sexta-feira, 12 de junho de 2009

Dia dos Namorados







Primo Altamirando jamais se comoveu com o Dia das Mães e foi, inclusive, o autor intelectual do Dia da Outra, que andou propondo à Associação Comercial, inspiradora de todos os “Dias”, para exaltar o chamado concubinato, isto é, no dia da Outra dava-se presente à amante. Dizem que a Associação Comercial achou a idéia excelente, pois “a outra” sempre ganha os melhores presentes, mas não teve peito para patrocinar a coisa.

Homem de uma frieza impressionante, o abominável parente nunca se comoveu com a mãe (lá dele), quanto mais com essa mãe comercial exaltada na base do jingle e dos cartazes de tapume. Daí – como eu dizia – ele nunca ter dado bola para essas coisas.

No Dia dos Namorados, porém, Rosamundo amanheceu disposto a aderir. Acordou cedo e foi comprar o presente bem bacana para aquela cujo dia se comemorava. Andou de loja em loja e – por não ser homem de esconder suas más intenções (em certos casos, bem entendido) – acabou escolhendo um conjuntinho de lingerie que era uma graça.

Voltou para casa com o embrulho debaixo do braço e tão entusiasmado com o presente que comprara, que chegou a propor à copeira experimentar as pecinhas, “para ver como ficava”, tendo a citada doméstica pedido suas contas, “por não ser dessas coisas”.

À tardinha, depois de trer passado o dia inteiro falando do Dia dos Namorados, Rosamundo tomou um banho legal, meteu seu terno mais novo e recendendo água-de-colônia, partiu para casa de sua namorada, disposto a cumprir o ritual proposto pelos anúncios dos jornais, do rádio e da televisão.

Mais tarde ele me contou:

- Cheguei lá com toda a dignidade, com o embrulho na mão, embrulhinho que eu mesmo fiz, com fitinha vermelha e tudo. Toquei a campainha e esperei que minha namorada viesse abrir a porta. Pois não demorou muito, a porta abriu e aquele calhorda apareceu de meteu uma bolacha tão violenta que eu caí pra trás. Tai no que dá eu me meter a burguês: não dei o presente a ela e ainda ganhei uma sarrafada.

- Mas quem lhe deu o tapa? – perguntei. – Foi o pai da sua namorada?

- Não. O marido.


Stanislaw Ponte Preta
(Sérgio Porto)

sábado, 6 de junho de 2009

Borboletas





Minha mãe colecionava borboletas. Há oito dias ela morreu de câncer nos ossos. Não deixou nada, além de borboletas e pensei que triste é ir-se assim, deixando para trás lagartas com asas. Mas no dia em que morreu, chegaram as borboletas. Nunca tinha acontecido, mas nesse dia, a cidade ficou cheia de borboletas.

Às vezes, o que você é não se vê nas coisas que deixa. Às vezes, as coisas são ditas quando você já não fala. E outras vezes, chegam realmente voando entre o asfalto e as nuvens do céu.

Entre duas estações do metrô, de pé na calçada em uma terça-feira, às 17h30, eu entendi que há coisas assim. Coisas que você adivinha. Levantar a vista no momento de encontrar-se com outro olhar. Olhar para o telefone quando toca. Palavras que diz ao mesmo tempo que outra pessoa. Pressentimentos. Amigos que chegam justamente no momento que mais precisa.

Déjà vu. Amor verdadeiro. Justiça divina. Coincidências. Música. Sorriso. Perdão. Borboletas.


* * *

Extraído do filme mexicano Efeitos Secundários. Uma comédia romântica sem maiores pretensões, gostosa de assistir. O filme mostra o reencontro de amigos de escola, doze anos depois, quando já estão beirando os trinta anos. O longa mostra de maneira interessante o questionamento sobre as mudanças ocorridas na vida de cada personagem e como as lembranças podem suscitar vinganças, acidentes, frustrações amorosas e situações inusitadas. Recomendo.

Aproveita e curta o clipe bem legal que encontrei. A música faz parte da trilha sonora do filme. É só clicar e se deliciar com a música.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Barra pesada






Como tem ocorrido nos últimos meses, a minha primeira postagem do mês tem música. Hoje escolhi um clipe do Jamiroquai. A banda, liderada pelo Jay Kay, é um dos expoentes máximos do acid jazz da década passada. O clipe é da canção Seven Days in Sunny June. Há um trecho da letra que diz algo como "Então você jogou a bomba: 'eu conheço você há muito tempo para rolar alguma coisa entre nós'". Ele disse bomba? Uma explosão de água gelada na cara! Isso sim! E mais adiante, na letra: "Você nunca me deu tempo para te dizer 'eu te amo'." Taí. Caso se apaixone por uma amiga ou por um amigo, não demore a se declarar. Se bem que isso talvez não ajude. Mas é melhor que sofrer em silêncio.

Alimentar esse tipo de "amor platônico", um amor inatingível, já era! Alguém me disse que dependendo da situação é impossível e nem é "saudável" se abrir, se expor. Respondi que, sendo assim, o melhor seria sumir. Nem que fosse até tudo passar. Essa coisa de que esse sentimento de amor, que por si só já é suficiente, pra mim não existe. Não mais. Amar sem ser correspondido é uma barra pesada demais.

Bom, mudando de assunto, curta o clipe, a música é muito maneira. O destaque está na combinação violão e piano, que caiu muito bem. Música com cara de verão. Bem-vinda nesse tempo frio que está fazendo por aqui.