segunda-feira, 18 de abril de 2011

O amor que não se pode dar





Amar nem sempre é possível ou correto. Manifestar ativamente um comportamento amoroso pode ser errado, não importa o que ideais e coração digam. Esta constatação vale para todo tipo de relação que envolve aquele sentimento chamado “amor".

Uma mãe pode se ver na necessidade de não arrumar mais o quarto do filho, de não cuidar de sua comida e segurar o carinho que gostaria de expressar. Um amante pode ter que deixar a pessoa amada, e um irmão afastar-se do irmão. O sorriso pode ter que ser engolido e a mão retirada. A vontade de dar, de abrir os braços e ajudar pode precisar ser contida, calada e ignorada. Por quê?

Porque o amor exige reciprocidade. Quando o que se dá não encontra eco da parte de quem recebe, o dar é fora de lugar e continuar a oferecer se torna um ato neurótico. Ela está lutando contra o reconhecimento do que é.

Há momentos em que ser mãe é deixar de dar ao filho o que por anos foi o cerne dos cuidados maternos. As mães podem reconhecer este momento pelo cansaço que sentem.

O amante sente quando é hora de ir embora quando o vazio se torna insuportável. E o amigo dá adeus ao companheiro ao perceber que, por vezes demais, os fatos não rimam com as palavras.

Como um terreno que dá abundante colheita, mas não é nutrido chega a secar, assim, o doador de amor, achando que está fazendo uma coisa bonita, continua a agir conforme seus sentimentos até encontrar-se seco e cansado.

Se amar é uma função de ligação, ela só pode funcionar quando há autosustentabilidade. Amor é um processo psíquico que se autoalimenta pelas ações das partes envolvidas. A ação habitual é ativa e positiva, o dar. Se ela não estiver surtindo efeitos, é preciso passar à sua forma negativa e passiva, o retirar, ausentar-se, silenciar e afastar-se. Somente desta forma se preserva o equilíbrio psicológico.

Inevitavelmente, a tristeza é sua consequência. Deixar de expressar o carinho que se sente ou até virar-lhe as costas é doloroso para quem tem sentimentos. Entretanto, é o único caminho sustentável do ponto de vista psicológico.

Amadurecer passa por reconhecer o que é. Aceitar a realidade exposta a cada minuto de que o amigo, o filho, o amante, o irmão não retornam o amor que recebem implica para a pessoa consciente parar de jogar pérolas aos porcos.

E, assim fazendo, oferecer um último gesto de amor, o de criar o vazio para permitir que no outro o sentimento possa crescer e florescer.


Adriana Tanese Nogueira

http://www.psicologiadialetica.com

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Ótima sugestão da minha amiga Helena Alves.

Um comentário:

Margareth (Margô) disse...

Oi Márcio,
Já li e reli este texto várias vezes. Meio complicado falar de amor.
Amor de mãe: meu filho que mora comigo que cozinha, lava as roupas dele, estes dias até costurou (pediu dicas, é claro), tem ido ao mercado. No início ele estranhou pois era acostumado, mamãe aqui fazia tudo para ele, mas percebi que ao invès de estar ajudando, eu estava atrapalhando seu crescimento, até mesmo porque ele pensa em morar sozinho um dia.O fato de eu deixar de fazer essas coisas é para ele aprender e não porque deixei de amá-lo.
Existem muitos casos que realmente você tem que deixar de fazer pelo outro (irmão, amigo,etc) algo por amor, acredito muito nisso!
Amor de um amante: é claro que tem que ter reciprocidade, mas quando não tem seja pelo motivo que for cabe a pessoa decidir quando é hora de partir para outra, mas não acho certo cobrar o outro por não ter correspondido.
Tenho muito a falar sobre esse assunto. Mas este comentário já está muito extenso.
Se não aguentar eu volto.rss
Beijos