quarta-feira, 2 de julho de 2008

Emocionalmente impactante, e na dose certa


Passei na locadora de vídeo no sábado passado, torcendo para encontrar o que desejava desde o início do mês, quando fiquei sabendo que um dos melhores filmes que assisti no cinema no começo do ano havia sido lançado em DVD. Não podia haver momento mais adequado, afinal, não tenho visto lá aquelas coisas ultimamente. Dei sorte. Estava numa estante de frente para a porta, isolado na prateleira, como se estivesse reservado para mim, me aguardando.

Se ainda não assistiu Desejo e Reparação, não faça como eu, não demore, corra pra locadora!

O filme é espetacular! Arte pura! Arte cinematográfica de primeira qualidade! O roteiro é sensacional. É baseado num livro que tenho a obrigação de ler. Mais um para a minha extensa lista: Reparação, do escritor inglês Ian McEwan. O “Desejo” do título do filme pode até não ser um equívoco, porém é totalmente desnecessário. A narrativa em forma de diversos flashbacks quebrados (cheio de idas e vindas) também é demais, muito bem sacada! A fotografia é esplêndida, tem uma cena de aproximadamente cinco minutos só de plano geral numa praia, retratando bem as agruras de uma guerra.

Até a música é um espetáculo à parte: quando assistir (ou rever) repare no som da máquina de escrever intensificando determinadas cenas. Ótimo recurso narrativo, que além de envolver o espectador, o leva a descobrir os sentimentos da personagem Briony, conforme as batidas das teclas! O responsável pela suntuosa trilha sonora é Dario Marianelli, o mesmo de V de Vingança e de Orgulho e Preconceito - ambas também são ótimas.

Logo no início somos apresentados à aristocrática Briony (interpretada pela ótima Saiorse Ronan), uma adolescente que deseja ser escritora. Essa personagem, ao contar uma mentira grave, comete uma grande injustiça com quem ela nutria um amor platônico – Robbie, filho da governanta, interpretado convincentemente por James McAvoy. A mentira foi motivada por ciúme e vingança, após ela presenciar sua irmã mais velha, Cecilia (Keira Knightley), numa relação sexual com o tal sujeito. Aliás, não somente por isso, também por uma série de fatos em momentos anteriores. Como a cena que provocou desolação em Briony ao observar a irmã ficar praticamente nua diante do rapaz, após entrar numa fonte e de uma carta de Robbie endereçada a Cecilia que nunca deveria ter sido escrita. Aos poucos as situações se tornam caóticas. E é durante muitas dessas situações que a belíssima trilha sonora acentua a ira de Briony, permitindo-nos perceber o tamanho da imaturidade da garota, como se entrássemos na sua mente, sentindo exatamente o quanto ela distorcia os fatos, por pura paixonite. Porém, muitos outros elementos causariam os danos irreparáveis aos personagens, ao longo da narrativa.

Essa narrativa, inclusive, desprendida de ordem cronológica, é singular, muito bem trabalhada - como que esculpida - de forma genial pelo talentoso diretor Joe Wright, quando em determinados momentos nos mostra pela perspectiva da narradora e depois como os fatos ocorreram realmente. Outro recurso narrativo fantástico.

Para mim um dos maiores impactos emocionais do filme é provocado pela trilha sonora. Todo o resto também é impactante: o roteiro foi muito bem escrito, brilhantemente conduzido pelo diretor; a fotografia, principalmente no plano-sequência que voltarei a mencionar; a curta e espetacular interpretação de Vanessa Redgrave (no papel de Briony em idade avançada), fazendo sua personagem impressionar, tanto na conclusão do filme, como na conclusão dos atos da personagem [os fins justificam os meios?]. Ficção dentro da ficção. O final é surpreendente! O filme é indispensável.

