sábado, 7 de maio de 2011

Apenas sendo humano





Por diversas vezes, durante a leitura de algum livro ou logo após terminá-lo, fico matutando sobre algumas coisas que tenha sido abordado pelo autor. Isso acontece também depois de assistir alguns filmes ou após uma conversa descontraída com amigos. E foi justamente numa conversa que tive há alguns dias com Esdras Reginato, meu colega de trabalho, que, além de me fazer refletir sobre algo que nunca tinha dado a devida atenção, me fez lembrar de um texto da Martha Medeiros, o qual disponibilizei na postagem anterior. A conversa foi sobre o filme P.S. Eu te Amo. Quando ele me contou que deixou cair algumas lágrimas assistindo ao filme junto com a sua namorada, me toquei no quanto é benéfico se deixar levar por essa emoção arrebatadora, capaz de deixar a gente bem vulnerável e que nem sempre manda recado: o choro.

Os motivos são diversos e a grande maioria vem acompanhada de grande e irremediável tristeza, angústia ou dor. E quando a dor não é física parece que nunca vai acabar.

Apesar de muitas pessoas considerarem o choro como uma emoção negativa, estas mesmas pessoas não podem negar que chorar faz bem. Os sentimentos e a intensidade da dor física ou mental que levam ao choro podem variar de pessoa para pessoa e algumas se esforçam para não deixar isso transparecer, com medo de mostrar fragilidade. Ledo engano.

É interessante como o choro também é um meio de comunicação. É a primeira emoção com que uma criança é introduzida no mundo. Os bebês, antes de falar, choram. É a única maneira de expressar que estão sentindo dor, fome, medo e até mesmo frustração. E essa forma de comunicação dura a vida toda.

Diferentes línguas podem criar obstáculos para a comunicação, mas as emoções são universais. Há também as razões culturalmente aceitáveis para chorar que unem as pessoas, tal como em funerais, em casamentos ou em tragédias. O ser humano chora ao se relacionar com qualquer outro ser. Quem já não chorou ao perder um animalzinho de estimação?

Chorar é a melhor maneira de dar vazão a todas as emoções, seja sob a forma de frustração, raiva ou felicidade. A explosão desencadeia emoções negativas e positivas. Expressando a tristeza pedimos indiretamente o apoio e conforto de nossos pares. E dificilmente não somos atendidos.

O choro também faz bem para a saúde. É considerado como a melhor maneira de reduzir e gerenciar o nível de estresse, desanuviando a tensão mental e diminuindo a pressão arterial. É melhor até para limpar os olhos. A poeira e a sujeira que se instala e fica depositado no olho é removida pela lágrima.

Chorar ajuda a esquecer e amenizar a gravidade de algum evento ruim. Colocamos pra fora os mais profundos sentimentos enraizados. As pessoas reconhecem que se sentem menos onerosas depois de chorar. Principalmente depois que transmitimos nosso amor para com as pessoas que amamos e prezamos.

Chorar faz realmente muito bem. Mesmo quando a gente se depara numa situação limite, nos derrubando, fazendo a gente perceber que estamos mergulhados num turbilhão de sentimentos que estão fragilmente encobertos pela couraça da falsa quietude. Nisso, surge a melancolia. É exatamente nestes momentos que compreendemos o que realmente acontece dentro de nós. Por isso, muitos escritores admitem que a melancolia é um gerador de inspiração.

Deixar escorrer algumas lágrimas durante um filme sentimental não significa que você é uma pessoa exageradamente sensível. Na verdade, significa que você está se comportando como um ser humano perfeitamente normal, que sabe se entregar aos seus mais profundos sentimentos. Que vive. Que é humano.

Encerro com uma frase anônima que recebi por intermédio da minha amiga Ana Luisa Pontes, ao comentar sobre este assunto, a qual sintetiza bem isso tudo: “Quem não se permite sentir a tristeza quando está triste, também não se permite ser feliz quando tem que ser”.


Márcio Luiz Soares

* * *

Imagem: Sorrow longing tears, de Westia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Márcio,

Realmente o filme P.S.Eu Te Amo deve ser assistido com uma caixinha de lenço ao lado. Muito bom mesmo.
Sabe lendo tudo que você escreveu sobre chorar, sei que faz bem (apesar de ficar toda inchada)eu sou chorona, apesar de ter a certeza que sorrir é muito melhor tanto para a gente como para as pessoas que nos rodeiam.
Eu choro para quase tudo para não dizer que choro até mesmo rindo, quando a situação chega ao extremo.
Mas você acredita que há muitos anos, assistindo aquele seriado "Pássaros Feridos", você deve ter conhecido pelo menos pois nossa idade não é muito diferente. A mãe da Maggie que é a atriz principal, um dia depois de tantas tragédias com a família dela, se negou a chorar.
Márcio, eu ficava boba de ver que ela não derrubava uma lágrima em cada filho que ela foi perdendo tragicamente e você acredita que na época eu disse que queria ser igual à ela?
Ainda bem que em algum momento percebi que ela estava apenas encenando, que aquilo não era humano.
Como sempre me estendi demais....

Beijos

Maggie