimos, fotografam, tocam músicas e acessam a internet. Viver sem um é estar desconectado. No fim do mês vem a conta. Sempre me assusto! As operadoras oferecem pacotes. E de pacote em pacote às vezes eu me sinto embrulhado! Compro por puro entusiasmo uma série de serviços que não uso depois! Um amigo meu tem três celulares. Durante um jantar, falava em todos ao mesmo tempo, enquanto eu tentava conversar. Imagino a conta!

A cada dia inventam algo que imediatamente se torna indispensável. Impossível encontrar um adolescente que não sinta necessidade de um laptop. Se não tem, voa para uma lan house. A internet ficou tão importante quanto as calças que estou vestindo. O laptop de um jovem ator quebrou às vésperas de ele sair em turnê pelo país com um espetáculo. Está desesperado.

— Vou perder meu contato com o mundo!

É verdade! E-mails, redes de relacionamento e blogs são vitais para boa parte das pessoas. Tudo isso custa: o orçamento cresce em eletricidade, conexões de banda larga e equipamentos — os avanços são rápidos, é preciso renovar sempre. Falando em avanços: um amigo formou uma excelente coleção de clássicos de cinema em vídeo. Jogou fora e iniciou outra ao surgir o DVD. Agora veio o Blu-ray. O coitado quase explodiu de tão estressado! Mas é impossível permanecer com o equipamento antigo. Em pouco tempo some das lojas. Toca comprar tudo novo!

A TV por assinatura tornou-se um sonho de consumo. E os televisores em si? Todo dia fico sabendo de uma tela maior, mais fina e com melhor imagem. Sem falar nos eletrodomésticos, mais e mais sofisticados. Quando comprei o meu primeiro freezer, há muito tempo, um amigo riu:

— Para que uma coisa dessas?

Hoje ninguém dispensa um freezer. Qualquer item da vida pode se sofisticar: faz-se café expresso em casa, sorvete, iogurte e até pão. Ninguém tem tudo, é fato. Mas todo mundo tenta ter algum novo e fantástico produto!

Passada a garantia, é difícil consertar qualquer aparelho. O preço raramente compensa. E logo quebra de novo, mesmo porque muitos técnicos de antigamente perderam o pé nos digitais!

Viver ficou muito mais caro. Antes eu parava o carro na rua, agora é Zona Azul ou estacionamento particular; os cinemas aumentaram o valor dos ingressos porque investem em tecnologia; cabeleireiros sofisticaram os produtos; banho em cachorro é melhor no pet shop; é essencial um cartão de crédito, mas vem a anuidade. Além de um bom plano de saúde, é ideal também um de aposentadoria. Tenho certeza: daqui a pouco descobrirei algo absolutamente essencial de cuja existência até agora não tinha o menor conhecimento!

Mas os salários não subiram na mesma proporção. No passado era mais fácil cortar gastos. Agora, não. Muitas despesas não podem mais sair do orçamento. Contatos profissionais, bancários e muitos serviços públicos acontecem através de celulares e da internet. Já conheci gente com falta de dinheiro para comer, mas sem poder abdicar do celular!


Walcyr Carrasco
Revista Veja São Paulo (10/03/2010)

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Imagem: site Jootix

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Contextualize






Quando o primeiro elo da corrente é forjado, o primeiro discurso censurado, o primeiro pensamento proibido, a primeira liberdade negada, nos acorrenta a todos, irrevogavelmente. A primeira vez em que a liberdade de um é espezinhada, todos somos feridos.

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Pense nisso.

Frase extraída da série Star Trek – A Nova Geração, episódio Inquisição (4ª temporada). Sim, eu sou um Trekker e com muito orgulho.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Parte da trilha






As músicas da década de 1990 também marcaram época! Eu que o diga! 

No clipe abaixo, um medley (ou pout-pourri) muito interessante num clipe sensacional do excelente grupo dinamarquês Local Vocal. Ele fez uma capella de alguns sucessos da dance music dos anos 90 resultando num ótimo e magnífico tributo. Não deixe de curtir. 