Merecidamente o filme foi vencedor de diversos prêmios internacionais, como o Globo de Ouro de melhor trilha (uhu!!) e de melhor filme, além das indicações ao Oscar 2008 de melhor filme, direção de arte, figurino, roteiro adaptado, atriz coadjuvante para Saiorse (a pronúncia, se não me engano, é “sir-chah”, e significa “liberdade” para os irlandeses). Ah, levou a estatueta de melhor trilha sonora (uhuuuu!!!). Apesar dos outros concorrentes na categoria de melhor filme também serem ótimos, eu considerei Desejo e Reparação (Atonement, 2007) o melhor, o favorito.

Uma obra-prima do diretor Joe Wright, responsável pelo também interessante Orgulho e Preconceito. Acredito que logo voltarei a ver o nome dele em grandes produções. Tomara que logo ocorra - o público agradece.

Separei a cena que mencionei no início. Trata-se de uma referência à evacuação das tropas britânicas de Dunquerque, na França, na Segunda Guerra Mundial. Repare que a partir do momento em que os personagens estão na areia da praia, todo o restante foi gravado numa única tomada, em um único plano-sequência. É de se tirar o chapéu aos atores, ao diretor do filme e, principalmente, ao diretor de fotografia e ao responsável por ter segurado a câmera (se não foi o mesmo).

A cena tem seus momentos chocantes e de ironias, talvez por isso nem todos percebam a maestria dos profissionais envolvidos ou a grandiosidade da filmagem sem edição. Clique e absorva.

8 comentários:

Unknown disse...

Concordo em gênero, número e grau! Um dos melhores filmes que assisti na minha vida! E olha que coisa: vou pegar na locadora, correndo, porque eu não lembro direito da trilha sonora, só mesmo das teclas da máquina de escrever, mas não fiz essa associação com a menina. Passei batido nessa! Valeu pela dica. Abraços

Anônimo disse...

Não. Me recuso a clicar na cena do filme. Sou daquelas que querem indeditismo geral e irrestrito. Nem uma chispa. Mas você, Márcio, está me fazendo sair correndo de casa por pura dor na consciência, afinal fiz como você: numa visita à locadora, vi o filme na prateleira e lá o deixei. E agora, meu querido, será que o encontrarei inerte à minha espera no mesmíssimo lugar? Duvido.

Ana disse...

Não acredito que deixei de ver esse filme no cinema!!! Adorei Sangue Negro e não vi os outros concorrentes. E nem vi os comentários na época. Ainda bem que já foi lançado em dvd - vou correndo na locadora depois do meu trabalho, não sem antes pedir para reservar. Espero que me atendam!! E que tenha a sorte que vc teve!! rs Fiquei curiossíssima! Ao contrário da Paula, vi a cena que postou. Acho que não interfere em nada, e será ótimo rever. Tomei o cuidado de perceber que não houve cortes na edição. Acho que eu nem perceberia esse detalhe. Valeu, meu querido. Beijos

Marcello BBlanc disse...

ainda bem q entrei aqui hj! vou ver se encontro na locadora (correndo!! kkkk) vale muito a pena rever logo esse filme, muito bom mesmo!! o lance das teclas foi realmente coisa de louco (se vc não tivesse me falado disso na época, sei lá se ia fazer a ligação com a menina! rs). gostei dos outros concorrentes ao Oscar, o páreo foi duro meu amigo, pra mim, empate técnico! rs abraços

Anônimo disse...

já entroui na minha lista!!!
bju

Anônimo disse...

Esse filme é maravilhoso!! Assisti depois que via a indicação aqui! Valeu pela dica!! abraços
Samantha

Ká Sue disse...

Huuuuuuuuuummmm...quanta curiosidade vc despertou em mim,Márcio! A cena é realmente esplêndida. Valeu pela recomendação!
Bjão.

Unknown disse...

Olá Márcio!!!!
Na hora que conversamos sobre o filme, eu lçogo achei q fosse esse mesmo, mas não quis arriscar, adorei esse filme, perfeito....
Assista aquele que comentei com vc, "Quase Deuses", mto bom mesmo.
Ah!!!! Não poderia deixar de comentar sobre o seu blog, é perfeito, amei as fotos... PARABÉNS!!!!!
Um super beijo...
Alessandra