terça-feira, 13 de agosto de 2013

Parte da trilha



Eu acho que já vi e ouvi algo parecido por aí que foi lançado bem antes (Brave, da Sara Bareilles), mas não tira o mérito da canção e do clipe Roar da ótima Katy Perry. Tá bom, eu confesso, sou fã dela, e sabe como é ser fã... Apesar de que quase fiquei desapontado e a comparação me deixou desconfortável. Mas superei. Fácil. 

As duas músicas são daquelas que ficam grudadas na cabeça, mas e daí? Bora curtir, pô!

Como sou fã da Sara também, botei logo as duas de uma vez. E pra você fazer a comparação também. Lógico.

Sara Bareilles - Brave

Katy Perry - Roar (Lyric Video)

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

Morte




Há muito tempo, no Tibete, uma mulher viu seu filho, ainda bebê, adoecer e morrer em seus braços, sem que ela nada pudesse fazer. Desesperada, saiu pelas ruas implorando que alguém a ajudasse a encontrar um remédio que pudesse curar a morte do filho. Como ninguém podia ajudá-la, a mulher procurou um mestre budista, colocou o corpo da criança a seus pés e falou sobre a profunda tristeza que a estava abatendo. O mestre, então, respondeu que havia, sim, uma solução para a sua dor. Ela deveria voltar à cidade e trazer para ele uma semente de mostarda nascida em uma casa onde nunca tivesse ocorrido uma perda. A mulher partiu, exultante, em busca da semente. Foi de casa em casa. Sempre ouvindo as mesmas respostas. “Muita gente já morreu nessa casa”; “Desculpe, já houve morte em nossa família”; “Aqui nós já perdemos um bebê também.” Depois de vencer a cidade inteira sem conseguir a semente de mostarda pedida pelo mestre, a mulher compreendeu a lição.

Voltou a ele e disse: “O sofrimento me cegou a ponto de eu imaginar que era a única pessoa que sofria nas mãos da morte”.

A morte pode ser vista como um mistério incompreensível. Ou como um absurdo inaceitável. A morte pode até ser tratada como um tabu, assunto do qual a maioria das pessoas não gosta de falar. Mas, seja como for, aceitemos isso ou não, a morte é um fato, uma realidade inexorável. E que vem para todos nós. Por mais que queiramos nos esconder dela, deixar de existir é uma coisa tão natural quanto existir. Na verdade, a morte é provavelmente a única coisa certa na sua existência ou na minha – e também na de nossos pais, nossos filhos, nossos ídolos e inimigos, de todas as pessoas que amamos e mesmo daquelas que jamais chegaremos a conhecer: é certo que todos nós vamos morrer um dia. Pessoas boas, pessoas ruins, gente em Xanxerê, Santa Catarina, ou em Nagano, no Japão. E esse dia pode acontecer amanhã ou daqui a 60 anos.

A morte faz parte da vida. Todos começamos a morrer exatamente no dia em que nascemos. A morte, portanto, é uma etapa da nossa existência com a qual temos que conviver. Pode-se conviver melhor ou pior com ela. Mas não se pode evitá-la. Pode-se aceitar a sua inevitabilidade e olhá-la de frente. Ou pode-se negá-la, fugir dela, imaginar que não pensar na morte possa fazer com que ela deixe de acontecer com você ou com a sua família. Mas o fato é que todos nós estamos programados para nascer, crescer e morrer – uma obviedade esquecida por boa parte da sociedade ocidental contemporânea, que teima em ver a morte como um evento artificial, inesperado e injusto. Sobretudo, costumamos vê-la como um evento exclusivo, pessoal, que isola quem sofre uma perda, por meio da dor, do resto do mundo. Quando, ao contrário, não há nada menos exclusivo do que morrer. Nem nada que perpasse mais a humanidade do que o sofrimento de uma perda.

Como está expresso na fábula tibetana, a morte não é privilégio nem desgraça particular de ninguém. Ela chega para todos, sem exceção.

