terça-feira, 21 de abril de 2015

Sylvia Plath



Esta semana assisti a um comovente drama baseado em fatos reais: Sylvia - Paixão além de palavras, com Gwyneth Paltrow (ótima no filme) interpretando Sylvia Plath, poetiza americana que teve o seu primeiro poema publicado aos oito anos de idade, além de centenas de poemas escritos ainda em sua época de estudante. Considero o filme comovente pela forma como abordou a depressão que foi tomando, envolvendo e encurralando a personagem principal. O filme retrata o relacionamento da poetiza com o também poeta e escritor Ted Hughes (interpretado por Daniel Craig). 

Logo no início, acompanhamos o namoro dos dois, ainda como estudantes e cheios de criatividade literária. O filme segue mostrando seu casamento tumultuado enquanto trabalhavam e criavam dois filhos pequenos, passando por um misto de amargura e infidelidade, em meio ao sucesso de Hughes e a insatisfação profissional de Sylvia Plath. Após o divórcio, num período de poucos meses ela produziu as poesias surpreendentes que a faria muito mais famosa. Mesmo tendo atingido o sucesso que desejava e escrito um romance (A redoma de vidro - com o pseudônimo de Vitoria Lucas), a poetiza teve um fim trágico. 

Este drama é muito bom, embora triste e melancólico, vale a pena. A personagem, apesar da obsessão doentia, é envolvente. Seus poemas foram pouco explorados no filme, mas os que foram citados já denotam a carga emotiva e a qualidade textual peculiar da poetiza. 

Eu já conhecia algumas de suas poesias, mas agora, depois de ver este filme, fiquei muito mais interessado. Corri pra procurar seus textos na internet, e saber algo mais sobre sua vida. Fui muito influenciado pelo filme, claro, pois as poesias são narradas no filme de uma forma relativamente sombria e isto, admito, me atraiu bastante. 

Aliás, seus textos, além de muito confessionais, são deliciosamente sombrios. Gosto de textos que deixam algo no ar e que ao mesmo tempo expressam uma certa obscuridade, que o autor se expõe ou que parece se expor, querendo indicar algo que aparentemente só ele é capaz de ver ou de sentir. Não sei se consegui me expressar, mas o que quero dizer é que, como disse uma das personagens do filme, "há uma perturbação neles". E me identifico com isso também, principalmente por eu já ter rascunhados alguns textos sombrios que, de tão obscuros, não os tiros da gaveta. Pelo menos por enquanto. 

O que se observa na poesia de Sylvia Plath é a agressividade, o sarcasmo, o vasto uso de metáforas e a maneira como expressa suas emoções, fazendo com que o leitor imagine determinadas imagens (que beiram o surreal) e, por meio delas, é possível compreender seus sentimentos. Para mim, seja em poesias ou em qualquer tipo de texto, isto é bem marcante. Destaco: Daddy (Papaizinho); Ariel; Lady Lazarus; Mirrors (Espelhos); Words (Palavras); The Munich mannequins (Os manequins de Munique); e Frog Autumn (Outono de rã). 

Abaixo, reproduzi parte do diálogo que a personagem tem com seu ex-marido numa tentativa de reconciliação. 

Na sequência, a ótima poesia que abre o filme. E que abertura!


Márcio Luiz Soares

*
“Nem somos duas pessoas. Mesmo antes de nos conhecermos, éramos apenas duas metades andando por aí com grandes espaços vazios no formato de outra pessoa. Quando nos encontramos, finalmente nos completamos.”

*

A árvore da vida


Às vezes eu sonho com uma árvore,
E essa árvore é a minha vida.
Um galho é o homem com o qual me devo casar
E as folhas, os meus filhos.
Outro galho é o meu futuro como escritora.

E cada folha é um poema.

Um outro galho é a minha brilhante carreira acadêmica.
Mas enquanto eu estou lá, tentando escolher,
As folhas começam a ficar marrons e começam a cair
Até que a árvore fica completamente nua.


Sylvia Plath

*
Quer ver mais poesias dela? Então clique aqui e aqui. Também pesquise pelos títulos que mencionei - poderá encontrar várias traduções divergentes, já adianto. 

E como eu sou bonzinho, veja aqui a abertura do filme que encontrei no Youtube.

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