Algumas:

Corona - Rythm of the Night (1993)
Haddaway - What is Love (1992)
Ace of Base - All That She Wants (1992)
Scatman - Scatman John (1994)
La Bouche - Be My Lover (1995)
2 Unlimited - No limit (1992)
Dr. Alban - Sing Hallelujah (1993)

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Mão na massa




Observava as crianças a comer macarrão, em trabalhosa mas aplicada operação de espetar com o garfo cada canudinho de penne na manteiga para levá-lo à boca. De vez em quando a mãozinha impaciente de uma delas, e logo a de outra, largava o garfo e pegava a comida para comer, até que a mãe restabelecia os bons costumes ocidentais.

Evitei comentar ali — para não parecer má influência — que havia visto uma reportagem na televisão em que o guia tuaregue convida o repórter para jantar em sua casa um prato típico, arroz integral com carneiro desfiado. Sem ta lheres à vista, o repórter se mostrou atrapalhado, até ser instruído a comer com a mão, fazer um bolinho de comida com a ponta dos dedos e levá-lo à boca. O fino da etiqueta tuaregue.

Em um livro saboroso sobre os hábitos alimentares desde a Antiguidade aos nossos dias, chamado 'O Ritual do Jantar', a professora canadense Margareth Visser enfatiza que os árabes educados podem, sem melindrar ninguém, preparar no prato, com a mão, um bocado de comida ajuntando o que lhes agrade e levá-lo à boca com os dedos, e assim proceder durante todo o jantar, mesmo de cerimônia.

Claro, isso não vale para o lado de cá da cultura, a não ser no sertão. No Nordeste e no Norte do Brasil, é comum ver pessoas comendo com as mãos, em pratos ou cuias. Os refogados e o feijão recebem a consistência da farinha para facilitar a operação. Isso não é mal ou bem-educado, é o jeito. Nessas vidas resumidas ao mínimo, o que importa é a necessidade — comer; não há espaço para a maneira — o talher.

Ao ver as crianças pegando o macarrão com os dedinhos, viajei. Lembrei-me de quando, meninos, podíamos algumas vezes comer com a mão. O prazer de comer assim era completamente outra coisa.

— Mãe, posso fazer capitão?

O dicionário registra esse sentido da palavra capitão como brasileirismo: “Bocado de comida que tenha molho, amassado com farinha, entre os dedos, à moda de bolo, e levado com a mão até a boca”. Se está no dicionário...

Era uma relação lúdica com a comida. Trazia talvez sensações da primeira infância, ou de pouco mais tarde, amassar argila, barro... Criar formas, esculpir, moldar, modelar, e comer. Não era qualquer comida que permitia esse prazer manual e oral. Não se faz capitão com comida ensopada, macarrão, salada... Tem de ter uma base moldável. O melhor capitão se fazia com arroz, feijão, farofa, carne moída e couve. De cada coisa um pouquinho, que os dedos ágeis iam puxando, agregando, amassando. Os mais aplicados davam um acabamento na palma da mão: ora alongado como um quibe, ora oval, ora redondo. O bolinho habilmente formado vinha rico de sabores e chegava à boca com a ajuda dos cinco dedos irmanados.

Pois não era assim que todo mundo comia antes da invenção dos talheres? Nem faz tanto tempo. Foi somente no século XVII que o espeto com dois dentes chegou à mesa dos europeus para ajudar a fisgar pedaços de carne no prato. No começo do século XIX veio o garfo de três dentes, e no fim, o de quatro.

Os meninos urbanos de hoje não saberiam nem poderiam fazer capitão. E, no entanto — contradição curiosa —, come-se cada vez mais com a mão: sanduíches, cachorros-quentes, pastéis, empadinhas, croquetes, bolinhos, coxinhas, canapés, petiscos, petits-fours, salames, batata frita, camarões fritos, patês, pipoca, pizza em pedaços, quibe, esfiha... Em restaurantes chiques, como o Emiliano, de São Paulo, são oferecidas opções de “finger food” no brunch, algo como “comida de mão”. Mas isso é outra coisa.

Havia uma idade para comer capitão. Não penso em me aproveitar da circunstância de um jantar tuaregue para retomar meus talentos. Tentei secretamente em casa e não deu certo. Algumas coisas são mais perfeitas na memória.


Ivan Angelo

Revista Veja São Paulo (17/03/2010)