Maria Fernanda Vomero


Trecho extraído da Revista Super Interessante –leia a matéria na íntegra aqui.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Ela




Tão sentimentalmente pura como água,
Tão loucamente lúcida como a morte,
Tão quietante quanto os gritos da solidão,
Tão divinamente simples quanto uma rosa,
Tão brilhante como o sol e,
Tão obscura quanto a noite.
Tão vivaz e envolvente como o amor,
Tão mágica e perdida quanto...


Sotiza
(Tainá Santos)
***
Extraído do blog A Moça dos Olhos Fúnebres
http://sotiza.blogspot.com.br

Recomendo.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Escritor



Em homenagem ao Dia do Escritor, deixo minha reflexão sobre quem escreve e quem lê:


Hoje quase não leio, pois já li demais. Praticamente não escrevo, não que eu tenha escrito demais.

Na "era da informação", intuo que existem mais livros para se ler do que o total de segundos para se viver (o mesmo se pode dizer das músicas para se ouvir).

Cuidado para não transformar sua vida em "apenas" Leitura. Pois não devemos viver para ler, mas ler para viver.

Existe uma grande diferença entre "viver lendo" e "ler vivendo". Que sejamos bons escritores, dignos de serem lidos, e que sejamos bons leitores, lendo os que nos é digno.


Johannes de Silentio

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Parte da trilha




Você não é nada sem mim.

[[[wow!]]]

***
Essa é do Sclinder.

Markus Schulz feat. Ana Diaz - Nothing Without Me (Official Music Video)


Se a letra, com tradução, te interessa, clica aqui.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Duas faces




Duas Faces

Por que bater, se com a outra mão vai alisar?
Por que xingar, se depois vai jurar amor?
Por que maltratar, se depois vai querer abraçar, pedir carinho?
Não dá para fazer duas coisas de uma vez
Com certeza em uma está sendo falso, decida-se
Quem ama não maltrata



Cristina Lopes

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Parte da trilha



Eles estavam certos quando disseram que nunca devemos conhecer nossos heróis.

*
A batida rítmica e a sonoridade vibrante presente o tempo todo, mais a cativante voz de Emily Haines que penetra fundo na alma, faz com que Breathing Underwater, da banda Metric, contagie com uma alegria que pega de jeito e só dá vontade de dançar ou ficar mexendo a cabeça como se fosse um maluco. Bom, pelo menos deve ser isso que pensam de mim quando ouço essa música, em qualquer lugar que eu esteja.

Faça parte do clube!

Metric - Breathing Underwater

A letra com tradução você vê aqui.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

A pizza insuperável




Meu amigo gosta de cozinhar. Uma coisa que ele nunca fez por prazer é pizza. Acha que comer pizza em casa não é a mesma coisa que na pizzaria. Ele tem hipóteses, diz que talvez não seja bem um problema da comida, o que fica faltando são o calorzinho, a conversa ruidosa, o cheiro da lenha queimando, os aromas do ambiente, mistura de orégano, queijo e massa no forno. Não fecha questão, admite que pode ser um estado de espírito, mas que é diferente é, diz ele. Bom, casou-se.

A mulher, nascida no bairro paulistano da Mooca velho reduto de italianos, falava de uma pizza inesquecível que a mãe fazia. Não saberia repeti-la, não cozinhava. O rapaz, de seus 30 anos, vinha de uma família calorosa, dada a almoços e jantares. Havia sempre um vinho passando de mão em mão, mas sem radicalismo que excluísse a cerveja dos aficionados. O pai achava engraçado comentar depreciativamente "Tem gosto pra tudo" antes de ir buscar a cerveja para algum amigo. Os filhos, três homens, e a mãe revezavam-se e rivalizavam-se na cozinha. "Eu estou com vontade de fazer aquele ragu de cogumelos", dizia um, "e eu estou com saudade daquela minha carne de porco alentejana", completava outro, e dali nascia mais um almoço, com dois ou três convidados. Divertiam-se com aquela gostosa competição.

Depois do casamento, passados os meses da lua-de-mel, da arrumação da cozinha, de ajeitar os presentes nos armários, de pendurar os quadros na parede e de arrumar os livros, os CDs e os DVDs na estante, o jovem marido resolveu encarar o desafio da falada pizza.

