domingo, 29 de março de 2009

Ela está em toda parte





Morpheus: Eu imagino que, neste momento, você deva estar se sentindo como Alice. Humm? Despencando pela toca do coelho?
Neo: Por aí...
Morpheus: Eu vejo em seus olhos. Você tem o olhar de um homem que aceita o que vê porque está esperando acordar. Ironicamente, isso não está longe da verdade. Você acredita em seu destino, Neo?
Neo: Não.
Morpheus: Por que não?
Neo: Eu não gosto da idéia de que eu não controlo minha vida.
Morpheus: Eu sei exatamente o que você quer dizer. Deixe-me dizer por que você está aqui. Você está aqui porque sabe de algo. O que você sabe, não consegue explicar, mas você pode sentir. Você sentiu sua vida inteira, que algo está errado com o mundo. Você não sabe o que é, mas está lá, como uma farpa em sua mente, te deixando louco. Foi essa sensação que o trouxe até mim. Você sabe do que eu estou falando?
Neo: Matrix.
Morpheus: Você quer saber o que é?
Neo: Sim.
Morpheus: Matrix está em toda parte. Ao nosso redor. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olhar por sua janela ou quando você liga a TV. Você a sente quando vai trabalhar... Quando vai à igreja... Quando paga seus impostos. É o mundo posto ante seus olhos para cegá-lo da verdade.
Neo: Que verdade?
Morpheus: Que você é um escravo, Neo. Como todo mundo, você nasceu em cativeiro. Em uma prisão que você não pode provar ou enxergar ou tocar. Uma prisão para sua mente... Infelizmente, é impossível dizer a alguém o que é Matrix. Você tem de ver com seus próprios olhos.

* * *

Este ano, o filme Matrix está completando dez anos. Um filme que, para mim, revolucionou o cinema. Extraiu conceitos filosóficos de diversas fontes e os reuniu de maneira inovadora. Sem falar do abuso tecnológico. Um show de imagens.

Me lembro que na época estava ansioso por uma novidade impactante no mundo da ficção científica, e o filme correspondeu às minhas expectativas. Induzido pelo filme, saí do cinema refletindo sobre alguns questionamentos e acabei desejando tomar a pílula vermelha. Para quem não sabe ou não lembra: a pílula vermelha provocava a descoberta da verdade e a azul para voltar a viver na Matrix (uma falsa realidade).

Mas será que não tomamos as pílulas vermelhas e azuis o tempo todo? Quando se deve tomar uma delas? Para alguns as vermelhas devem continuar escondidas no fundo da gaveta. Para outros, só existem as azuis.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Hora do Planeta





Estou apoiando a campanha Hora do Planeta, uma iniciativa fantástica da WWF (World Wildlife Fund). A campanha solicita que todas as pessoas, no mundo todo, desliguem as luzes por uma hora no dia 28 de março às 20h30. Um gesto tão simples, apagar as luzes por sessenta minutos, é o mínimo que podemos fazer para colaborar na diminuição dos riscos do aquecimento global, além de alertar sobre a necessidade de uma reflexão sobre a ameaça das mudanças climáticas.

Veja os vídeos abaixo e saiba um pouco mais sobre esse ato simbólico. Todas as versões são diferentes e vale a pena ver todas na íntegra.

Lá em casa, na hora certa, a pizza será servida à luz de velas.

quarta-feira, 25 de março de 2009

O Homem





Um dia despertou,
Levantou a cabeça,
Olhou o jardim, o céu.

O homem ficou em pé,
Andou, partiu.

Por onde passou
Legou obras, conhecimento
Que o tempo guardou, escondeu,
Apagou, destruiu.

O homem registra presença
No que encontra,
Com tudo o que acrescenta.

O homem não para.

Quer evoluir, subir
Ser um bicho feliz e,
Ao final do caminho,
Do fundo de sua alma,
Mesmo sem perceber,
Re-encontrar a raiz.


Roberto Angelo Sian

***

A minha filha Giulia Pimmy me mostrou essa interessante poesia e, após a interpretação que fizemos juntos, muito encantada com o resultado, me pediu para postar aqui afirmando com convicção que merecia ser publicada. E ela tem apenas dez anos.

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Mundo da Filosofia





Estou aqui mais uma vez diante do monitor acompanhado de uma bela taça de vinho tinto (pra variar), ouvindo um álbum do Vangelis [Mon Dieu, que combinação estrondosamente esplendida!], e decidido a contar um pouco sobre um livro que terminei de ler há alguns dias, O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder.

Já comentei por aqui quando, no lugar dele, peguei na biblioteca do Sesc um outro livro do mesmo autor, O Dia do Curinga, que também tem a filosofia como tema. Ambos são livros admiráveis. Raramente eu leio livros de um mesmo autor num curto intervalo de tempo. Desta vez não resisti. Acredito que é devido ao meu recente reinteresse por filosofia.

