quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Liberdade






Ai que prazer
Não cumprir um dever,
Ter um livro para ler
E não o fazer!
Ler é maçada,
Estudar é nada.
O sol doira
Sem literatura.

O rio corre, bem ou mal,
Sem edição original
E a brisa, essa,
De tão naturalmente matinal,
Como tem tempo não tem pressa...

Livros são papéis pintados como tinta.
Estudar é uma coisa em que está indistinta
A distinção entre nada e coisa nenhuma.

Quanto é melhor, quando há bruma,
Esperar por D. Sebastião,
Quer venha quer não!

Grande é a poesia, a bondade e as danças...
Mas o melhor do mundo são as crianças,
Flores, música, o luar e o sol, que peca
Só quando, em vez de criar, seca.

O mais do que isto
É Jesus Cristo,
Que não sabia nada de finanças
Nem consta que tivesse biblioteca...


Fernando Pessoa

4 comentários:

Anônimo disse...

Perfeito começar o dia lendo Pessoa! Uma delícia! Poesia leve, gostosa... Preciso realmente passar mais vezes por aqui. Bjo,Márcio!

Ana disse...

Simplesmente lindo. Maravilhoso!

MARU disse...

Pessôa, bom poeta Luso.
A fotografia é fantástica e mágica-
Gostei muito.
Um abraço

Anônimo disse...

lindo! nem tenho mais nada pra dizer...
beijinhos
Samantha