Primeiro, levou-a às melhores casas da cidade, fosse porque preferia comer pizza lá, fosse para estudar as preferências dela. A jovem esposa achava-as boas, mas a palavra "boa" saía sem ênfase, sem aquele aperto de olhos, sem o alongado "huuum!" que não deixa dúvidas. Volta e meia ela falava da insuperável pizza da mãe, falecida havia muito tempo.

Ele passou discretamente para a fase de tentativas em casa. Fazia a massa, "ponto de partida essencial", que havia aprendido com o amigo Ernesto, ex-vizinho a quem bajulava como o gênio da pizza e que tinha até forno a lenha no quintal de casa. Colocava as coberturas preferidas da jovem esposa. Ela, delicada, dizia "Está ótima", mas sem aquele "huuum!". Ele percebia, sem reclamar, que fora derrotado mais uma vez pela pizza-fantasma. Não se magoava, era bom jogador e sabia que muitas pessoas têm na cabeça umas comidas saborosas inigualáveis, temperadas pela memória emotiva. Talvez fosse o caso dela.

Numa sexta-feira, convidou uma turminha e convocou o próprio Ernesto para fazer uma rodada de pizzas, vários sabores. O Ernesto trouxe as fôrmas e os ingredientes, esmerou-se, enfarinhou-se todo, enfarinhou a cozinha, e o pessoal adorou, entre vinhos e cervejas. A dona da casa foi educada, elogiou e agradeceu, despediu-se do Ernesto com um "Precisamos repetir, hein?" e antes de dormir, nostálgica, comentou com o marido:

– As pizzas dele são ótimas, não estou pondo defeito, mas, sabe, a da mamãe tinha alguma coisa que eu não sei dizer o que é. Era ela, eu acho.

Ele tinha quase certeza de que sim, mas queria ainda fazer um teste. Lembrou-se de uma história contada pelo pai num daqueles almoços, caso de um macarrão de família que era uma gororoba e todo mundo adorava.

Esperou um dia propício. Foi a um supermercado, comprou uma redonda qualquer semipronta, temperou de qualquer jeito com purê de tomate de latinha, incrementado com pasta de alho, jogou por cima queijo-de-minas raladão, orégano, umas linguiças desmanchadas que sobraram do almoço, umas azeitonas pretas, passeou um azeite, assou e pôs na mesa. A queridinha cortou, serviu-o, serviu-se, provou e:

– Uau! Acertou! Yesss! Yeessss!!


Ivan Angelo

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Parte da trilha




Se eu pudesse reviver aqueles dias
Eu sei que de uma coisa que nunca mudaria

*
Photograph, com Nickelback.  Dispensa comentários.


Como é de praxe, a letra e a tradução: aqui.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Lição de humildade




Um visitante inesperado interrompe um velho monge que, a partir dessa interrupção, é levado a uma rápida e significativa jornada que o fará descobrir o sentido do companheirismo e da tolerância.

A percepção de que se está no caminho errado é uma grande lição de humildade.


quinta-feira, 18 de abril de 2013

Parte da trilha





É impressionante como tem música que me faz lembrar coisas boas lá da minha adolescência. E a Frou-Frou Foxes in Midsummer Fires da banda Cocteau Twins além de me levar de volta para a adolescência, também faz com que eu sinta muita paz e tranquilidade. Algo que eu nem imaginava querer naquela época; mais ou menos como: "eu era feliz e não sabia". Só que ao mesmo tempo me sinto como que transportado para um futuro que não parece inatingível, impossível, mas totalmente envolto em serenidade, como se nada fosse possível me perturbar. Na verdade, é um sentimento estranho. Quase dolorido. Quase triste. Mas que ao mesmo tempo me deixa alegre. Sem motivo. Sem causa. Sem querer. Sem desejar, mas desejando ao mesmo tempo.

São essas sensações estranhas e ao mesmo tempo deliciosas que eu sinto todas as vezes que a ouço num momento de sossego. E é dessa forma que me sinto totalmente absorto. Como que num momento de meditação, de concentração.