A forma como o autor desenvolveu esse romance, fazendo a gente refletir junto com seus personagens, ao mesmo tempo em que tomamos conhecimento da história da filosofia desde o princípio, é no mínimo magistral. É conveniente que eu ressalte aqui o quanto a evolução da filosofia é tão fascinante como a própria filosofia. Durante a narrativa, ficou claro, ao menos para mim, que seu objetivo não é simplesmente demonstrar como a filosofia evoluiu ao longo dos séculos, nem somente fazer a gente compreender os processos naturais, mas fazer com que o leitor, por meio de reflexões e de suas conclusões, entenda o que somos, para que viemos, para onde vamos e que se sinta parte de um todo, além de se conscientizar do motivo de tudo o que acontece ao seu redor e que ninguém é imutável. Isso num sentido mais amplo, sem arquétipos ou determinações religiosas, numa conscientização muito mais intimista, introspectiva e profunda. Fazendo com que a gente não se transforme em pessoas indiferentes e insensíveis, continuando a se surpreender com o que se passa à nossa volta, pois se surpreendendo, tornamo-nos mais capacitados a refletir sobre algum assunto em questão, que por ventura esteja em evidência.

O autor misturou, dentro da história, realidade e ficção e ficção dentro da ficção (uma realidade paralela), e, assim, cheguei a pensar outra vez se não seríamos personagens de algum autor fantástico e manipulador (a primeira vez foi assistindo Matrix). Na verdade, uma sacada legal do autor, para que a gente perceba o quanto de aventura é a nossa própria vida, desse grande palco da qual não somos meros espectadores. Ao mesmo tempo, nos mostra como a filosofia pode deixar de ser intangível, sem grandes mistérios, que nada mais é do que um meio de apresentar o quanto o ser humano foi e é inquieto, e, num sentido mais abrangente, o quanto necessitou, ao longo de toda existência humana - e que na verdade necessita até hoje -, buscar referências das nossas condutas diante do universo, da sociedade e até de Deus.

Ao fechar o livro, meio que perdido em meus pensamentos, seria impossível não concluir o quanto estamos longe de atingir um nível adequado de percepções e reflexões, da importância da filosofia - do quanto pensar filosoficamente com discernimento apurado é indispensável a qualquer ser humano, para que ele tenha um crescimento substancial como indivíduo, como ser pensante e atuante -, mas que, infelizmente, não é tratada com o devido respeito e atenção pelos que administram a educação.

No entanto, sem excesso de otimismo, diante de determinados acontecimentos e mobilizações culturais, mesmo que ainda tímidas, lentas e silenciosas, não considero que evoluir a tal ponto seja uma utopia: um dia chegaremos lá. Para ter certeza, basta que você olhe para trás e veja como tudo começou. Se precisar de ajuda, leia o livro.



Márcio Luiz Soares

quarta-feira, 18 de março de 2009

Coraline



Hoje uma amiga me telefonou perguntando se eu poderia ajudar na escolha de um filme. Ela estava com sua filha e uma sobrinha diante da bilheteria do cinema e ainda não tinham decidido qual filme iriam assistir. Achei estranho, já que as crianças estão mais decididas com relação a isso. Ela então me passou a lista e, mesmo não tendo assistido aos outros, eu não hesitei, respondi de imediato: Coraline. E eu que pensava que nem estava mais em cartaz. Melhor para elas. Devem ter gostado muito, como eu e a Giulia, minha princesa. Gostamos tanto que até cogitamos de ver novamente no mesmo dia.

Coraline e o Mundo Secreto é mais uma adaptação de uma obra de Neil Gaiman. Infelizmente não acompanhei muito as obras dele nos quadrinhos e nos livros infantis, mas tenho procurado ver o que sai no cinema. Os últimos que vi foram A Lenda de Beowulf e a Stardust - O Mistério da Estrela Cadente. Razoáveis.

Coraline é encantador. Uma ótima fábula sobre uma garota que está muito entediada na sua nova casa até que se depara com uma porta secreta que a conduz para uma versão alternativa da sua própria vida, perfeitamente melhorada. No entanto, um certo dia esse mundo perfeito fica perigoso (pois tem um preço) e aí pode ser tarde demais.

No filme tudo é muito mágico, cuidadosamente lapidado para envolver o espectador num mundo fantástico e até mesmo aterrorizante e sombrio. Apesar de seu conteúdo assustador (a ponto de eu duvidar que é um filme de animação feito também para crianças), somos levados o tempo todo a um mundo de sonhos e de fantasia, amenizando, assim, qualquer cena mais chocante.

O visual é excelente, de estética primorosa, tanto dos riquíssimos cenários quanto dos personagens. O roteiro também é de primeira, recheado de elementos sedutores em toda a narrativa. Merece ser conferido.


quinta-feira, 5 de março de 2009

Águas de Março







É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol


É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
É o mistério profundo, é o queira ou não queira


É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira
Das águas de março, é o fim da canseira


É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão


É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é um tremendo desconto


É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é o tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada


É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um resto de mato, na luz da manhã


São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração


É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé


São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração


É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã


São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
au, edra, im, inho
esto, oco, ouco, inho
aco, idro, ida, ol, oite, orte, aço, zol


São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração


***

Uma belíssima canção de Tom Jobim. Existem diversas versões desta canção, muitas em vídeo. Numa roda de amigos ainda ontem, alguém lembrou de uma versão bem antiga e muito inspirada, nas vozes de intérpretes que dispensam comentários, sem falar de um coral animadíssimo e competente que os acompanhavam. Falei que ia garimpar no Youtube, sem muitas esperanças de encontrar. No entanto, nem procurei muito. A qualidade da imagem não está lá aquelas coisas, mas dá para curtir numa boa. É só clicar e aumentar o volume. E cantar junto.