E assim vou eu, flutuando em sua melodia glacial, em sua sonoridade etérea, totalmente embalado pela voz angelical, além de totalmente hipnótica e encantadora da vocalista Elizabeth Fraser. A voz dela é simplesmente incrível. Uma das melhores vozes do mundo. Sem exagero. Algumas pessoas descrevem sua voz como "cintilante" - e não tem como discordar disso.

A banda escocesa Cocteau Twins possui em seu estilo algo bastante diferente, um potencial muito exótico. Suas músicas, repletas de acordes de guitarra e baixo penetrantes e irrequietos, sempre me fazem pensar em paisagens deslumbrantes, em algo mais etéreo, como a aurora boreal, por exemplo. Ou em seres aquáticos que nem parecem que estão no mar, parecem levitar em perfeita harmonia com a leveza e a beleza da natureza. Exatamente como no vídeo abaixo. Imagens perfeitas para a canção.


Márcio Luiz Soares


***
Abaixo, um cover desta canção soberba. Esta é uma das mais belas interpretações de piano de uma das canções mais lindas que eu já ouvi. A ausência de imagens no vídeo é proposital: feche os olhos e viaje.


domingo, 24 de março de 2013

Parte da trilha



Eu soube que nos tornaríamos um só imediatamente
À primeira vista, eu senti essa energia dos raios de sol
Eu vi a vida dentro de seus olhos

***
Diamonds, com a Rihanna. Uma bela canção para ser ouvida (e cantada) com sentimento. Difícil não se emocionar.



Não deixe de ver essa ótima versão cheia de sentimento.



Veja esse outro clipe bem legal, de uma versão bem feitinha. Outra versão bem interessante, você curte clicando aqui.

E aqui você vê a letra e a tradução.


quinta-feira, 21 de março de 2013

O repouso do guerreiro




“Quase tenho medo dele: não pensará em me perder? Para onde me arrasto? Eis que meu cérebro começa a abrigar noções irracionais de pecado, de queda, de vício, de perdição.”
Christiane Rochefort, in O repouso do guerreiro.


Recentemente, ao rever os livros da minha biblioteca, numa pequena arrumação insólita e praticamente improdutiva (improdutiva de tanto que eu mesmo me interrompia para ficar “namorando” os livros lidos e não lidos). E ao me deparar com O Repouso do Guerreiro, de Christiane Rochefortei, fui levado a fazer uma comparação: esta admirável escritora é, para mim, quase que a Clarice Lispector da França. Esse "quase" não permite que exista outra Clarice Lispector. Claro. Ela é única.

Este ótimo romance conta a história de Geneviève, uma jovem parisiense, estudante de psicologia muito educada e elegante, que se apaixona perdidamente por Renaud. E é essa paixão que a faz viver uma grande desilusão.

Renaud é um ex-soldado que perdeu a esperança após o bombardeio de Hiroshima e que dez anos mais tarde tenta se matar em um hotel de uma pequena cidade. Geneviève o encontra acidentalmente, salva sua vida, e torna-se sua amante. E com ele tem seus primeiros orgasmos.

Mas nem tudo é bonito e prazeroso nesse relacionamento: Renaud é uma pessoa muito atormentada, exigente, desprezível e rejeita o mundo como um todo. Além de ser violento e impedir Geneviève de rever amigos e a família. Ele acredita que Geneviève é guiada principalmente pelo apetite sexual e quer forçá-la a admitir. E isso faz com que se refugiem em delírios, mas é nessa devassidão que um se anula diante do outro.

A história é centrada na relação ambígua dos dois personagens principais. Não podemos deixar de perguntar por que Geneviève se agarra tão teimosamente a um personagem tão desprezível que inadvertidamente recusa o amor que recebe dela e que ainda insiste em afirmar que ela confunde o desejo sexual com amor sincero justamente por estarem intimamente ligados. O que nos leva a pensar no que exatamente ele teme. Ser pego em uma rotina? Teme ser pertencido a alguém? Tornar-se um hipócrita? No entanto, seja o que for que o impede de se entregar ou de deixar a jovem viver serenamente (sozinha, claro), fica evidente que sua própria arrogância não o impede de se odiar, sendo que é isso mesmo que o desconforta. E pra piorar faz questão de levar sua amante com ele em sua podridão desmesurada.

No decorrer da narrativa o que vemos, e o que nos revolta, é a decadência de uma mulher que faz tudo por amor e o quanto é fortemente afetada pela sua relação emocional e sexual, se afastando do seu mundo, correto e muito seguro, para embarcar numa submissão que aparentemente não terá fim. Tudo nos leva a imaginar que ela vai aceitar o pior e chegar ao fundo do abismo físico e moral.

Até que ponto uma mulher pode se perder em nome de uma paixão? E, afinal, qual é a tênue divisão entre moral, obsessão, decadência moral, dignidade, submissão e prazer? Aquela doce loucura deliciosa de se viver é sempre fascinante e intrigante, mas qual é o limite?

O título e os acontecimentos desse ótimo romance, que exalta a redenção, de forma alguma chega a enganar os leitores: a mulher é, sem dúvida alguma, o perfeito descanso do guerreiro.

A recíproca não é verdadeira.


Márcio Luiz Soares
*
Confira um trecho do livro aqui.

* * *
Imagem: frame do filme francês homônimo. O romance foi adaptado para o cinema em 1962, com direção de Roger Vadim e com a participação de Brigitthe Bardot no papel principal.

segunda-feira, 11 de março de 2013

Lado sombrio





Todo mundo tem seus segredos e todos têm um lado dentro de si que protegem a todo custo. É instintivo.

Por mais bem certinha que uma pessoa demonstra ser, ela tem algo a esconder, mesmo que seja aquele segredinho que nem é nada demais, nada que a desabone, mas que ela prefere que fique enterrado dentro de si. Pode ser um pensamento nefasto, ou um desejo reprimido, ou uma fantasia sexual que sabe que nunca vai se realizar. Acho que, no fundo, no fundo, todos nós temos uma natureza pecaminosa ou egoísta. Nenhum de nós está livre de pecados e pensamentos obscuros. Nós nascemos assim. A diferença está em como cada indivíduo consegue se controlar. Muitos não conseguem. Muitos nem tentam. Outros nem têm noção do que é ou não sombrio.

Eu tenho um lado sombrio, não nego e não me importo em admitir. Até onde isso me prejudica? Até agora, em nada. Nunca me prejudicou. Nunca prejudicou ninguém.

E pra piorar o que você está pensando de mim nesse momento, saiba que eu gosto de alimentar esse meu lado sombrio. E tudo se resume ao fato de que, alimentando-o, consigo superar coisas excessivamente emotivas que me tornariam melancólico demais. Principalmente quando as minhas válvulas de escape não funcionam.

Enfim, na minha humilde opinião, todo mundo tem um esqueleto escondido no armário. Alguns esqueletos contam uma boa história ao sair.

Outros nem tanto.


Márcio Luiz Soares

***
No clipe, uma das minhas músicas preferidas da Kelly Clarkson, Dark Side. O que se vê nas imagens do clipe não condiz tão incisivamente com a letra dessa bela canção. Infelizmente. Mas tá valendo.


Aqui você acessa a letra original e com tudo que tem direito - aproveita e clica no play lá também.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Adam and dog




O brilhante curta-metragem Adam e Dog é uma verdadeira obra-prima da animação. Nele, tudo parece ter mais coração do que muitos filmes que eu vi ultimamente. É uma experiência artística cinematográfica que não deve ser desperdiçada.

Adão criou o vínculo homem/cão em primeiro lugar? Vai saber. De qualquer forma, este filme procura mostrar claramente que ambas as espécies, desde os primórdios da humanidade, tinham algo a oferecer um ao outro: a amizade.

Eis mais um ótimo curta criado especialmente para comover e emocionar e cheio de sacadas sutis. Nem uma palavra é dita nessa trama inteligente, a menos que você considere os latidos do animal. O silêncio ajuda a criar a serenidade do mundo edênico do filme, e tudo é contado sem esforço por meio de atos, gestos e expressões faciais. Assim que o cão se depara com Adam, ou Adão, a gente percebe que está se contando uma versão da história do primeiro cão do mundo e seu relacionamento no Jardim do Éden e, no fim, fica claro por que os cães são tão especiais para a humanidade. Mas a melhor sacada é a expulsão do Jardim do Éden e o quanto o cão é fiel nesse momento.

Contar boas histórias é uma arte extremamente sutil. Mesmo com a palavra escrita não é tão simples quanto se pensa. Contar boas histórias é muito mais que descrever situações e passar informações precisas. O narrador deve decidir, além de qual será a melhor forma de estabelecer detalhes sobre os personagens, como criar tensão narrativa e continuar contando a história sem se perder, sem deixar a peteca cair. E esse curta é assim, de forma bem eficiente cria um mundo e estabelece o amor entre dois personagens, em menos de 15 minutos, num ritmo absolutamente sem pressa e nem por isso a gente perde o interesse, e nem imagina o que, afinal, vai acontecer. Nem mesmo que pode se surpreender. E se caso acertar o final, vai gostar muito mais.

Os curtas-metragens são impressionantes, pois permitem aos seus produtores e cineastas a oportunidade de ser diferentes e experimentais, sem o custo de um filme de longa-metragem e garantindo um bom entretenimento e diversão a nós, meros espectadores. E o espectador que se desarmar de certos conceitos ou de preconceitos vai sentir o quanto esse curta é deslumbrante e poderoso.


Márcio Luiz Soares


terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Perdição




Deixe-me sofrer se você quiser
pode me deixar
despertado do sono.

Vallejo


Provido de seu alimento intelectual, atira-se à cama. Ei-lo ao abrigo. Sua vida limita-se a ações simples: dormir, comer, beber, fumar, fazer amor. Sua assiduidade para comigo, se bem que tome grande parte do dia e da noite, restringe-se a meu corpo. O que sabe de mim, é aquilo que consegui encaixar na conversação, eventualmente; logo que falo de mim, que quero exprimir uma ideia, tenho a impressão de nadar no seco. Possuo apenas a existência material. Não ouve o que digo, olha-me; é uma impressão bastante curiosa, como se eu existisse ao lado de mim. Encolhido em sua liteira, observa-me, e, sem levar em conta hora e circunstância, quando passo ao seu alcance, agarra-me, mesmo se estou passando o aspirador ou se tenho nas mãos os quatro cinzeiros. Foi assim que quebrei o quinto.

Em silêncio, puxa-me para a grande cama que é o seu domínio, o lugar onde dispõe de suas forças como Anteu e a terra. Ele, tão frágil em pé, que não se pode manter erguido e dir-se-ia arrastar-se de uma estação à outra, revive uma vez deitado. Essa cama! Mundo completo, fechado, segregado de tudo, tem sua vida, sua paisagem de cinzeiros e livros negros; seu próprio sol: a lâmpada que Renaud conserva acesa mesmo durante o dia, como se não soubesse que existe a claridade diurna; sua fauna: o grande animal que mora encolhido, e o pequeno que gravita em redor e se deixa cair na armadilha, vítima continuamente devorada e complacente.

Com um vigor que raia pelo sistema, pela tática militar, como uma máquina de guerra, abate, uma a uma, minhas defesas solidamente dispostas. Se distingue um receio em meus olhos, um arremedo de fuga, uma crispação, é por aí que ele vai, é por aí que desfecha o ataque, e luta até minha rendição; a rendição, essa tem que ser total. Nada o incita mais que um trêmulo "não"; um não nada mais é que algo que deve ser transformado em sim. Meu Deus! será possível que haja tantos nãos no corpo de uma mulher? Como eu fazia disso uma ideia limitada! "Mocinha de princípios, vem cá." Um princípio deve ser cercado. Pudor, para ele, significa: qualquer coisa lá por baixo. Se resisto demasiado, renuncia com uma indiferença desdenhosa, mais dolorosa que o mais doloroso de seus empreendimentos, e mergulha na leitura de Peter Cheney. Perdida, despedida por impotência, envergonhada, será preciso que eu dê o primeiro passo e ofereça aquilo que negava. Pouco a pouco, desmantelada, avanço pelo país desconhecido de meu corpo, e avalio, para meu espanto, como eu vivia longe de mim mesma. Mas o quê, podia desconhecer-me a tal ponto? Tudo jazia ali, aquilo que Renaud, quase à força desaloja, teria eu deixado dormir a vida inteira? Essa reflexão me confunde, não sei concluí-la, leva-me à beira de um abismo, penso em Claude, em Pierre, na maioria das pessoas que conheço e que são como eu, ou melhor, como fui: será possível que todo mundo, essas pessoas empertigadas que não gostam de falar "dessas coisas", que lhe dão as costas, vigilantes em defenderem-se delas, e que, de resto, a elas se entregam facilmente - como eu chegava até ali, sem luta, através de um sistema de viseiras, uma modalidade de esquecimento -, que será possível que essas pessoas passem ao largo de si mesmas, viviam serenamente nessa letargia dos sentidos de onde, dificilmente, sob a férula de uma chantagem amorosa, saio como de um longo sono? Isso dá uma estranha medida do uso que fazemos de nós.

Ainda estou longe de ser completa; o essencial me escapa. Incomodam-se as próprias atenções de Renaud, analiso-me demais, perco-me na procura, envergonham-me seus esforços infrutíferos sob seus olhos sempre abertos, tenho medo de desgostá-los com minha inaptidão para o prazer, eu que outrora - outrora: ontem - enfadava-me com o prazer. Mas Renaud parece dispor de uma paciência infinita; esse monstro de egoísmo, que não se preocupa com amar, é o mais generoso dos amantes, no amor nunca pensa em si mesmo, e, para cúmulo, reserva seu próprio prazer para quando já estão esgotados os que pode me proporcionar. Se não ama, muito menos se ama é preciso fazer-lhe justiça. E esse aprendizado pelo qual ele me faz passar não é para seu deleite, mas para meu governo: não são lições de erotismo que me dá, mas uma única lição; se amas, ao menos sê capaz dos atos do amor, ou então, cala-te. Então, uma espécie de honra convida-me a me abandonar sempre e cada vez mais.

Honra: honra que ontem eu teria chamado precisamente desonra. Tudo vacila, onde estão os valores? O amor se resolveu, fez deles um caos; não sei se decaio ou se me formo, não tenho mais moral, não estará justamente aí armadilha de que se fala, essa demência com a qual, segundo se diz, o amor costuma cegar, não estarão aí os extravios dos sentidos? Ora tenho vergonha do que era, ora do que passo a ser: não sou uma escrava? Ou serei uma verdadeira mulher? Quando estou presa à contemplação dos lábios de Renaud, possuída de desejos inconfessáveis que ele imediatamente percebe, ou, se a um sinal dele, dispo-me e me exponho às suas exigências, ou se ouço as queixas que ele não me permite abafar - será isso sensualidade natural, ou serão aberrações perversas, enfim, serei ainda normal, ou já estarei viciada? Esse prazer, ao mesmo tempo demasiado forte e parcial, o único ao qual ainda aquiesço, entorpece-me e obceca. A necessidade apodera-se de mim tão violentamente, em meio a ocupações tão pouco propícias, que cuido descobrir o velho sentido da tentação: de fato mais forte que a gente. Renaud me vê, minha face em fogo, pronta a passar por onde ele quiser, ele sorri, e esse sorriso não merece outra qualificação a não ser a de diabólico. Quase tenho medo dele: não pensará em me perder? Para onde me arrasta? Eis que meu cérebro começa a abrigar noções irracionais de pecado, de queda, de vício, de perdição.

Quando deixo essa cama, esse mundo sem tempo, onde o dia e a noite se entrelaçam e onde nenhuma ordem, nenhum indício, nenhum apoio aparecem, verdadeiramente é de outro planeta que venho, e não mais reconheço este aqui.

Não me lembro de nada. Viro-me, os braços inertes - onde estava eu? Esse homem quebrou o tempo, dele fez uma grande noite uniforme, interrompido apenas pelos chamados que vêm de fora: é minha mãe, é Pierre, é Claude que se inquietam, e ouço-lhes as vozes ao longe, como quando estive muito doente: do fundo da indiferença fisiológica é que os rumores da vida mais atingem. É verdade, estou doente, desfiz-me do tempo, enveredei pelo sombrio reino de Renaud, que morreu. Vivo com um morto que me aspira a seu lado.

Após essas viagens necessito de horas, ou talvez dias, não sei, para me refazer. Eu que, quando bandeirante era chamada "Abelha Laboriosa"! Acontece que, saindo para o almoço, deparo-me com a noite lá fora, dir-se-ia que Renaud lança um sortilégio sobre os relógios: desmantelam-se, um após outro. E, certa manhã, vendo minha árvore sem folhas, dou-me conta de que, também eu, esqueci meu jardim. Começa a trabalhar-me o medo de haver perdido a matrícula, e de quase ter perdido o mundo; é como se eu estivesse num convento. Claude me escreve: julga-me doente. Minha mãe, ultrajada, manifesta sua existência por meio de um silêncio total dos mais opressivos. Por fim, Pierre agarra o inimigo de frente, interroga: "Não me esconda a verdade, peço-lhe" - diz-me, certa noite, ao telefone. "Já compreendi que se passa alguma coisa." Respondo que sim, num suspiro. "Algo grave?" Sim... Não era nada fácil explicar ao telefone, com Renaud ali. "É preciso que me diga imediatamente. "Escute, quer me encontrar amanhã?" "Você acha que, agora, vou deixar passar mesmo que seja uma noite? Venha imediatamente." Vi, afinal, com um pouco de clareza, o que estava fazendo, e concordei com um encontro em Duroc, de onde ele me telefonava.

- Tenho que sair por um momento.

Renaud, que, entretanto, ouvira o bastante para compreender, emite um grunhido indiferente: com ele, gozo de minha plena liberdade. Se anunciasse: tenho que ir encontrar-me com um novo amante, ele não teria outra reação. Está lendo Hadley Chase. Pergunto-me se o devo beijar antes de deixá-lo.

- Até logo, Renaud...

Ergue o grande nariz, faz um aceno e volta a abismar-se. Como se eu fosse buscar o jornal.

*
Extráido do livro O Repouso do Guerreiro, de Christiane Rochefort.

***
Ilustração: Café (1949). Quadro de Leonard Tsuguharu Foujita (Japanese, 1886-1962).

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Curta o curta




Usando um estilo preto-e-branco minimalista, um brilhante curta-metragem conta a história de um jovem solitário no início dos anos 1950 em Nova York, cujo destino toma um rumo inesperado depois de um encontro casual com uma bela mulher numa estação de trem.

Convencido de que a garota de seus sonhos se foi para sempre, ele recebe uma segunda chance. Com apenas a sua força de vontade, um pouco de imaginação e uma grande pilha de papéis para conseguir a atenção da garota, seus esforços não são páreos para o que o destino tem reservado para ele.


terça-feira, 29 de janeiro de 2013

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Parte da trilha




Se você estivesse no meu coração
Eu não o partiria
Se estivesse ao meu lado
E o meu amor o arrebatasse
Eu o guardaria em um lugar seguro
Para sempre protegido

Vou esconder você
Bem longe do mundo que rejeitou
Eu escondo você

Eu vou amar você
E proteger você
Até pedir que eu diga
O que quero fazer

***
Essa versão da Hide U, com a banda britânica Kosheen, além de ser uma drum and bass que me alucina, ela tem um clima sombrio que me pegou de jeito! Sem falar de todas as suas derivações que me fazem ficar horas ouvindo uma atrás da outra - não paro nem pra comer! =)


A letra taqui e a tradução, aqui.
Há dezenas de versões bem mais dançantes, eis uma delas.